Saudade da minha cama

125 16 0
                                    


Os festejos duraram a noite toda. Eu me recolhi aos meus aposentos quando os raios de sol já pintavam o horizonte. Eu precisava de um tempo para minha cabeça parar de girar.

Os meus pensamentos são inquietos. Eles me negam a tranquilidade. Um homem com a minha idade já está desfrutando do aconchego dos braços de uma mulher e aproveitando o som dos pássaros do seu casebre.

Eu sempre soube que não fui feito para essa vida, e querê-la agora não fazia sentido algum.

Eu bebi mais rum do que o recomendado. Dancei com minhas mulheres e tentei fingir que o ocorrido com Maria não tinha me afetado. Mas é mentira! Eu sempre tive tudo que eu pudesse querer e Maria é uma prova viva dos meus caprichos.

Eu me apoio na mesa do meu quarto, coberta por papeis inúteis que mostram uma conspiração imaginária. Eu não tinha problemas, então decidi criar alguns. Eu estou convencido de minha loucura. Aperto meus olhos, tentando enxergar o óbvio. Esse é meu último ano no mar.

Escuto um bater na porta, o som ressoa pelo quarto, eu do a minha permissão para entrar. Imagino que Tavaras queira saber como eu estou, passar algumas informações sobre a tripulação e me lembrar que em três dias vamos chegar em casa.

Mas os passos não são de Tavaras. Eu franzo o cenho, tentando imaginar quem busca minha companhia essa hora?

Os passos são lentos, mas não retintos, não teme minha presença. O martelar dos saltos no chão, é uma mulher. Qual delas? Eu mantenho meus olhos fechados, esticando o momento por tempo suficiente até a voz doce e debochada chegar aos meus ouvidos.

- Meu Duque? – Maria me chama. Eu respiro aliviado, viro nos calcanhares e deito meu olhar sobre ela.
- Não estava esperando sua visita. – Eu digo, cruzando meus braços em frente ao peito. Maria não tinha buscado por mim durante o período em que fiquei recluso, até onde eu sei, não faço falta em seu cotidiano.
- Eu sei, peço perdão por ter vindo sem avisar. – O que aconteceu com Maria? Ela nunca pede perdão por nada. – Mas eu queria um momento com o senhor. – Ela caminha com mais pressa em minha direção. Minha curiosidade martela meu peito.
- Pois não, no que eu posso ajudar? – Eu pergunto, me recostando na mesa, ela sessa seus passos e me encara.
- Eu sei que o senhor não confia em mim. Suas damas também não. – Ela diz por fim e eu entendo sua inquietação. Eu reviro os olhos. Estico uma de minhas mãos e ela para de falar.
- É compreensível Maria. – Eu digo. – Você foi sequestrada e forçada a uma vida que você não escolheu, se eu estivesse em seu lugar, já teria planejado um motim ou colocado fogo em Teresa. – Ela arregala os olhos, eu estalo os lábios, ela sorri. – Não é para acrescentar isso em sua lista de ideias revolucionárias. – Eu digo por fim. Ela se aproxima, afasta os cabelos do meu rosto e me olha nos olhos.
- Eu senti falta do seu ceticismo. – Ela diz. Eu a encaro, procurando verdade em suas palavras. Eu tenho minhas desconfianças, mas não tenho evidências. Tudo que eu tenho contra Maria é um punhado de suposições. Eu seguro sua mão, ela reage ao toque. Eu viro sua palma na direção dos meus lábios e a beijo. Ela fecha os olhos e amolece. – Eu não posso gostar de você. – Ela fala em tom de súplica.
- E porque não? – Eu questiono.
- Você é o vilão. – Ela diz, eu sorrio. Sim! Eu sou o vilão. Eu a sequestrei, eu a mantive em cárcere, eu a sucumbi em uma vida ao qual ela não pode desejar ter filhos, uma casa, sua independência. Ela vai ser sempre meu brinquedo.
- Eu sou, e você está com saudade da minha tirania. – Eu digo, ela se aproxima e me beija, eu retribuo. Giro ela para o encontro da mesa, ela joga os papéis no chão. De costas para mim, eu puxo seu cabelo, beijo sua nuca desnuda e ela arfa. A giro de volta para encaixar seu corpo no meu. O impacto dos nossos corpos faz com que nossos sons saiam selvagens. Eu rasgo o decote de seu vestido. Ela senta na mesa e me encaixa entre suas pernas. Malditas sete saias que me separam de seu ventre.

Ela me beija com força, eu devolvo. Seus peitos expostos a meu deleite, escorrego o beijo até seus mamilos, ela arfa. Eu tiro minha camisa e jogo no chão do quarto, ela me puxa pelo cinto que prende minhas calças. Parece que qualquer centímetro entre nós deve ser preenchido com nossa existência.

Ela lambe meu peito e morde meu pescoço. Eu aperto suas coxas, ela trança as pernas na volta da minha cintura.

- Eu estou com saudade da sua cama. – Ela diz sem tirar os olhos dos meus. Eu a pego no colo e a levo para onde ela quer. A jogo na cama e começo a tirar meu cinto, ela observa sorrindo, deitada na cama se desvencilhando das saias do vestido. Eu deixo as calças caírem no meu tornozelo e engatinho sobre a cama até ela. Maria arranha minhas costas e braços enquanto eu encaixo. Empurro uma vez, ela ergue a coluna da cama, na segunda ela joga a cabeça para traz, na terceira ela me abraça e suplica por mais.

O dia está raiando lá fora, nosso desjejum ainda não foi servido, metade da tripulação está embriagada da festa de ontem e nós estamos vivendo.

Apenas isso.

Dando sentido a vida. Estamos: vivendo.

Maré BaixaOnde histórias criam vida. Descubra agora