A luz da Lua prateada se esconde sob nuvens cinzentas e carregadas de singelos relâmpagos que cortam o céu, evidenciando, no magnetismo doloroso que exerce sobre a prótese de Alessa, a tempestade desastrosa que estava por vir.
Os olhos castanhos parecem entorpecidos, caídos, Alessa precisa erguer toda a cabeça para - minimamente - conseguir olhar em volta, naquele quarto tão familiar.
Tudo ali tinha a cara de Bakugou. Os móveis em madeira escura, o tapete cinzento, com cortinas pretas e um jogo de cama liso. Quadros de bandas, baquetas, uma bateria no canto, guiando os olhos dos visitantes para um boneco totalmente indiscreto de All Might. No entanto, o que mais a faz sofrer, com vontade de trancar a própria respiração para sentir é que, apesar do tempo não usado, ainda estava ali, impregnado, o cheiro puro dele.
E chegando como uma onda desgastante de desespero, junto com o barulho estrondoso do primeiro raio, e o som oco das primeiras gotas nas janelas, a dor. Uma aguda e tortuosa dor que se alastra das pernas à coluna, da coluna à cabeça. Tudo parece querer explodir.
Quando o choro se forma dentro de si, a mulher imediatamente o engole, suaviza o próprio cenho para receber a mãe de Katsuki que bate duas vezes - suavemente - à porta.
─ Com licença, querida ─ diz a mulher, entrando no quarto com alguns roupas de cama dobradas e sobre elas, suas próprias roupas. ─ Você vai me dar o prazer de rever minhas blusas preferidas sendo usadas depois de que ganhei aquele mala ─ fala. ─ Eu engordei tanto na gravidez do Kacchan que nunca mais pude usá-las - sorri, deixando no pé da cama que costumava ser de seu filho.
─ O-obrigada... ─ sopra ainda muito incomodada com a idéia que grita dizendo que ela está apenas abusando do bom coração daquela mulher.
Antes que Alessa pudesse protestas, Mitsuki passa o braço por sua cintura, puxando-a da cadeira de rodas. Apoiada na mãe de Bakugou, Alessa geme um som dolorido, apoiando a perna direita no chão para sentar-se da cama.
E sem que a européia pudesse dizer qualquer coisa, Mitsuki ergue sua blusa, deixando-a apenas com roupas íntimas. Os olhos castanhos se erguem imediatamente para o rosto perfeito da mais velha quando um som sarcástico deixa, involuntariamente, a garganta da sra. Bakugou.
─ Não é nada com você ─ Mitsuki diz, simplória. ─ Mas é relativamente satisfatório entrar aqui por uma boa causa depois de todos aqueles meses tentando tirar Kats do quarto.
Alessa ergue uma sobrancelha, confusa.
─ Você não sabe? ─ ri. ─ Foram meses de gastos excessivos com incensos e essas coisas que tiram energias negativas dos lugares. Ele parecia um merda, viciado em escrever cartas e mandar o coitado do Kiri entregá-las aos correios...
Alessa engole em seco, só agora conseguindo visualizar Bakugou deitado de bruços naquela cama, pensando nela tanto quanto ela estava pensando nele.
─ Me... desculpe... ─ cochicha, encolhendo um pouco os ombros nus.
─ Pelo quê? ─ Mitsuki dá um peteleco na testa de Alessa, a faz emitir uma careta. ─ Eu disse que foi sua culpa, por acaso?
─ Não... mas...
─ Não tem "mas" ─ corta. ─ E vá logo para o seu banho... ─ se ergue da cadeira ali perto, direcionando-se à porta, só para ao encarar Alessa para lhe dizer: ─ ... que eu não vou ajudá-la em coisas que você pode fazer sozinha, afinal de contas, você é uma vadia independente, não é?!
Apesar de rude, Alessa entendeu perfeitamente o que Mitsuki-sama quis dizer.
Por isso, caminhando vagarosamente para o banheiro, sentando-se numa banqueta posta ali para ela, e deixando a água escorrer, ela deixa as lágrimas quentes também se jorrarem. Quase, quase ofuscando um sorriso mordido pela feição liberta, constatando, enfim, que tudo aquilo acabou. E no fim, ela não precisava ter dependido tanto assim de Vito.
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Katsuki Bakugou ─ Explosivo 2
FanficHá sete anos que Katsuki se despediu daquela italiana. E sete anos depois dela, não havia mais nada que ele pudesse desejar. A carreira dos sonhos, sua casa, fama, dinheiro. Bakugou tinha tudo e não sabia que ainda a queria - e queria explosivamente...