Capítulo 5 ~ Encontrei-o de novo

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(...)

Jantar do caloiro. Comida, bebida e muita diversão à mistura. Como o caloiro é UNO, isto é, somos todos um, segundo a praxe, tivemos de comer de mãos atadas ao colega do lado. Isto é, a rapariga do meu lado direito tinha a sua mão esquerda atada à minha direita. Percebem a ideia? Não imaginam a união que isso significa. Comermos coordenado, cedendo uma mão, um braço ao colega do lado. O significado  de união estava bem presente neste jantar.

Com o jantar teriminado, hora de ir embora. Tanta gente já completamente bêbeda e tantos que já nem o próprio nome sabem. Tenho sono e frio. Vim para aqui de autocarro e agora terei de fazer o caminho a pé. Sabem o que isso significa? Exato, vou ter de andar de saltos mais de 10 km até casa. E sabem uma coisa? Está a choviscar lá fora o que indica que alguém aqui vai apanhar uma grande chuvada até casa. Perdi-me das minhas amigas num momento em que fui à casa de banho e agora nem boleia. Provavelmente pensaram que eu teria ido embora de taxi ou algo assim. Um facto importantissimo sobre mim: perco-me com facilidade.

Peguei na minha mala e caminhei pelo passeio fora. A noite era relamente linda na cidade. Pelo menos as luzes fascinam-me. Umas mexem, outras não. Umas piscam, outras não. É, sem dúvida, algo lindissimo de se ver. E cá está a menina da aldeia, da província, de vestido comprido e sapatos de salto na mão. A brisa fresca da noite é irresistível de se sentir. Se não ficasse com uma constipação ou algo do género, seria capaz de acampar no meio da rotunda. Mas vá, se calhar a ideia não é lá muito boa.

Comecei a cantar uma música ao calhas. Exato, a música não existe mesmo e eu estou aqui a inventar algo parvo. Sim, eu sou parvinha de vez em quando. Por exemplo, cantar na rua não é a coisa mais normal do mundo.

“Olá de novo.” Ouço uma voz rouca atrás de mim. Num instante virei-me para ver a quem pertencia a voz. Adivinhem... tum-tum-tum! Rapaz da mota.

“Olá.” Disse meio de lado.

“Tens o hábito de andar sozinha não tens?”

“Parece que sim.” Falei.

“Onde está a arrogância de antes de ontem?” perguntou rindo-se baixinho. Nunca consigo ver a sua cara por causa daquele capacete.

“Nem eu sei.” Bufei

“Cansada?”

“Muito.” Ele saiu da mota e sentou-se na borda do passeio.

“Então e como foi a festa?” ele perguntou e eu sentei-me do seu lado.

“Era um jantar de caloiro.” Informo. Não me perguntem porquê que estou a falar com ele. Apenas preciso de falar com alguém e ele é a primeira pessoa que aparece na minha frente.

“Foi bom?” Ele perguntou.

“Sim. Obrigado” respondi. Instalou-se um breve silêncio.

“Queres uma boleia até casa?”

“É longe.”

“E então, quem tem mota não se cansa.”

“Mesmo assim.”

“Tens medo que descubra onde moras?”

“Não é isso” bufo. Ele subiu para cima da moto após tirar um capacete de baixo do bango da mota.

“Então?” pareceu olhar para mim. “Podes explicar-me o caminho.” Pausou. “O quê? Tens problemas em ficar despenteada?” ele brincou.

“Não.” Digo levantando-me. Levei as mãos ao meu coque e tirei o elástico. Quase que o via sorrir mas logo desviou o olhar.

“Podemos ir?” tentou saber enquanto me passava o capacete. Eu assenti e coloquei-o na cabeça. Puxei o meu vestido ligeiramente para cima e subi para cima da mota. “Agarra-te aqui.” Ele diz pausando as minhas mãos no seu peito. No início, fiquei meio reticente mas ele firmou lá as minhas mãos com as suas por cima. Sentia a sua pulsação acelerada. O seu peito era forte o que demonstrava ser alguém que se cultiva bem. “Não tenhas medo.” Ele afirma. “O importante é estares segura.” Ele diz suavemente e eu sorriu. Cheguei-me mais para perto dele e pausei o meu queixo no seu ombro. Em segundos, lá estavava a mota a arrancar. Confesso, no inicio quase morria de medo, no entanto, agora, isto parece divertido. Inclinei-me um pouco para trás para sentir a brisa a bater mais fortemente na minha cara. “Estás a gostar?”

“Bastante.”

“Onde moras mais ou menos?”

“Podes deixar-me na rotunda luminosa a meia duzia de km daqui.”

“Não queres que te leve a casa?”

“Não. Agraeço a boleia.” Digo

“Gosto mais de ti não rabugenta.” Ouvi-o gozar.

“Gosto mais de ti não idiota.” Ri-me baixinho.

“Brinca, brinca.” Ele diz e dá um safanão com a mota que me fez voltar a encostar a ele.

“Estás doido?” Berrei.

“Chama-se vingança.”

“Eu poderia morrer.” Digo meio chateada.

“Não podias nada. Eu não sou assim tão estúpido.”

“És sim. Falas com uma rapariga na rua e depois vingas-te de uma bincadeira.”

“Eu não o faria se te magosse está bem?”

“Porquê?”

“Porque não mato pessos.” Ele bufa.

“Ponto ok.” Bufo de volta. “Desculpa.” Digo quase ao eu ouvido e sinto a sua pele do pescoço arrepiar-se. Ele respirou fundo e assim que pôde estancionou a mota no sítio combinado.

“Desculpa eu.” Ele diz enquanto eu descia do veículo.

“Então até amanhã!” digo-lhe.

“Ficas bem?”

“Sim, obrigado mais uma vez pela boleia.”

“Obrigado eu.” Ele sorri “Pela companhia.”

“Desviei-te muito do caminho não foi?”

“Na verdade vivo do outro lado da cidade.” Ele ri-se.

“És mesmo idiota.” Rio-me com ele.

“Até amahã?” ele diz.

“Até amanhã.” Sorriu e ele arranca com a mota.

The Girl behind the Mask ✗Onde histórias criam vida. Descubra agora