Como a primeira vez em que o mundo viu O Símbolo da Paz em pé, de mãos erguidas assegurando que estava tudo bem porque ele estava ali, o mundo se silenciou. Porém, desta vez, o silêncio não veio seguido de gritos eufóricos e aplausos. Muito, muito pelo contrário.
Naquela manhã, o relógio já marcavam oito horas e o Sol ainda não havia feito questão de sair de detrás das nuvens. Alessa despertou num dia abafado, porém, tão nublado quanto silencioso.
As nuvens carregadas deixavam parecer que não era dia, e o barulho do labor cessado deu uma ingênua sensação de reconforto. Já havia mais de quatro horas que ele saiu, e ela sequer o viu ou ouviu de madrugada.
Às 08:13 da manhã, as pantufas de Alessa dão um brilho extra pro chão de assoalho, arrastando-se preguiçosamente para a frente do fogão. Manualmente, a italiana passa seu café, e sentindo uma brisa suave que vem da janela silenciosa da cozinha, ela suspira, passeando seus olhos pela rua vazia do outro lado.
Quando o café está pronto, Alessa o põe na mesa junto de algumas coisas nutritivas que ela achou no armário da cozinha. E a verdade é que ela não conseguiria sobreviver muito tempo em Tóquio, porque tudo ali, parece simplesmente impossível de engolir. Claro, Alessa abre um bloco mental de anotações, e escreve em sua mente que precisava falar com Bakugou quanto a isso. O contraste gritante da culinária italiana para a japonesa. Ou até mesmo a americana para tal.
Mas, enquanto os minutos passam vagarosamente, a Andolini mexe em suas coisas e tirando alguns utensílios de higiene de sua mochila, ela os põe junto das coisas de Katsuki.
Um sorriso totalmente involuntário e idiota se entreabre no canto de seus lábios quando ela percebe que, definitivamente, estava juntando suas escovas de dentes.
Depois disso Alessa deixa o banheiro, e pegando a segunda caneca de café, ela senta-se no sofá da sala, de frente para a televisão desligada e enfim, repara: havia algo estranho, muito estranho, no silêncio melancólico daquele dia esquisito.
Porém, ela estava quase atrasada para a entrevista com a secretária de Veena. Alessa toma vinte e cinco minutos para se arrumar. Toma seu banho, ajeita o rosto, se veste e ajusta a prótese em seu joelho enquanto chama um carro de aplicativo.
No carro, o motorista não lhe deu um bom dia, nem o prédio disponibilizava de funcionários na recepção. Ou no saguão. Ou no andar inteiro onde a Todoroki havia dito que seria a entrevista.
Apenas dez minutos depois de estar perdida ali, Alessa encontra alguém.
─ O-oi... Bom d─ a fala morre entalada na garganta quando o homem a encara atônito em aparente agonia.
Faz a italiana engolir em seco, sentindo o coração acelerado e as mãos suadas.
─ Onde... estão todos os heróis? ─ pergunta ela, receosa sem saber se aquele homem de fato a ouvia.
Entretanto, ele a escutou. E encarando uma televisão desligada, Alessa percebe sua dificuldade psico-emocional de verbalizar qualquer que seja a informação.
─ Todos os heróis estão lá... ─ o tom de voz do homem faz o sangue congelar nas veias dela. ─ Mas mesmo assim ele morreu... Mesmo com todas as nossas forças... Eles o deixaram ser derrotado...
Alessa engole em seco, não entende bem a que o homem se refere então pergunta:
─ Do que o senhor está falando? Quem... morreu?
💥kԹԵՏ💥
Não era quatro horas da madrugada e o telefone corporativo de Katsuki o despertou, desfazendo preguiçosamente o emaranhado dos dois corpos que mal se aconchegaram à noite, logo, desprenderam-se.
Bakugou custou a atendê-lo, antes disso, silenciou a chamada para não acordá-la.
No ombro alvo e despido, marcas que o sono não havia lhe deixado perceber. Arranhões, e pequenos hematomas tão verdes e rosas que se davam pra ver quase curados. E então, apenas para incentivá-lo a se levantar já possesso de ódio, Bakugou afasta um pouco as cobertas de Alessa, expondo sutilmente, agressões de cinto, mordidas enraivecidas, talvez até beliscões...
