“Beber resolve o problema com ela?"
"Alivia a dor, pelo menos." Ele está com raiva de novo. Mas este rapaz é bipolar.
"Eu não confio em ti." Atiro e ele olha-me surpreendido. "Eu vou voltar para Crewe, ainda hoje."
"É disto que se trata tudo?" ele reagiu mal. "Tu fizeste esta cena toda porque não confias em mim?" Ele dá um pontapé na grama. "Não era muito mais fácil saíres de casa e seguires a tua vida? Consegues ser tão patética, Julianne."
"Eu confiava em ti e tudo indica que eu estava errada. Sim, podia simplesmente sair de casa mas a raiva consumiu-me. Patético, és tu por não descarregares os teus erros na bebida ou no tabaco."
"Tu não sabes do que falas." Ele cerrou os punhos.
"Acabaste de admitir que cometeste um erro e que usas o álcool para o encobrir." Ele aproxima-se rapidamente como quem me iria bater. Não me encolhi. Sei que não confio nele, mas o meu corpo acreditou que ele não me iria magoar.
"Tu vens aqui, fazes esta cena como se fosses uma louca, dizes que não confias em mim e não me dizes as razões para isso. Não achas que a tua reação é de alguém anormal?"
"Anormal?" pausei. "É isso que pensas de mim desde o início." Olhei-o nos olhos. "Sim, tenho vergonha de tocar em público. Pensei que tinhas percebido isso na loja, naquele primeiro dia. Foi a primeira vez que toquei em público, hoje foi a segunda." o seu olhar mudou. "Posso ser uma idiota por contar isto a uma pessoa que me acha anormal e em quem não devo confiar, mas eu tenho pânico. Eu sou tímida e confio em toda a gente, o que faz com que as pessoas abusem da minha boa vontade. Não gosto de saídas à noite e o teu cheiro a tabaco enoja-me cada vez que chegas a casa. Não sou boa na vida doméstica, mas até agora fiz muito mais que tu lá em casa. Odeio álcool e o tabaco porque são dependências que causam mortes. Eu perdi várias pessoas essenciais na minha vida por causa deles. Então agora deves perguntar-te, porquê que ela me apoia mesmo não gostando do estado em que chego a casa? E eu respondo-te, porque acredito em ti, acredito que consegues ser mais forte que esses teus hábitos e lutares contra eles." Lágrimas já correm pela minha face e o ar está retido nos meus pulmões. Devo estar mais vermelha que um tomate, mas estou a sentir cada palavra que lhe digo nos olhos. "Eu acredito em ti porque acredito que tens provas diárias para desmentir tudo o que tenho ouvido sobre ti e que me faz duvidar. És um idiota, o segundo idiota com quem me cruzo desde que cheguei a Holmes Chapel, há 3 meses e pouco, e mesmo assim eu pensei que desta vez o idiota teria remédio. O outro, aquele rapaz de que te falei hoje, talvez tenha a outra metade do meu coração. Eu dei-lhe tudo o que tinha de mais importante na minha vida, a minha dignidade e o meu amor. Em contrapartida, ele ofereceu-me mágoa de me ter abandonado. Ele realmente merecia que eu tivesse ódio dele. E posso confessar, não tenho. Tenho raiva dele e de mim, porque mesmo quando percebi que ele não iria voltar mais, eu queria ouvir a sua voz antes de dormir. Queria poder consertar o boneco estragado que havia nele. Eu tento diariamente o mesmo contigo. Não porque estou apaixonada, apenas porque preciso de consertar alguém já que eu fiquei sem conserto." Respirei fundo. Já me faltava o ar por culpa da velocidade com que gritei as coisas na cara dele.
"Como consegues?" ele murmurou. A sua expressão era indecifrável. "Consegues formar uma máscara para que as pessoas não conheçam o teu verdadeiro eu. Há muito mais para além da máscara. Eu vejo força na menina frágil, vejo determinação na menina tímida e consigo ver o coração enorme da rapariga fria. Quando me cruzei contigo, pela primeira vez, juro que não percebi o que consegui perceber durante o tempo que estiveste comigo, durante todo este teu discurso. Porquê usar essa máscara se por baixo dela está uma pessoa bem mais especial?"
"Por causa de idiotas como tu, que desaparecem ou magoam quando não a uso. É o meu escudo contra isso."
"O quê que escondes mais?"
" E tu? Que podres tens mais?" Ele sorri por momentos.
"Tens mesmo tempo para isso?" Ele sussurra e senta-se no chão.
"Todo o tempo do mundo." Sento-me à sua frente.
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The Girl behind the Mask ✗
Teen FictionEscolhas. Talvez a coisa mais dura que fazemos na nossa vida. Eu fui uma escolha dos meus pais, e isso demonstra quanta responsabilidade cai sobre os ombros de quem escolhe. Estaria aqui a tentar explicar o porquê das escolhas serem tão duras, mas s...