Se houvesse a escolha “Apagar da mente” de certo que eu a usaria em tantos casos do meu dia a dia. Começando então pelos momentos embaraçosos e desencorajadores que se têm passado por aqui. Recentemente decidi ir às aulas de condução e digamos que não sou muito boa nisso. Cada vez que entro no carro parece que os meus pés e pernas tremem como se não houvesse amanhã. Não consigo ver as placas das ruas com atenção porque até os piscas do carro me distraem. Começo mesmo a achar que estou perdida. O meu instrutor orienta com um “3ª saída” e eu tenho de parar a meio da rotunda porque perdi a conta das saídas que já passei. Sim, bem-vindos ao mundo das perdidas.
Os meus pés escorregam para dentro das minhas imitação de vans e o casaco de cabedal escorrega pelos meus braços. Hora de ir embora. As aulas na universidade têm sido bem normais e temos aprendido muito sobre os cuidados básicos de saúde. Sinceramente, penso que apenas 30% das pessoas tentam adequar os seus estilos de vida a algo mais saudável. Estima-se que quem fizer exercício pelo menos meia hora por dia, viverá perto de mais 10 anos. Não duvido desta perspetiva, mas não falemos mais disto.
Quanto ao rapaz da mota, não o vejo desde há cerca de 3 semanas. Lembram-se daquele dia em que nos encontramos e estivemos a reparar nas luzes da cidade? Pois bem, desde aí ele não apareceu mais. Saudades? Eu? Never! Ok, talvez um pouco. Afinal, quem é que não sente falta de alguém que já faz parte da rotina?
Ok. Adivinhem quem vai para casa este fim de semana? Pois é, amanhã já é sexta-feira e pelas 23 apanho o autocarro de volta a Crewe. Um fim de semana de volta às origens. Coisa melhor? Não há.
“Adivinhem quem volta hoje campeão regional de boxe!” Guinchou uma colega lá na frente em cima de uma cadeira. Normalmente, entre a nossa entrada e a dos professores há um espaçamento de 10 minutos, que servem sempre para nos sentarmos e outros para servir de rádio-turma, como é o caso.
“Eu sei.” Informou Myriam com uma voz divertida do meu lado. Olhei-a confusa e ela deu uma risada baixinho. Jéssica fizera o mesmo e eu e Leah só as olhamos seriamente.
“O Harry Styles!” uma colega respondeu à primeira.
“Exato.” Myriam diz do meu lado e só me apetece revirar os olhos. Em vez disso acenei negativamente.
“Ele é tão bom!” Uma terceira colega diz atrás de mim. A primeira, desceu da cadeira e gritou.
“Viva o bom-bom” Agora sim, revirei os olhos.
O que salvou uma humilhação maior por parte delas foi a entrada do professor.
(...)
As aulas até que correram bem o resto do dia. Hoje, apesar de estarmos em inícios de outubro, continuo com calor e, por isso, tinha que vestir uns cações de manhã. Neste momento, já não sinto esse calor e imaginem...tenho as pernas quase que congeladas. Culpa de quem? Do calor matinal que senti. Será menopausa?
Caminho pela avenida com a mochila às costas. A minha velha EASTPAK ainda me acompanha neste desafio de trazer da escola mais do que levei para lá. Os meus pés vão pisando as folhas secas enquanto ando às voltas por aí. Não me apetece nada voltar a casa tão cedo. 1º porque a minha avó só chega às 20, 2º porque não gosto de estar sozinha em casa e 3º porque continuo a querer noticias do rapaz da mota. Sinceramente fico bastante preocupada com o seu desaparecimento. Será que algo lhe aconteceu?
(...)
Está a anoitecer há meia hora. Como é lindo o por do sol no outono! Acho que poderia ver isto todos os dias. Quase tão lindo como o som do piano ou os sorrisos das pessoas. Faço coleção de sorrisos, sabiam? É isso mesmo que leram, eu faço coleção de sorrisos das pessoas que me rodeiam. É como se decorasse o som de cada um e sempre que o ouvisse distinguisse o seu dono. Não é simples, muito menos normal, mas é a minha característica mais escondida.
Ouço um risinho fraco à minha frente e dirijo o meu olhar para lá. Assim que levanto o rosto percebo ser o rapaz da mota.
“Perdida?” brincou entre risinhos.
“Olha quem fala.” Brinquei de volta.
“Desculpa, tinha de trabalhar.” Ele arfa e senta-se num banco de jardim que colocaram aqui na semana passada.
“Entendo.” Sentei-me do seu lado vendo as luzes da cidade.
“Conta-me, como foram estes dias?” tentou saber.
“Só estudar e pouco mais.” Respondi.
“Nunca me contaste o que andas a estudar.” Ele relembra.
“Segredo.” Murmuro e ele gargalha.
“Andas muito bem disposta hoje.” Ele comenta.
“É, amanhã vou embora.” Ele olha-me meio aflito.
“Porquê?” a sua voz saiu meio esganiçada.
“Eu sou de Crewe.” Revelo.
“E vais voltar?”
“Só fim de semana.” Aviso e ele suspira profundamente. “Pareces preocupado com isso.”
“É só que pensei que tinha acontecido algo para ires embora.” Ele sorri de lado. MENTIRA. Até eu sei o tom de voz de alguém quando mente.
“Ok.” Suspirei levantando-me. “Adeus.” Disse e comecei a andar.
“Adeus, rapariga por detrás da máscara.” Murmura. Eu viro-me para o encarar.
“O quê que tu queres dizer com isso?” pergunto indignada.
“Que não és sempre o que demonstras ser.”
“Para tua informação, eu até demonstro demasiado a pessoas que não dão valor.” Bufei e virei costas. Ele murmurou algo que não consegui perceber nem me dei ao trabalho disso.
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The Girl behind the Mask ✗
Teen FictionEscolhas. Talvez a coisa mais dura que fazemos na nossa vida. Eu fui uma escolha dos meus pais, e isso demonstra quanta responsabilidade cai sobre os ombros de quem escolhe. Estaria aqui a tentar explicar o porquê das escolhas serem tão duras, mas s...