No entanto... o telefone continua tocando.
Katsuki afasta o lençol que os cobre, e levanta -se sem despertá-la. Havia ainda uma hora pra que ele dormisse, por que diabos Aizawa o ligava antes do expediente?
─ Ah? ─ atendê na sala, o cenho já carrancudo querendo explicações.
─ Bakugou ─ era Endeavor. Bakugou franze o cenho ainda mais. ─ Venha para o hospital central.
E sem que o garoto que lhe tirou o fardo de ser constantemente comparado a um vilão pudesse responder, o avô de Winry desliga.
Faz Bakugou vestir o uniforme depois de lavar o rosto e escovar os dentes. Porém, antes de sair, ele precisou se curvar sobre ela.
Bakugou deixa um beijo demorado na cabeça dela, cobrindo-a com mais precisão antes de sair. Ele verifica se todas as janelas estão fechadas e tranca a porta da frente, deixando a chave com ela ao deslizá-la pela fresta debaixo da porta.
Quando chega no lugar indicado por Endeavor, a pressão esmagadora e angustiante do hospital o faz arrepiar. Porém, tudo o que se ouvia eram os passos pesados do herói que parou em seguida, encarando outros 30 - ou 40 - heróis.
Bakugou engole em seco.
A fileira de colegas parecia criar uma barreira humana em frente à uma sala de emergência. E aquele silêncio doloroso não era nada perto da notícia que explodiu o chão sob seus pés:
─ All Might... ─ Bakugou prende a respiração.
Os olhos escarlates se fixam aos esverdeados de Midoriya.
─ .... Está morto!
💥kԹԵՏ💥
A verdade é que, mesmo que seus senpais tentassem consolar toda aquela geração de heróis, todos aqueles jovens pareciam absortos demais nos próprios pensamentos para se deixarem chorar, gritar ou extravasar de raiva ou frustração.
Bakugou finalmente se sentou, há algumas cadeiras de onde Midoriya tinha a expressão tão vazia quanto a dele.
O quê seria de nós agora, e o que aconteceria nas próximas horas. Uma guerra? Um dia inteiro de luto? Uma semana, talvez um mês. O Japão estaria assim tão vulnerável? Ou os vilões se esconderiam com medo de a ética heróica ter morrido junto com o Símbolo? ─ eram essas questões que se passavam nas cabeças de todos.
Bakugou, no entanto, queria ir para casa.
Pensou que talvez fosse melhor dar as costas aquele corredor melancólico de heróis, e ir ajeitar as coisas com Alessa, preparando tudo para o funeral do seu herói.
E então, quando ele não conseguia se decidir, seu telefone toca.
Todos os heróis esperando ansiosa e angustiantemente pelo primeiro sinal de vilania...
Katsuki leva ao menos trinta segundos para tirá-lo do bolso, e não lê o nome da tela antes de atendê-lo, sem uma palavra sequer.
Havia esquecido que se precisa dizer "alô", talvez.
─ Kacchan.... ─ seu cérebro afetado leva ainda mais do que trinta segundos para reconhecer a voz de Alessa.
E erguendo os olhos vermelhos, ele percebe que aparentemente todos ali, atendiam alguma ligação... ou faziam as suas.
Isso faz ele se ater ao chamado de Alessa, sussurrando:
─ Onde você está? ─ o coração se contrai, ouvindo uma respiração pesada do outro lado, ela sequer precisa falar mais alguma coisa pra Bakugou se erguer, percebendo que a vontade de estar com ela o afetou ao ponto de confundir sua voz. Apesar da chamada ser de Alessa, era sua mãe quem lhe pedia ao telefone:
─ Filho, não venha para cá.
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Katsuki Bakugou ─ Explosivo 2
FanfictionHá sete anos que Katsuki se despediu daquela italiana. E sete anos depois dela, não havia mais nada que ele pudesse desejar. A carreira dos sonhos, sua casa, fama, dinheiro. Bakugou tinha tudo e não sabia que ainda a queria - e queria explosivamente...