Capítulo 6 ~ Som da minha alma

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Novo dia, novas oportunidades. Hoje acoredei inspirada e sei perfeitamente onde quero ir passar a tarde. Sim, hoje tenho tarde livre e, como já adiantei todos os trabalhos da escola, vou só acabar o trabalho de grupo com as meninas e depois vou visitar uma loja de instumentos musicais ali na baixa da cidade. A Leah falou-me da loja de instrumentos musicais do irmão do seu falecido avô. Acrescentou que deixam experimentar os instrumentos. Basicamente é isso que quero fazer.

Há tanto tempo que não pego no meu piano que os meus dedos começam a ter saudades de umas boas tecladas. Sinto saudade de sentir os acidentes, teclas pretas, por entre os dedos quando posiciono os mesmos antes de tocar. O som maravilhoso de um lá ou um sol produzido em harmonia faz-me entender tudo neste mundo. Preciso de ouvir este som de novo. É como se voltasse ao meu passado e me sentisse em casa. Apenas umas teclas, ou melhor, um conjunto de teclas, faz-me sentir como se o piano fosse o meu abrigo, a minha paz. Cada um tem algo assim certo?

Pois bem, eu sou a menina do piano. É assim que me lembro de ser chamada na aldeia. Porquê? Porque o meu sorriso era sempre associado ao piano. As minhas vizinhas diziam que quando eu tocava, toda a aldeia para para ouvir e sorri automaticamente. É este o som produzido em mim.

“Então, eu vou indo.” Digo sorrindo.

“Isso tudo são saudades de casa?” perguntou Miriam sorrindo.

“Pode-se dizer que sim” sorri de volta.

“Já vais?” Leah aparece.

“Sim.” Respondo-lhe.

“Boa sorte.” Ela deseja e eu sorrio.

“Obrigado.” Peguei nas minhas coisas e corri. Ainda mal a mochila estava nas costas já eu aravessava o portão da escola a correr. Corri como nunca havia feito. Corri, corri. Corri tanto que não sei como não fiquei sem ar.

“Vé por onde andas!” um engravatadinho gritou assim que me esbarrei contra ele numa curva.

“Desculpa.” Disse de volta assim que o olhei. Eu conhecia aquele formato de lábios, aquela postura. Deixo-vos pensar um pouco em quem será. Tum-tum-tum! Não adivinharam? Pistas? Ok, alto, corpo esbelto e caracois volumosos. O seu sorriso presunçoso enojava-me mais do que tudo neste mundo. Estão a ver aquelas pessoas que apenas por existirem já são esganadas nos vossos pensamentos. É exatamente isso que sinto. Acha-se melhor que os outros só pelo estatuto, quando na verdade é apenas mais um mortal. “É só o que me faltava.” Resmungo e o sorriso dele meio que desvanece para ele falar. “Escusas de falar, tenho pressa.” Grito assim que virei costas. Continuei a correr pela avenida. Estava tão próxima que não queria perder tempo com um idiota qualquer.

Tlim. Soou o sino da porta da loja de música assim que entrei. A porta manteve-se aberta devido a alguma avaria, supus logo.

“Deixa para lá.” Um senhor aparece de trás de uma porta atrás do balcão. Fiz o que o senhor disse e caminhei pela loja a dentro. Podia estar mais feliz? Não, provávelmente não. Sentia-me em casa. Cheirava-me a conforto, a paz.

“Boa tarde.” Disse andando até ele.

“Em que posso ajudar uma rapariga tão bonita como tu?”

“Eu gostava só de experimentar o seu piano.” Ele ergueu a sobrancelha.

“Experimentar? Não vais comprar?”

“Não tenho dinheiro para isso.” Forcei um sorriso.

“Então conta lá, porquê vens experimentar?”

“Eu sei que isto parece estúpido, mas tenho saudades de um piano.” Ele sorriu intensamente.

“Tens um piano em casa?”

“Bem, em minha casa sim. Mas agora vivo em casa da minha avó. O meu não é nada comparado com estes de cauda, mas já toquei muito nele.” Pausei. “A Leah falou-me deste sítio e decidi pedir para experimentar.”

“Leah? Neta do meu irmão Jonas?”

“Deve ser.” Encolhi os ombros. “Loirinha e olhos claros.”

“Para saber da loja e pela tua descrição só pode ser ela.” Ele sorriu. “Quem diria. O meu irmão dizia que eu era um louco por amar tanto a música e mesmo depois de anos, contou à neta do local.” Via-se orgulho e saudade no seu olhar.

“É, eu sei o que é ouvir isso.” Pausei as minhas mãos nas suas.

“Tens mãos de pianista.” Ele afirmou. “Leves, finas, cuidadosas.” Aprecia.

“Obrigada.” Apetecia-me sorrir muito.

“Então, sempre que quiseres vir tocar uns minutos de piano podes fazê-lo.” Ele propôs.

“A sério?” perguntei admirada.

“Claro que sim. Sei bem o que é querer tocar algo e não poder.” Baixou o olhar.

“Toca algum instrumento?” tentei saber.

“Eu não sei tocar muito. É guitarra e pouco mais. A minha mulher é que tocava piano como ninguém.” Pelo seu olhar triste percebi que agora ela não devia mais estar entre nós.

“Como é que ela se chamava?”

“Lucie!” ele diz e eu sorrio.

“Amo o nome.” Vi-o sorrir.

“Agora quero ver do que és capaz.” Ele diz e puxa uma cadeira para perto do piano preto de cauda. “Senta-te.” Ele sugeriu e eu assim o fiz.

Assim que as minhas mãos tocaram na tecla do extremo direito do piano o meu corpo todo vibrou. Naquele momento, não sabia se havia de chorar ou sorrir. Claro que sinto saudade de casa, só eu sei o que me doi. No entanto, o meu ponto de abrigo será sempre algo marcante.

“Toca algo!” ele sugere de novo. Posicionei-me melhor na cadeira e arregacei as mangas. Hora de matar saudades.

Em poucos segundos, o bichinho que há dentro de mim tomou conta dos meus dedos. Hora de ser feliz. Fireproof dos One Direction era algo com que eu tinha sonhado esta noite. Eu precisava de ouvir a música num piano. Como já vos disse é uma das minhas preferidas deles e nunca vai deixar de ser. Já ouviram o quão magnifica ela é? Ora, agora imaginem-na no piano. Deixei-me levar pelo som das teclas. A Harominia fez o meu coração acalmar e a paz apoderou-se de novo de mim. Vou amar sempre o som do piano, o som da minha alma.

Assim que acabei, voltei ao mundo real recebida com palmas. Assim que olhei em volta é que percebi que els não provinham só do meu novo amigo. Havia mais alguém que ouviu-me fazer o que eu gosto e que, pelos vistos, apreciou.

“Tu, aqui?” perguntei.

The Girl behind the Mask ✗Onde histórias criam vida. Descubra agora