Uma Nova Família

IV - Numb.

Estou cansado de ser o que você quer que eu seja
Me sentindo tão sem esperança, perdido sob a superfície
Não sei o que você está esperando de mim
Me pressionando para seguir os seus passos

(Linkin Park: Numb)

Aos poucos Clara começava a se adaptar à rotina da Mansão Luthor, embora estivesse ali há apenas uma semana.

Algumas coisas ainda eram inconcebíveis, como por exemplo, ter alguém para arrumar a cama. Não, podia fazer isso sozinha, qualquer pessoa podia e se recusava a permitir que alguém fizesse em seu lugar. Tal recusa fez com que alguns dos empregados deixassem a desconfiança de lado e passassem a olhá-la com curiosidade e depois com simpatia.

Era estranho ter sempre alguém por perto. Estava acostumada à solidão de seu apartamento, à independência, a um lugar pequeno e aconchegante. Pois, apesar de todo o luxo e o conforto que havia na mansão, não era nem de longe um lugar acolhedor.

Embora precisasse admitir que estar alí não era tão ruim quanto imaginava que seria. Estava mesmo surpresa com algumas mudanças, especialmente no que dizia respeito a seu irmão Lex.

Ele estava mais amável e compreensivo, não apenas com ela, mas com os outros também. Observava ele sempre que tinha alguma oportunidade, com curiosidade e até mesmo um certo orgulho: O irmão parecia feliz.

Sabia que o Doutor estava certo, todos mudam e felizmente a mudança de Lex foi para a melhor.

Um pequeno sorriso surgiu em seus lábios ao pensar em John. Ele foi uma grata surpresa que Smallville lhe trouxe.

Era um homem gentil e uma companhia agradável, estava sendo um bom amigo. Sim, pensava nele como um amigo, mesmo sabendo que ele talvez estivesse interessado nela de uma outra forma. Ou talvez estivesse errada e ele também pensasse nela apenas como uma amiga. De todo modo, não desejava pensar nele de outra forma. Não estava em seus planos começar um relacionamento romântico, mesmo que achasse o Doutor um homem atraente e interessante. E considerando o seu histórico de relacionamentos, era melhor que fossem apenas bons amigos.

No mais, precisava concentrar suas energias em ajudar o pai. Tinha consciência de que seria uma tarefa difícil, não apenas por ser uma situação complicada, mas também por Lionel ser uma pessoa difícil de se lidar.

Era bem verdade que ele estava se comportando bem nos últimos dias e até demonstrando um pouco mais de empenho em se adaptar à sua vida dali por diante, porém tudo poderia ser apenas uma encenação para demonstrar algo que ele não sentia: Lionel sempre foi um mestre em manipular.

Sim, não o conhecia e nem o compreendia e sabia que talvez ninguém o fizesse, talvez nem mesmo ele soubesse como realmente se sentia.

Houve uma época em que tal pensamento a faria se sentir irritada com ele, mas hoje, depois de ter visto a vulnerabilidade do homem - e esse sentimento sabia que era genuíno, pois ele nunca fingiria fraqueza - se deu conta de que ele, assim como qualquer pessoa, precisava de compreensão, de alguém para o apoiar.

Talvez tenha sido esse o motivo da mudança de Lex. Ter encontrado alguém que o compreendesse. Sabia que poderia estar sendo ingênua, mas decidiu que seria esse alguém para Lionel.

Se aproximou do quarto, observando o pai que segurava um jornal com uma das mãos e a outra usava para segurar o celular que passava sobre o papel enquanto a voz eletrônica de um aplicativo lia o que estava no jornal.

- Já se acostumou com a voz eletrônica?

- Não - ele respondeu colocando o jornal de lado -, e também não me acostumei com os erros desse aplicativo. Ele lê muitas palavras errado.