"Foste fantástica!" As pessoas por quem eu passava diziam. Eu quero sair daqui, preciso de sair daqui. Não gosto nada quando exponho o que sinto em frente aos outros. Nem sei porquê que subi aquelas escadas. Eu fico sempre assustada com estas coisas. Lembro-me bem quando toquei a primeira vez em público. Aquele dia em que eu e o Harry estávamos sempre a cruzar-nos. Ele e o meu querido patrão eram as únicas pessoas que me ouviram diretamente. Quando tocava em casa, não sabia ao certo se alguém estava a ouvir, naquele momento sim. O Harry foi das primeiras pessoas aqui que me ouviu tocar e acreditou em mim para cantar aqui, em frente a todos os seus amigos e familiares.
"Tira-me daqui." Pedi assim que o encontrei na multidão.
"Passa-se algo? Alguém se meteu contigo?"
"Tira-me daqui. Por favor." Pedi olhando-o nos olhos. Ele assentiu largando a bebida que estava a beber anteriormente. Pegou-me pela mão firmemente e tentou tirar-me dali. Eu tenho uma pressão enorme no peito. Tenho de sair daqui imediatamente. Parece que vou sufocar com a informação toda que tenho para gerir.
Corri com atrás de Harry até ao seu jipe. As pessoas olhavam-nos de maneira estranha. Parece que sou um bicho raro. O rapaz abriu-me a porta e eu corri para o interior. O vestido é a coisa mais idiota que poderia ter no corpo neste momento. Só estorva.
Assim que ele entrou para o carro, logo acelerou para fora do local. Conseguia notar na tensão do seu maxilar. Aliás, todos os seus músculos estavam tensos e a maneira como as suas mãos estavam a apertar o volante mostrava que eu o tinha irritado. Encostei a minha cabeça ao vidro vendo gotas fazerem corridas por ele. Uma lágrima escapou pela minha cara à semelhança do que se passava no vidro.
"O quê que se passou ali?" ele finalmente fala num tom abafado. "Por mais que dê voltas à cabeça não consigo entender como é que mudaste tão rápido de humor." Ele reforça. "Fala comigo!" ele começa a ficar irritado. Nada respondi. Eu não sei o que dizer. Nem sei se alguma palavra de jeito sairia da minha boca neste momento. O quê que vou dizer: olha Harry ouvi a tua conversa com o Zayn e ouvi outras coisas sobre ti que me fazem pensar que escondes algo de mim e por isso não consigo confiar em ti. Isso seria tão idiota.
"Para o carro!" Grito quando chegamos perto de um campo. Eu preciso de correr.
"O quê?" ele travou de repente assim que percebeu o que eu acabara de dizer. O carro destrancou automaticamente, tal como a minha mão se moveu ao puxador da porta.
Eu não confio na pessoa com que vivo. Essa é a a única certeza que tenho e talvez a que e me faz sentir idiota. Como é que eu aceitei viver com uma pessoa que não conheço? É preciso ser muito estúpida.
A porta abriu num reflexo rápido fazendo-me saltar. O meu coração começa a acelerar mais conforme aumento a velocidade ao longo do relvado. Chovia imenso cá fora mas eu precisava de despejar toda a raiva e mágoa que tinha no peito. Mágoa por culpa de tudo o que tenho vivido, raiva de mim por ser tão fraca.
"Julianne!" Harry gritava enquanto corria atrás de mim. Por momentos, aqueles passos e aqueles gritos me fizeram lembrar o rapaz da mota e as minhas fugas dele. "Julianne, por favor, para. Deixa-me ouvir-te." ele pede e abranda o passo. Eu vou correndo no mesmo ritmo até que a falta de forças me impede de continuar. Ou isso, ou a voz delicada e frágil do rapaz namoradeiro que gritava por mim.
Deixei as minhas pernas falharem caindo sobre elas. A minha roupa colava ao corpo e as minhas lágrimas pararam de jorrar. Já não tenho controle sobre mim mesma. Estou capaz de explodir neste preciso momento. O meu punho aterra no chão violentamente acompanhado de um grito de escapou da minha boca. Parecia um grito de choro, mas não era só isso. Era o grito de quem pede paz, liberdade.
"Julianne!" Ele chamou de novo. De nada serviu, simplesmente petrifiquei entre a grama molhada. Sinto o seu corpo a aproximar-se lentamente. Eu sei que estava a estudar os meus movimentos para saber como reagir, ele é muito assim.
"Vai-te embora!"
"Mas tu és idiota?" Ele grita de volta. "Aqui não há nada! Podias ter-te magoado seriamente com isto." ele está chateado. "Tens outras maneiras de resolver o que sentes."
"Sai daqui!" Tento reforçar.
"Eu não vou a lado nenhum enquanto não me explicares isto."
"Harry, faz o que eu te disse."
"Tu não mandas em mim, sabes bem disso."
"Pareces um miúdo de 5 anos." Virei-me na sua direção.
"Olha quem fala. Tu pareces louca."
"Eu aturo-te bêbado, não te esqueças." Vejo mágoa no seu olhar.
"Sabes porquê?"
"O porquê de beberes? " tento acalmar-me.
"Sim!" ele berra.
"Nunca me contas e eu apoio-te."
"Para dele atirar com isso à cara." ele passa a mão pelo cabelo violentamente.
"Simplesmente vai embora."
"Eu posso ir embora. Pego no jipe e faço-o sem problemas. E tu? Vais ficar aqui?"
"Eu fico em qualquer lado."
"Mas não ficaste na festa!"
"És um idiota!"
"Já me disseste isso, agora vê se cresces e paras de fazer isto tudo."
"Porquê que não vais?"
"Devo-te uma. Eu prometi a mim mesmo que o faria."
"É por isso?" olhei-o com desprezo. "Então ficas a saber que não quero que me pagues esse favor. A vida não é feita disso!"
"Então é feita de quê?"
"De sentimentos!"
"Vá lá. Julianne. Tens a certeza que queres falar de sentimentos com o player da região?"
"Tu não és assim!" gritei assim que ele tentou virar as costas. "Tu és compreensivo e sempre tentas fazer-me sorrir. Tu não admites, mas tens sentimentos."
"É por isso que bebo! " ele confessa olhando-me nos olhos. "Eu ganhei sentimentos por alguém que magoei da forma mais terrível que alguém pode magoar alguém." e voltou o Harry frágil.
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The Girl behind the Mask ✗
Teen FictionEscolhas. Talvez a coisa mais dura que fazemos na nossa vida. Eu fui uma escolha dos meus pais, e isso demonstra quanta responsabilidade cai sobre os ombros de quem escolhe. Estaria aqui a tentar explicar o porquê das escolhas serem tão duras, mas s...