Capítulo XLIII - Bitter Sweet Symphony.

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Cause it's a bitter sweet symphony, this life
Trying to make ends meet, you're a slave to money then you die
I'll take you down to the only road I've ever been down

No change, I can change, I can change, I can change
But I'm here in my mold, I am here in my mold
But I'm a million different people from one day to the next...

(The Verve: Bitter Sweet Symphony)

Mais um aniversário. Mais um ano completado. Mais um, que ele passava sem ela...

Era esperado sentir-se mais nostálgico em datas assim - embora precisasse admitir que as suas lembranças, ultimamente, estavam sempre presentes.

Costumava passar os aniversários sozinho. Tendo como companhia apenas uma garrafa de whisky e o seu piano. Não fazia questão de comemorar, porque acreditava que não havia motivos para isso. No entanto, nesse ano, tudo seria diferente.

Tentou persuadir a Clara, dizendo que preferia passar a data com ela, mas a sua filha foi irredutível! Disse que era uma data importante, que devia ser compartilhada com pessoas próximas. No fim, ele desistiu da discussão. A Clara sempre conseguia o que queria dele, sem muito esforço.

Para fazer a vontade dela, ele aceitou o que ela planejou para o dia: um jantar para amigos. Era, no mínimo, estranho pensar sobre isso. Não conseguia definir se podia chamar alguém de amigo. Contudo, ele estava mais próximo de algumas pessoas, não podia negar.

A mudança que aconteceu em sua vida era quase inacreditável! De um ano para o outro, ele perdeu a visão e ganhou o afeto da sua filha e, por consequência, pessoas que ele poderia, com o tempo, considerar como amigos.

Ele estava mais feliz esse ano, admitia. E isso era, de certa forma, assustador. Da última vez em que se sentiu feliz, tudo começou a dar errado em sua vida.

Ele cometeu um erro atrás do outro. Fez escolhas que, até pouco tempo atrás, considerava como necessárias. Agora, no entanto, ele não tinha mais convicção.

Estava o tempo todo se questionando como seria a sua vida agora, se ele tivesse escolhido um outro caminho.

Ela ainda estaria com ele?

Era difícil dizer, já que a morte dela nada teve a ver com a separação dos dois.

Fato era que, de qualquer forma, ele teria mais lembranças com ela, se tivesse assumido para si que a Ellie era o maior tesouro da sua vida, que nada poderia substituir o que os dois tinham. Ele assumia isso agora, mas de nada adiantava.

Era atormentado por possibilidades. Por tudo o que não viveu com ela, por todas as noites que não passou ao lado dela, por todas as manhãs que não acordou e viu o rosto dela sorrindo para ele, como ela costumava fazer quando ainda era a sua Ellie.

Ele tinha muitas recordações dos momentos que teve com ela, mas não eram tantas quanto ele gostaria e saber que tudo aconteceu por escolha sua era o que mais doía.

Não estava mais conseguindo fingir que esse era um assunto superado. Ele não superou e, por vezes, não acreditava que seria capaz de superar algum dia.

Quando não conseguia suportar o arrependimento, ele buscava conforto em uma lembrança de algum momento feliz que passou com ela...

Ele saiu de casa bem cedo, a Ellie ainda estava dormindo. Desde que conseguiu um emprego numa importante multinacional, eles não passavam mais tanto tempo juntos e ele sabia que isso estava deixando a namorada triste.

Ele também não estava feliz, é claro. Gostaria de estar o tempo todo com ela. Mas ele precisava focar na sua vida profissional. Sempre foi seu objetivo ser bem-sucedido, ter sua própria empresa. Para isso, seria necessário fazer certos sacrifícios.

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