Uma Nova Família

Capítulo XXXIII - Oh, Darling.

Oh, darling
Please, believe me
I'll never let you down
Oh, believe me, darling
Believe me when I tell you
I'll never do you no harm...

( The Beatles: Oh, Darling. )

John não planejava ir à festa.

Já tinha dito à Clara que não iria, ela havia compreendido. Ele queria manter distância da Melody e, por consequência, do seu passado. Se convenceu de que o melhor era continuar fingindo que aquilo nunca aconteceu, que o homem que viveu em Gallifrey não era ele - e de certa forma, não era mesmo.

Logo a Melody deixaria Metropolis e, mais uma vez, não existiria nada que o ligasse ao passado.

Sim, a distância era a melhor saída que ele tinha.

Contudo, não conseguia esquecer o olhar triste da Clara. Ela contava com o apoio dele e ele fez uma promessa de que estaria sempre ao lado dela.

Movido por seu desejo de deixar a sua Clara feliz - era o que ele mais desejava - John pegou o convite da festa, que havia deixado esquecido num canto da sua casa, ligou para o hospital, trocou de plantão com um colega de trabalho, pegou o seu carro e dirigiu até o clube Às de Paus.

Demorou algumas horas para chegar em Metropolis. A festa já havia começado, chegaria atrasado, mas estaria lá.

De fato, chegou tarde, mas não se importou. Seu objetivo alí não era aproveitar a festa. Olhou para todos os lados, procurando por ela, já ansioso com a expectativa de vê-la. Clara, certamente, estaria linda, sempre estava.

No entanto, a sua ansiedade em vê-la foi substituída por um intenso sentimento de raiva, quando a viu dançando com o Bruce Wayne. Justamente aquele homem, a quem ele passou a detestar.

Como se não bastasse o Bruce ser o responsável por trazer a Melody de volta à sua vida, ele ainda estava demonstrando um grande interesse na mulher que ele amava.

Fechou a cara. Não era bom em esconder seus sentimentos, nunca foi. E, honestamente, nem desejava esconder. Estava com raiva e tinha direito de estar.

Ele observou, terrivelmente enciumado, os dois dançarem. Clara sorria, se divertindo com algum comentário feito por Wayne. Ela estava feliz com ele, nitidamente feliz.

Num determinado momento, Clara o avistou. Ela sorriu, mas John não retribuiu o gesto. Logo o sorriso dela foi substituído por uma expressão furiosa.

John não se deixou intimidar por isso.

Clara terminou de dançar a canção com o Bruce. John a conhecia muito bem para saber que ela precisava provar que era dona da própria vida. Ele poderia sentir admiração pela força de espírito dela, se não estivesse tão incomodado.

Depois que a música terminou, Clara caminhou até ele.

- John. - Ela falou, numa voz irritada. - Por que você está, aparentemente, com tanta raiva?

- Não é aparentemente. - Ele tentava controlar a voz.

- Você não tem motivos para isso.

- Ah, não? - Sorriu, irônico. - Além de vocês estarem dançando de um jeito bastante íntimo, esse homem não disfarça o interesse que tem em você.

Ele viu os olhos dela brilharem de fúria.

- O que seria dançar de uma maneira bastante íntima? - Replicou, levantando a voz. - Me explique!