V - Noctume op. 9 No. 2

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"Gostaria de poder jogar fora os pensamentos que envenenam minha felicidade. E, mesmo assim, sinto certo prazer em ceder a eles."

Frédéric Chopin

Conseguiu chegar até o jardim da mansão sozinho. Sentia-se orgulhoso pelo feito, como se houvesse fechado um grande negócio que renderia milhões à LuthorCorp. Não podia nem dizer que era um fato estranho, pois a sensação que tinha era de algo inimaginável. Era como se fosse uma criança outra vez dando os primeiros passos. Senta orgulho por conseguir se locomover sozinho por sua casa, mas ao mesmo tempo sentia revolta por estar nessa situação.

Não era religioso, portanto nem podia dizer que estava sendo castigado por seus pecados - e tinha tantos. Talvez, se acreditasse em Deus, fosse mais fácil aceitar. Tal pensamento lhe causava aversão. Nunca foi religioso porque nunca aceitou ter sua vida ditada por quem quer que fosse, mesmo uma criatura divina! Fazia as regras, dizia o que era pecado ou não. Jamais permitiria que outros o fizessem.

O que aconteceu foi uma fatalidade, nada tinha a ver com algum castigo divino.

E sim, havia cometido muitos pecados ao longo da vida. Tinha consciência disso, tinha sua concepção sobre o que era certo e errado, não era completamente desprovido de senso de moral, como alguns pensavam, embora por muitas vezes tenha se esquecido do próprio senso de ética por um bem-maior.

Se havia algum arrependimento? Sim, havia. Mas, não pensava sobre. Apenas em momentos onde se sentia vulnerável, momentos raros antes do acidente, mas que agora surgiam com uma certa frequência, maior do que ousava admitir.

Clara era uma de suas fraquezas, sempre foi. Por essa razão manteve uma certa distância dela. Não por indiferença, como ela acreditava, mas por excesso de sentimento. Ela o fazia se lembrar de algo que perdeu e que nunca poderia recuperar. Ela o fazia se sentir arrependido da escolha que fez.

Contudo, a despeito do conforto que a distância trazia, desde que ouviu a voz dela no hospital não se importou mais em se sentir vulnerável, em reviver lembranças que há muito estavam adormecidas, contanto que ela estivesse perto.

Já tinha se esquecido da sensação de ser amado, verdadeiramente amado. Receber afeto, compreensão... Passou tanto tempo se convencendo de que estava melhor sem amor, pois amor é, de certa forma, fraqueza, que acabou se esquecendo de quanta falta o amor lhe fazia.

Amava Clara e sabia que ela também o amava, mesmo que ainda não soubesse disso. Havia muita mágoa impedindo-a de perceber. Teria que percorrer um longo caminho, até que ela acreditasse na sua sinceridade.

Deu o primeiro passo para isso. Tornou público o parentesco entre eles. Agora, todos sabiam que tinha uma filha da mesma idade de Lex.

Esperava uma reação negativa por parte de Clara. Em parte porque ela sempre deixou claro que gostaria de continuar sendo apenas Clara Oswald - embora soubesse que ela no fundo desejasse se sentir parte da família - mas principalmente porque ela não aprovaria a maneira como contou a história.

Seu pressentimento se confirmou quando ouviu passos apressados em sua direção.

- Você poderia me dizer o que significa isso? - ouviu Clara perguntar enquanto percebia um jornal ser colocado em sua mão sem qualquer traço da gentileza típica dela. Soube que ela estava realmente nervosa.

- As pessoas estavam começando a comentar sobre você ser minha filha e criando histórias mirabolantes para explicar a sua aparição tardia em minha vida. Algo precisava ser feito.

- Qualquer história que pudessem criar seria menos absurda do que essa estampada no Planeta Diário!

- Não é absurda. Na verdade é uma história bastante comum. E não está tão longe da realidade, considerando que você sempre preferiu o anonimato.

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