“Fogo tu assustas-me.” Bufo quando reconheço o seu perfume.
“Desculpa lá.” Ele sussurra e eu viro-me para ele.
“Afinal voltas-te.” Consto.
“É verdade...” Pega na minha mão. “Eu não devia ter deixado o peso de uma revolta minha em cima de ti. Vi o que fizeste com aquele boxer ontem.”
“É que...” fui interrompida.
“Deixa-me terminar.” Ele pede e eu assinto. “Vi o que fizeste e fiquei muito arrependido da maneira como te falei na sexta. Julianne, tu és uma excelente miúda e eu percebi isso ontem. O teu gesto foi muito digno.” Conforme ele proferia isto o meu corpo tremia. Eu sei que tudo o que ele diz é sentido e isso deixa-me tocada. Aqui encontrei um grande amigo, um grande apoio.
“Fiz o que todos fariam.” Respondi e comecei a andar com ele do meu lado.
“Enfermeira, hum?”
“A estudar para isso.”
“Porquê que me escondes esses detalhes de ti?”
“Não dizes que uso uma máscara? Pois bem, eu só não a retiro logo.”
“Tens de me contar mais de ti.” Ele comenta.
“Com a convivência descobres.” Pisco-lhe o olho e ele gargalha.
“Tens pressa de ir para casa?”
“Por acaso a dona Abbie não anda muito feliz comigo. Devia chegar a casa cedo. Mas se precisares de algo eu posso ajudar.” Disponibilizei.
“O que se passa com ela?”
“Lembras-te de ela não gostar de ti?” ele assentiu. “Ela também não gosta do Harry Styles.”
“Ele é um bocado convencido não?”
“É bipolar.” Olhei em frente e sentei-me num banco que lá havia. “Umas vezes atira-me coisas à cara que nem eu entendo, noutras trata-me bem e diz coisas que, apesar de não fazerem sentido para mim, parecem ser sentidas.”
“Parece-me uma pessoa complicada.” Pausou sentando-se. “Ouvi murmúrios de que ele te ia dedicar a vitória.”
“Sabes, isso pouco me importou. Ele tenha ou não namorada, não faz parte dos meus planos estar com ele.”
“Não o achas bonito?”
“O que me conquista não é a beleza. Ele é lindo, sem dúvida, mas não é quem eu sonho para mim.”
“Por ser boxer e não um doutor?”
“Por não o amar.” Respondi e ele fez silêncio. Ficamos assim uns minutos até que ele o quebra.
“Vim porque tinha uma surpresa para ti.”
“Qual?” soei entusiasmada.
“Sabes que pareces uma criança que quer mesmo saber qual a prenda de natal que vai receber?” ele ri-se e eu fiz-me de amuada. “Pronto, desculpa.” Ele passa a sua mão nas minhas costas com dificuldade. Parece preso do braço.
“O que tens nesse braço?” tentei saber.
“Nada.” Ele diz e levanta o braço com rapidez para comprovar que eu estava errada.
“Ok. Então e a surpresa?”
“Ai Julianne, tu ficas tão querida quando fazes essa cara.” Ele brinca e eu dou-lhe uma palmada no braço que lhe parece doer.
“Desculpa.” Pedi e ele gemeu de dor. “A sério, desculpa.”
“Tudo bem” arfou “Mas ficas a dever-me um beijo no rosto.”
“Por mim tudo bem. É sinal que vais tirar essa coisa.” Eu reparo e ele ri-se.
“Vamos embora.” Ele diz e lá fomos com a mota.
A viagem foi em silêncio, mas tudo me parecia calmo e simples. Seja o que for que vem aí, eu vou adorar de certeza. Apesar de meio avariado das ideias, o rapaz da mota é um excelente amigo e só o facto de ouvir os meus desabafos já faz dele uma pessoa ainda melhor.
Senti a mota a parar num descampado.
“Agora temos de ir a pé.” Ele informa e desce da mota. Aqui está extremamente escuro e mesmo que quisesse voltar para trás nem sequer o caminho sei.
“Estou com medo.” Confesso.
“Não precisas princesa.” Ele dá-me a mão e começámos a andar por um descampado comprido.
Ele simplesmente me conduziu até ao que pareceu ser um barraco abandonado. Não sabia onde estava sequer. Cá dentro estava mais escuro ainda. Não conseguia ver nada na minha frente. A luz da lua só incidia sobre uma mesa de madeira no centro do barraco que tinha umas velas em cima.
“Onde estamos?” Perguntei com receio. Ele apagou as velas da mesa. Ele fez uns minutos de silêncio.
“Hoje vamos trocar de papeis.” Ele explicou e puxou-me de vagar até um ponto fixo. “Senta-te.” Ele pede e eu de vagar sentei-me para trás e percebi ser um sofá. Pouco depois sinto o sofá a baixar do meu lado, ele estava a sentar-se.
“Explica-me.” Peço. Ele pega na minha mão lentamente.
“Hoje vais ver-me como eu te vejo a ti.” Ele diz. De seguida, leva a minha mão e pausa-a no que suponho ser o seu rosto. “Como deves imaginar, por detrás daquele capacete e de noite, não é fácil de ver o teu rosto.” Ele explica e pausa a sua mão sobre a minha. Agora é suposto descobrir os seus traços com os meus dedos? Posso mexer ao menos a mão? “Podes mexer.” Ele dá permissão como se ele lesse a minha mente.
Mexia a minha mão e tentei descobrir cada parte do seu rosto. Tudo me parecia proporcional. Quando ele sorria de cócegas conseguia sentir umas covinhas nas suas bochechas. Passei as mãos pelos seus lábios que se mantinham agora entreabertos. Eram carnudos. Deu-me uma vontade enorme de beijar aqueles lábios ali mesmo.
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The Girl behind the Mask ✗
Teen FictionEscolhas. Talvez a coisa mais dura que fazemos na nossa vida. Eu fui uma escolha dos meus pais, e isso demonstra quanta responsabilidade cai sobre os ombros de quem escolhe. Estaria aqui a tentar explicar o porquê das escolhas serem tão duras, mas s...