Capítulo LIV - Ain't No Sunshine.

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Ain't no sunshine when she's gone
It's not warm when she's away
Ain't no sunshine when she's gone
And she's always gone too long
Anytime she's goes away

Wonder this time where she's gone
Wonder if she's gone to stay
Ain't no sunshine when she's gone
And this house just ain't no home
Anytime she goes away...

(Bill Withers: Ain't No Sunshine.)

Ele a deixou partir. Poderia ter tentado convencê-la a ficar e muito provavelmente seria bem-sucedido, mas não o fez.

Ele permitiu que ela fosse.

No fundo, sabia que fez o correto, porque a Clara precisava desse tempo. Ela não aguentaria o peso da decepção, tanto com o pai, quanto com ela mesma, se continuasse em Smallville.

A distância daquilo tudo a faria refletir melhor sobre a situação e, principalmente, sobre o que ela desejava fazer. Se iria recomeçar na América, ou se ficaria definitivamente na Inglaterra.

Contudo, essa consciência não diminuía a sua dor e uma pequena amargura que se formava em seu coração.

Sim, porque ele se sentia injustiçado. Finalmente tinha encontrado o amor, quando julgou que não era mais possível que isso acontecesse, e agora ela havia partido, sem que ele lutasse para impedir.

Ele era todo contraditório, nesse momento, enquanto encarava a sua mão, observando a aliança que usava, o símbolo do compromisso que eles tinham, o símbolo da promessa de que ele esperaria por ela e ela por ele. Cumpriria o que prometeu, e tinha certeza que a Clara faria o mesmo.

A sua única certeza, era a sinceridade dos sentimentos da Clara por ele e isso lhe dava alguma esperança, no meio de tantas decepções.

Era triste, ainda assim.

Tudo desmoronou em sua frente, sem que ele pudesse impedir.

Acreditou, durante tantos meses, que seria ele o responsável por partir o coração da Clara, com seu passado sombrio. No entanto, ela o compreendeu, sem palavras falsas, mas com imenso amor.

Se isso lhe dava algum alívio? Honestamente, não.

Se fosse ele o causador da dor dela, ele iria até o fim para consertar as coisas, se redimir do seu erro e trazer a Clara de volta para a sua vida.

Mas essa missão não cabia a ele e isso era frustrante.

Nunca negou para si o lugar que ocupava na vida da Clara. Sabia que o coração dela era dividido entre ele e o Lionel. Ela ficou em Smallville graças aos seus conselhos, mas foi pelo pai que ela tomou a decisão.

Ela deixou sua vida em Londres para trás, porque o pai precisava dela e agora deixou a vida que poderia construir no Kansas, porque não conseguiu suportar o rompimento com ele.

John balançou a cabeça. Não queria ceder à amargura. Poderia ser triste, mas não admitiria ser amargo.

Não culpava o Lionel pelo que aconteceu. Quem era ele para julgar os erros que alguém cometeu no passado?

No mais, também estava preocupado com ele. Tinha afeição pelo homem, conseguia enxergar a fragilidade que existia por trás daquela superfície implacável.

Tinha certeza de que ele estava bem pior do que a Clara. Afinal, diferente dela, ele não podia contar com o amparo de alguém. Por escolha dele, mas ainda assim era triste pensar nele. John conhecia muito bem a sensação da solidão.

Os dias seguintes passaram tranquilos, sem novidades, cinzentos.

Era verão, pelo que o clima no Kansas era quente, quase ao ponto de ser desagradável, principalmente no período da tarde. Mas ele não se importava. Gostava do verão, sempre se sentia contagiado pela energia que a estação trazia.

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