Capítulo XIX - Black.

61 10 100
                                    

Sheets of empty canvas
Untouched sheets of clay
Were laid spread out before me
As her body once did

All five horizons
Revolved around her soul
As the earth to the sun
Now the air I tasted and breathed
Has taken a turn

Oh, and twisted thoughts that spin round my head
I'm spinning, oh, I'm spinning
How quick the sun can drop away?

And now my bitter hands
Cradle broken glass
Of what was everything
All the pictures have
All been washed in black
Tattooed everything
All the love gone bad
Turned my world to black
Tattooed all I see
All that I am
All that I'll be...

( Pearl Jam: Black )

Os domingos, desde que a Clara chegou à mansão, não eram mais dias em que ele se sentia solitário, uma vez que não podia contar com a sua usual válvula de escape: o trabalho.

Agora, ele passava os finais de semana na companhia da Clara. Se surpreendia ao pensar que o dia que ele considerava como, dispensável, agora era o mais aguardado por ele.

A Clara era a alegria da sua vida, a única alegria verdadeira. A satisfação que encontrava no trabalho não era nada comparada com a felicidade que sentia quando estava com ela.

Sabia que estava se tornando cada vez mais dependente dela e isso era assustador.

Contudo, ele chegou à conclusão de que não havia nada que pudesse fazer a respeito e, sendo honesto, mesmo se houvesse, ele não faria. Não gostava de não estar no controle, mas a insatisfação era compensada pela felicidade que a Clara trazia para ele.

Tinha consciência de que ela era a única pessoa que verdadeiramente o amava, assim como sabia que o seu amor era oferecido somente a ela. A Clara era a única pessoa por quem ele estava disposto a colocar a felicidade acima das suas convicções. Ele sentia que era capaz de fazer tudo para que ela fosse feliz.

Nunca imaginou que pudesse sentir algo assim outra vez...

No entanto, aquele domingo, nem a companhia dela ele desejava.

A única companhia que ele queria por perto era a do seu piano - ele não fazia ideia de há quantas horas estava alí, movimentando os dedos sobre as teclas do instrumento, tocando canções que despertavam lembranças boas e ruins.

Ele sabia que a Clara também desejava a solidão. Era uma data difícil para os dois. Talvez ela estivesse com o Doutor, gostaria que ela estivesse. Ela sempre ficava feliz quando o John estava por perto.

Não queria pensar que ela estava tão triste quanto ele.

Era sempre uma data difícil, mas naquele ano, estava sendo ainda mais difícil de suportar. Talvez fosse a sua aproximação com a Clara. Antes, ele tinha mais força para lutar contra os sentimentos de tristeza e frustração, agora, o amor que sentia pela filha, tornava os sentimentos, todos eles, difíceis de serem controlados, escondidos, dos outros e dele mesmo.

O arrependimento, que antes ele mantinha sob uma superfície de convicção e indiferença, agora estava sempre lá, mesmo que ele tentasse mantê-lo afastado.

O pior era saber que mesmo existindo o arrependimento, ele ainda seria capaz de fazer a mesma escolha que fez há tantos anos atrás.

O egoísmo fazia parte da sua natureza.

Não era digno do amor da Clara, assim como não foi digno do amor da Ellie.

Mudou para uma canção do Chopin. Não conseguiria fugir das lembranças. Decidiu sucumbir de vez a elas...

Uma Nova FamíliaOnde histórias criam vida. Descubra agora