Coloquei a minha mochila nas costas e comecei a sair. Senti-me como no início, quando ainda não tinha nada. Não é que já tenha muito, mas tenho lembranças, entendem? Os corredores estavam quase escuros e só a porta principal estava aberta. Sinceramente, hoje não me apetece ir para casa. Foi o último dia de aulas e eu pensei em voltar para Crewe. Preciso de estar com a minha família. O senão é que tenho de trabalhar até dia 23 e no dia 24 já não há autocarro. Por causa da neve, os acessos a algumas cidades vão ser cortados por precaução e isso preocupa-me. Liguei para casa várias vezes e não obtive resposta. Vou ter de esperar.
Caminhei rua acima. Daqui ao barracão ainda é um bocado e tenho de passar primeiro pelo local que antes era o ponto de encontro entre mim e aquele rapaz. Não tenho mais palavras para o descrever ou descrever o que se passou entre nós. Ele desapareceu do nada e eu é que fiquei aqui. Estavamos juntos de uma forma estranha, é verdade, mas a sua maneira de agir cativava-me.
Sentei-me no banco segurando pausando as minhas mãos no meu colo. Como é que alguém pode ser tão desumano. Será que ele tem uma pedra no lugar do coração? Eu entreguei-me a ele e ele simplesmente desaparece. Aquele companheirismo, todo o apoio, toda a atenção e preocupação, tudo isso era falso e eu sei isso agora. Como pode alguém brincar com o coração de alguém? Sim, infelizmente amo-o imenso e sei disso. Ele é a prova de que as pessoas podem apaixonar-se apenas pelo interior do outro. Ele foi o meu tudo e agora não passa do meu nada. Talvez sempre me lembre dele, talvez continue a ter pesadelos com ele, talvez um dia nos cruzemos de novo. Quando toca a ele, tudo é um talvez. Não há certezas nem provas. Ele prometeu-me coisas que para mim eram valiosas. Ele jurou não ser nenhum dos meus amigos e agora o contrário disso é óbvio.
Não contive as lágrimas ao relembrar tudo aquilo. Faz hoje 3 meses que me cruzei com ele, pela primeira vez, neste local. Isso significa que fui enganada muito tempo, demasiado até.
"Julianne?" alguém chamou parecendo ele. A voz não era bem a mesma mas tinha semelhanças. O meu cérebro deve estar atrofiado de todo.
"Hazza." agarrei-me aos seus braços.
"Que fazes aqui? Que se passa?" ele parecia preocupado. Eu nada disse, apenas chorava. A chuva começou a apertar e molhar os nossos corpos. Obrigado São Pedro por estares sempre do contra. "Eu vou levar-te para casa." ele informa. Pegou no meu corpo e levou-me para o seu carro.
(...)
Quando chegamos ele simplesmente me deixou tomar banho e, após eu dizer que nada queria comer, ele cedeu dizendo que pelo menos me fosse deitar. Pois bem, agora olho a minha cama. Os lençóis pretos só me fazem lembrar a escuridão da noite. Relembro cada conversa que tive com o rapaz da mota e a noite em eu o amei. Sim, foi a magia mais bonita do mundo.
Harry entrou de vagar com algo na mão, sentou-se na borda da minha cama e ficou a olhar-me.
"Estou preocupado." ele confessa. Ele não é de admitir as coisas logo. "Trouxe um chá. Sei que gostas." Sentei-me na cama e ele passou-me a chávena acompanhada de um pequeno sorriso. Dei um gole e percebi ser camomila. É como e estivesse de volta a casa.
"Queria saber o porquê de estares assim. Não entendo." ele passa a mão pelo cabelo como forma de frustração. "Fala comigo, por favor." ele quase implora pegando na minha mão.
"Harry..."
"Diz." ele incentiva.
"Houve um rapaz... E... As coisas não acabaram bem... Pelo menos para mim..." Ele tira-me a caneca da mão e pausa-a sobre a mesinha do meu lado.
"Podes confiar em mim." ele parecia sincero.
"É difícil para mim sequer falar." admiti e senti-lo pausar a minha cabeça no seu peito. É talvez a melhor sensação que senti nos últimos tempos.
"Quero poder ajudar-te."
"Não podes." suspirei.
“É aquele rapaz de quem supûs que gostavas?”
“Sim.”
"Gostas mesmo dele, não é?" ele questionou depois de um silêncio que mais me pareceu uma eternidade.
"Creio que sim." suspirei.
"O quê que te fez apaixonar por ele?"
"Isso é importante?" olho-o séria.
"Pode ser que alivie a tua dor."
"Ele era a peça perfeita para o meu puzzle." suspirei.
"O quê?"
"Um dia vais descobrir que há alguém que, com a suas imperfeições torna-se perfeito para ti." Pegui na sua mão. "Chama-se amor."
"O amor é uma dependência. Eu escolhi não ser dependente."
"Gostava de ser como tu." afastei-me um pouco dele.
"Como assim?"
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The Girl behind the Mask ✗
Fiksi RemajaEscolhas. Talvez a coisa mais dura que fazemos na nossa vida. Eu fui uma escolha dos meus pais, e isso demonstra quanta responsabilidade cai sobre os ombros de quem escolhe. Estaria aqui a tentar explicar o porquê das escolhas serem tão duras, mas s...