Capítulo 48 ~ Balde de àgua fria

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"Se conta, não fiz reformas na casa por causa dos quartos, eu criei outra coisa."

"Então, qual foi o motivo?"

"O meu quarto tem um anexo no sótão. O meu pai diz que é para meninas mas eu gosto daquilo. Fui obrigado a seguir boxe porque era algo que ele queria para mim. Como já te contei, eu gostava de outras coisas. Talvez não mude a confiança que tens em mim, mas pensei em começar a aliar as duas coisas. Eu pinto." Ele revela deixando-me boquiaberta. Como é que poderia imaginar que o bóxer gosta de pintar? "Na verdade gosto mais de rabiscar do que pintar. Sabes aquele quadro na sala?" tentei relembrar-me de tudo lá. Realmente só havia um quadro. Era uma paisagem do pôr-do-sol. Não era um pôr-do-sol qualquer. Agora que penso, aquele é o pôr-do-sol de Crewe. Aquelas árvores, aquelas casas, tudo aquilo faz parte da minha visão preferida do parque em Crewe. Meu Deus, como é que não reparei logo nisso? Por isso é que ele me dava uma sensação de conforto. "Eu imaginei e pintei no dia do teu aniversário. A visão a partir daquele banco onde estivemos sentados era algo que queria ter na minha mente sempre. Queria que te recordasses de casa, sempre que estivesses sozinha em Holmes." Pegou cada uma das minhas mãos em cada uma das suas. "O rapaz que come todas também pode ter sentimentos e a rapariga fria e escura também pode ter medos." Respirei fundo pensando na sua frase. Eu estou a descarregar nele, sem mesmo lhe dizer as razões que me levam a isso, e ele simplesmente me conta algo secreto dele. "Estás muito chateada comigo, não estas?"

"Magoada."

"Podes dizer-me a quê que te referes, quando dizes que tens ouvido coisas sobre mim?

"Não posso. Tenho de guardar para mim até conseguir ver que é mentira."

"Então porquê que acreditas no que dizem e queres provar que é mentira?"

"Tudo o que sei são como bombas. Se eu contar elas podem explodir."

"Eu posso ajudar-te a provar que as pessoas estão enganadas."

"Então posso fazer-te as perguntas?" Comecei a caminhar em direção à estrada. Já tinha parado de chover mas o vento ainda arrepiava o meu corpo. Harry notou cada arrepio e despiu o blazer, passando-mo para que eu vestisse. "Obrigado." sussurrei.

"Todas as que quiseres..." ele murmura. "Mas... Vais mesmo para Crewe?"

"Sim. Pensei em ficar cá no natal, por causa do preço da viagem e do mau tempo. Agora tenho a certeza que preciso de ir para minha casa e descansar. Preciso de pôr as ideias no sítio. Entendes?"

"Perfeitamente." Ele suspira.

"Quero que penses no que vais responder."

"As tuas perguntas?" ele tenta relembrar o assunto anterior.

"Sim." Esclareci retirando a minha mala do carro do Harry. Parei a conversa brevemente para pedir um táxi para a casa do Harry. O senhor disse que estaria lá em 45 minutos.

"Entra." Harry pede e assim o faço. Ele percebeu que o táxi me apanha em casa dele e que, por isso, ele vai ter de me dar boleia até lá.

"Quanto tempo temos?"

"Ponho-nos em casa em meia hora." Ele calcula.

"OK. Obrigado." fiz um silêncio bem demorado. Eu tenho de pensar exatamente o que vou perguntar. Conhecendo como o conheço, à segunda pergunta ele vai achar que é perseguição e não responde a mais nada.

"E as perguntas?"

"Ainda tens a certeza?"

"Força." Ele incentiva.

"Primeiro, porquê que a Leah e o Zayn saíram estranhos da festa? Harry, eu ouvi gritos no dia em que o Zayn foi lá a casa." Pausei. Ele estava meio nervoso, mas nada disse. "Segundo, quem é a Marry?" Eu estava certa ele ficou mesmo aborrecido.

"Quem é que te falou da Marry? O quê que te disseram dela?" Ainda bem que estamos a chegar. "Deixa-me adivinhar... Foi aquele filho da mãe. Eu sabia que essa história de dança era uma treta. Eu saí por segundos e ele já te envenenou não foi?" Ele pausou para me olhar. Mantive-me neutra, esperava a minha resposta. Assim que chegámos, ele parou o carro. " Tenho de arranjar uma maneira de dizer isto." Ele pena em voz alta. "Prometo que terás a resposta às perguntas. Agora precisas de ir. Tens um táxi daqui a 10 minutos." Nisso ele tem razão.

Em minutos, já tinha colocado o mais necessário na mala e trocado de roupa. Levo apenas algumas mudas de roupa porque lá tenho imensa ainda. Adicionalmente, decidi também arrumar o portátil e algumas capas da escola. Pode ser que tenha cabeça para estudar, em casa.

Assim que olho pela janela percebo que um carro acabara de estacionar em frente à casa do Harry. Coloquei tudo às costas e fechei a porta com cuidado. Este é o meu caminho rumo à paz. Eu estava demasiado nervosa anteriormente que mal tenho prestado atenção a coisas que, para mim, são realmente importantes. Mal tenho ido ao trabalho e a escola ficou para segundo plano. É nisto que me quero focar nas férias. Quero simplesmente passar duas semanas a fazer o que sempre fiz antes de vir para esta cidade. Agora que penso, Holmes Chapel é a cidade das confusões. Por mais estranho que pareça, eu senti que, esta cidade mudaria a minha vida, no dia em que coloquei os meus pés cá, pela primeira vez.

Passei as malas ao homem que me sorriu calorosamente. O frio já apertava neste sítio.

"Então..." Harry aparece atrás de mim. "Boa viagem."

"Obrigado, Hazza." Ele sorriu. "Só não me procures." O seu sorriso desvaneceu."Tu sabes... Eu preciso de tempo para pensar."

"Não desconfies de mim, só isso." Pediu. "Não há nada que eu quisesse mais neste momento que a tua confiança."

"Entendo." Olhei para trás. "Adeus?"

"Adeus, Jul." ele acenou meio desleixadamente. Eu assinto e entrei no veículo.

Ainda olhei para trás. Ele não se mexera. Ele continuava ali a ver o carro ir embora. Acho que ele não esperava a minha fraqueza. Ele deve esperar algo assim da rapariga resmungona. Por mais estranho que isto me soe, eu e o Harry agora temos uma proximidade confortável. Porquê que tudo nele parece tão acolhedor e as pessoas regem mal na sua presença? Porquê que o lutador falou da Marry? Será que foi alguém que o Hary magoou? Dói-me o peito quando penso nisso. Ele vai responder as minhas perguntas. Eu sei que sim. Só me resta esperar.

The Girl behind the Mask ✗Onde histórias criam vida. Descubra agora