Capítulo 17 ~ Correndo atrás

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“Desculpa.” Ele diz e eu ia falar até a sua mão direita passar até à minha nuca e os seus lábios embaterem nos meus. O seus lábios carnudos beijaram os meus de verdade. Eu não sabia como o fazer ao certo, mas deixei-me levar. Ele é bem calmo nisto e não apressou nada. O seu beijo transmitia paz e alguma paixão(?).  

Levei a minha mão ao seu rosto e beijei mordi o seu lábio inferior parando o beijo. Ele arfava bastante e comigo não era diferente. Ele encostou a sua testa na minha e os seus olhos escuros admiravam-me intensamente.

“Desculpa.” Ele sussurrou de novo, agora menos ansioso. Mantive-me em silêncio apreciando cada momento que se havia passado. “Eu gostava de estar à tua altura.” Ele murmura assim que olho para baixo.

“Eu sou baixinha.” Sussurrei.

“És a miúda que mais quis em toda a minha vida.” Levantei-me de repente e comecei a correr em direção à porta. Estava aflita, não sei como reagir por isso o melhor é fugir mesmo. Assim que passei a porta reparo que ele está a colocar o capacete por isso comecei a correr pela estrada fora sem mais rumo. Corri, corri até me doerem os pulmões de tanto arfar. Olhei para trás e vi a sua mota a aproximar-se por isso mudei de rumo para dentro de uma mata que cá havia.

Sim, eu sou estúpida e medricas. Não consigo estar simplesmente a ouvir coisas que não estou acostumada a ouvir. Olhem para mim, sou à base de rotinas. Eu fico chateada até quando os professores  trocam aulas. Não estou acostumada à mudança. Viram como foi para mudar de casa? Eu sou assim. Tenho medo do que está fora do meu campo de conforto.

 Ouço a mota dele travar forçadamente. Ele viu para onde eu fui. Aposto que ele corre o dobro de mim. Não sei como mas corri mais do que alguma vez pensei correr.

“Julianne!” ouvi o seu berro enquanto corria atrás de mim. Aqui a luz era mais intensa do que no interior do barracão. “Julianne, por favor, espera!” ele pede ofegante.

Continuei a correr. Não tinha a certeza do que estava a fazer mas eu estava tão assustada quanto ele. Não percebo o que um estranho pode querer de mim. Não percebo o que ele quer. Quero ficar sozinha. Quero pensar.

“Vá lá, Jul!” ele continua. Não sei porquê um dos meus pés tropeça em algo. Num instante percebo ter sigo uma raiz. O estrondo provocado pelo contacto bruto do meu corpo com o chão foi enorme. Caí de cara para a frente e acertei em algo. “Meu Deus, Julianne.” Ouvi a voz do rapaz atrás de mim. -  Admite Julianne, perdeste. - Estúpida consciência que não serve para nada. Estúpida mania de tropeçar em tudo. Estúpida raiz da àrvore. - ESPERA! Mas a raiz não é importante para a àrvore sobreviver? - Talvez tenhas razão. Risquem a parte da “Estúpida raiz da àrvore” . Feito? – Feito.

“Julianne, estás bem?” ouço a sua voz rouca. Levanto-me de repente e acerto com o cotovelo em algo. “Auchh” ele geme. Boa Julianne.

“Desculpa.” Sussurro e vejo-o sentado no cão com o braço à frente da cara. Conseguia notar no sangue a escorrer pela sua cara. O líquido vermelho escorria pela cara do rapaz. Podia ver-se mal neste sítio, mas podia notar que era sangue. Ele fugiu para trás da árvore assim que reparou que eu o olhava. “Eu posso ajudar.” Digo tentando alcançá-lo.

“Não, não podes.” Ele murmura.

“Eu sei cuidar isso.” Pausei. “Desculpa.”

“Não quero que vejas a minha cara.” Ele bufa.

“Ok, eu vou embora.” Suspirei e comecei a caminhar no sentido de onde vim.

“Espera.” Ele suspira.

“O que foi?” perguntei sem me virar.

“Eu quero encontrar-te de novo.”

“Eu não quero.” Suspiro.

“Hã? Porquê?”

“És estranho. Podes beijar-me mas eu nem sei nada sobre ti. Nem os traços do teu rosto eu conheço.”

“Eu abri uma exceção, Julianne.” Murmurou

“Eu cometi um erro.”

“Amanhã eu vou esperar-te no nosso ponto de encontro.”

“E se eu não for?”

“Eu vou esperar lá por ti todas as noites. É algo que já estou habituado a fazer.

“Não me esperes mais.” Pedi com a voz a falhar e comecei a andar.

“Jul, espera.” Ele parece correr até mim mas a luz não me permite sequer ver onde calco quando mais a cara dele.

“Porquê te escondes?” perguntei quase gritando.

“Tenho medo da reação das pessoas...”

“Mas eu não sou essa gente toda.” Tentei transmitir.

“Eu sei. Eu sei que és diferente. Por isso é que não consigo evitar esperar-te.”

“Queria ao menos saber o teu nome.”

“Não posso.”

“Porquê?”

“Porque já me cruzei contigo uma vez e não vou poder deixar que me vejas antes de me habituar a isso.” Pensar que já vi os seus olhos uma única vez e que não reparei é algo torturante. Queria mesmo poder ter prestado mais atenção ao que me rodeava.

“Já nos cruzamos?”

“Sim.” Suspirou.

“Era tão bom se eu pudesse ter-te visto com pormenor.”

“Mas eu te olhei dessa forma.” Ele murmura.

“Amigos?” tentei saber.

“Claro que sim.” Suspirou de novo. “ Eu levo-te a casa está bem?”

“Okey.”

“Então deixa-me ir na frente para colocar o capacete.”

“Dou-te 60 segundos de avanço.”

“Combinado.”

(...)

“Obrigado pela boleia.”

“Era meu dever.” Respondeu.

“Até amanhã?” perguntei.

“Claro.” Ele diz e a mota desaparece ao virar da esquina.

Demasiadas emoções para mim. Preciso de descansar. Preciso de pensar. 2 da manhã. Rodo a pequena pega da porta da entrada. Boa Jul, agora dormes na rua.

The Girl behind the Mask ✗Onde histórias criam vida. Descubra agora