Capítulo 49 ~ P.O.V. Harry I

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Quando ela saiu do meu carro a correr, percebi que tinha estragado mais alguém. Quebrei viárias pessoas no meu passado, mas não podia quebrar aquela miúda. Ela era a minha coincidência, a nova oportunidade que pedira a Deus para remediar tudo e ser feliz. No momento em que vi o seu corpo partido cair no chão, percebi que tinha deitado fora a minha oportunidade. Eu já não sabia como lidar com as suas rejeições, medos, fúrias e raivas, no entanto não ia mover o pé dali sem ela. Ela é diferente. Podia ter desistido, mas ela cativou-me a ficar. Podia ter ido embora de vez, mas fiquei com ela, por ela. O meu coração quebrou completamente quando ela decidiu tirar a máscara para mim. Todo aquele discurso, todas aquelas palavras ainda ecoam na minha cabeça.

"Posso ser uma idiota por contar isto a uma pessoa que me acha anormal e em quem não devo confiar, mas eu tenho pânico. "

"Então agora deves perguntar-te, porquê que ela me apoia mesmo não gostando do estado em que chego a casa? E eu respondo-te, porque acredito em ti, acredito que consegues ser mais forte que esses teus hábitos e lutares contra eles."

"Eu acredito em ti porque acredito que tens provas diárias para desmentir tudo o que tenho ouvido sobre ti e que me faz duvidar."

"Queria poder consertar o boneco estragado que havia nele. Eu tento diariamente o mesmo contigo. Não porque estou apaixonada, apenas porque preciso de consertar alguém já que eu fiquei sem conserto."

Todas aquelas lágrimas que se misturavam como gotas de chuva no seu rosto de porcelana, fizeram-me pensar melhor e insistir. Ela estava quebrada e queria consertar-me a mim. Pode não parecer, mas para mim é grandioso.

O meu coração doía quando ela finalmente decidiu fazer as perguntas. O que me doía mais é que não conseguiria evitar que ela fosse embora. Queria dar-lhe uma resposta mas nada do que dissesse seria o suficiente, naquele momento. Sou cobarde por não lhe conseguir contar os meus segredos. Ela merece saber com quem está a lidar. Ela merece saber do meu passado antes que este continue a afastá-la de mim. Eu não estou a dizer que estou perdidamente apaixonado, mas ela tem algo cativante na sua maneira de ser. Vê-la partir naquele carro fez-me pensar nisso mesmo. E agora estou aqui, em frente à porta de casa na esperança que ela volte e me perdoe por algo que ainda nem ela sabe.

O táxi já saiu há mais de uma hora. Fico a pensar no que ela possa estar a sentir neste momento. Não a acho normal, nem patética ou louca. Ela é um ser divinal que nunca vou conseguir perceber. A verdade? É que já estava a habituar-me ao cheiro a flores na casa de banho, ao cheiro de torradas ao acordar e ao cheiro do seu cabelo quando esvoaça pelo ar enquanto ela anda, corre ou fala.

Abri a porta do seu quarto. Talvez não fizesse mal dormir aqui. Eu já não sei como descansar. Ontem, por esta hora, ela estava a dormir do meu lado. São 3 da manhã. Belas horas para chegar a casa Julianne Sophie. Imagino a sua mãe resmungar. Se for como a avó, porque a Julianne comentou haver parecença, ela o diria de certeza.

Sentei-me na cama branca. Imaginei que ela gostaria da cor. Ela adora o branco e pedi à minha irmã que escolhesse a mobília segundo esse gosto. O quarto não é grande. Antes pelo contrário, aqui cabe metade do meu quarto. No entanto, ela nunca se queixou. Aliás, ela tem razão. Ela nunca se queixa de nada e é quem faz tudo cá em casa. Acho que tenho de me esforçar mais. Eu sei fazer algumas coisas, mas acho que tenho de aprender mais. Afinal, dividir a casa também pressupõe dividir tarefas. Agora que penso nisso, como é que ela arranja tempo para estudar? Eu tenho sido um egoísta.

Tirei a roupa e arredei os lençóis da cama. Assim que me aconcheguei, olhei o teto. Estrelas? Ela tem estrelas coladas no teto do quarto e agrada-me a maneira como reluzem no escuro. Faz-me lembrar do céu estrelado das noites de verão. Tal como ela sobressai em todo o lado.

Assim que o meu olhar encontra a mesa de cabeceira, consigo reparar que esta tem a última gaveta mal fechada. Tento aguentar-me para não a abrir. Eu consigo muito bem ficar quieto sem a abrir. Todos sabem que não sou capaz disso, quem é que estou a tentar enganar?

Debruço-me sobre a cama e abro a gaveta bem devagar. A gaveta é quase um canto de perdidos e achados. Nunca vida tanta variedade de coisas num local só. Duas coisas me saltaram à vista. Um embrulho pequeno e um álbum de fotos. Não devia conter muitas pela grossura, mas era definitivamente um álbum.

Sentei-me na cama e ajustei as coisas sobre o meu colo. O pequeno embrulho trazia consigo um nome. Joe. Quem é o Joe? Será um amigo? Um novo romance? Como é que posso saber isso? Espera! A Leah e as outras conhecem a Jul como ninguém. Amanhã tiro isto a limpo.

Guardei a caixa no sítio e decidi abrir o álbum. As primeiras fotos continham crianças. Eram varias até. Fui desfolhando as paginas até que, em algumas, aparecia uma miúda meio aloirada de cabelos castanhos. Era uma doçura, se dúvida. Numa das seguintes já apareciam de novo mais pessoas. Retirei a fotografia e reparei que tinha algo escrito atrás.

"Para que nunca percas esse sorriso. Do teu avô."

Ela nunca falou dele. Pensando bem, a dona Abbie está a viver sozinha, certo? Então e o avô da Julianne?

A pequena criança que ao longo das fotos parecia mais velha, percebi ser a pequena Julianne. O seu cabelo escureceu e os seus olhos agora são mais claros. Deixou a franjinha para usar um risco ao lado. Que diferença enorme. Sorri ao reparar neste disparate. Mais para o final, encontrei uma fotografia bem mais recente. Era uma fotografia de família, ao que me parece. A Julianne segurava um bebé no colo. Não era nenhum dos seus irmãos, porque esses já estão bem crescidos. Parece ter sido deste ano.

Fechei o álbum pausando-o em cima da mesinha do meu lado. Agora é como se eu já pudesse ter visto a rapariga crescer. Mas continuam tantas dúvidas na minha cabeça. Ela continua a ter tantos mistérios.

The Girl behind the Mask ✗Onde histórias criam vida. Descubra agora