Capítulo 26 ~ Baralhada

176 12 3
                                    

Novo dia, novas tentativas. Passei o resto da manhã à procura de jornais. Precisava de encontrar um apartamento o mais rápido possível. Acho que estou prestes a encontrar o certo. É só um pressentimento mas penso que conseguirei.

A Universidade foi uma seca como sempre e ainda passei na loja de música mas, infelizmente, esta encontrava-se fechada. Pensei em passar lá a seguir ao almoço mas pouco tempo me resta visto que já são 15 horas. Inicialmente, pensei em comer na escola, no entanto, com a fome que tenho,  isto é,  não tenho, decidi comer uma sandes por aí.

Por mais estranho que pareça encontrei o Range Rover do Harry à porta. Não,  não é confusão minha,  reconhecê-lo-ia de longe.

Entrei no café e andei calmamente até ao balcão onde pedi uma sandes de panado e o típico compal de pêra. Não me julguem, são bons demais.

"Hey!" Cumprimei sentando-me numa cadeira da mesa onde Harry bebia o seu café.  Ele deu um pulo com o susto que nem eu imaginaria tal.

"Bolas Julianne. " respirou fundo. "Boa tarde."

"Então,  bem disposto hoje?"

"Estou sempre."sorriu de lado e depois olhou-me nos olhos. "E tu, melhor? "

"Já estou bem." Sorri forçadamente.

"Claro que sim."

"Quando vem a próxima luta?"

"Só domingo."

"Ah... ainda bem que a Leah me pode cobrir. "

"Vais faltar?" Olhou-me desiludido.

"É." Encolhi os ombros. "Se for importante irei eu."

"Tu já nos acompanhas há algum tempo. "Olhou o café.

"Na verdade parece uma eternidade. Trabalhei apenas um dia completo e conheci grandes amigos."

"Tu e o Ben...?" Fez um gesto estranho roçando os indicadores.

"Não,  credo."

"Não o achas bonito?" Riu-se.

"Acho. Ele parece um príncipe.  Teria era pena dele."

"Não me pareces má miúda. "

"Nem tudo  o que parece, é." Sorriu. "Bom, tenho de ir."

"Até logo." Disse e eu simplesmente desapareci do local. Tenho pouco tempo para ir à loja antes de ir ao ginásio. Hoje é o meu ultimo dia e não quero faltar.

"Olá. " a minha saudação fez-se acompanhar do barulho do sininho pa porta.

"Sabia que eras tu. " o meu amigo abraçou-me. "Esperava que viesses."

"Precisa de algo?"coloquei as suas mãos entre as minhas assim que nis sentamos no sofá.

"Da última vez que vieste falaste-me do teu problema financeiro.  Talvez eu tenha a solução. " sorte, és tu? Ó meu Deus, bem eu digo que o céu não pode estar sempre nublado.

"Diga-me."

"Cada vez que cá vens trazes-me clientela. Todos querem conhecer a rapariga do piano. Nunca há movimento aqui. A rua é parada, quade deserta. No entanto,  as pessoas ouvem-te e vem sempre perguntar por ti. Vendi dois pianos e 5 flautas naquele dia. Há muito de 20 anos que não lucrava tanto."

Meu Deus! Basicamente as pessoas adoram ouvir-me e procuram por mim. Quando é que imaginaria que um hobbie poderia ser tão reconhecedor?

"O quê que isso vai mudar nas minhas finanças? " perguntei confusa.

"Deixa-me terminar."pediu e eu assenti. "Preciso que trabalhes aqui. Sei que não te poderei pagar um grande ordenado, mas estarás a fazer o que gostas."

"A sério? " deixei escapar e ele riu-se baixinho.

"Sim. O teu horário é à tarde. Costuma haver mais movimento a partir das 15. A loja fecha às 19. Só tens de estar cá pelo menos 3 horas por dia de modo a que consigas conciliar com os estudos."

"Ó meu Deus,  muito obrigado!" Abracei-o com força fazendo-o rir.

"Dás vida a isto." Ele suspirou.

"E isto deu-me vida." Referi-me à música. Ele apenas sorriu. Conseguiu sorrir-me por vários minutos sem trocarmos uma só palavra. Não era constrangedor e fazia-me sentir bem.

Fiquei a limpar algumas coisas enquanto fazia tempo para ir ao ginásio. Eu estava a ambientar-me bem naquilo.

"Agora conta-me." O velho sentou-se do meu lado enquanto dava lustre à tampa do piano. "Como estão as coisas?"

"Que coisas?"

"O rapaz da mota." Congelei. Não sabia o que dizer. Apetecia-me chorar mas não conseguia. Tento afasta-lo da minha mente. Doi quando me lembro de nós.

"Zangamo-nos." Tentei explicar.

"Isso parecia tão bonito. Vi o brilho nos teus olhos. Não entendo o que vos possa ter separado."

"Ele não gosta verdadeiramente de mim."

"O que te leva a pensar assim?"

"Ele disse basicamente que não sou suficiente."

"Ele é um idiota."ouço uma voz forte atras de mim. "Desculpa mas acabei por ouvir a vossa conversa. Julianne, ele não faz a mínima ideia do que perdeu."

"Concordo com o rapaz." O senhor ao meu lado comentou. "Ele não merece."

"Eu sei." Suspirei.  "Estou a tentar seguir em frente."

"Que tal uma boleia para o ginásio?" Zayn tentou aliviar a tensão.

"Seria ótimo. " sorri-lhe.

(...)

"Adoro esta música." Aumento o volume do rádio do carro.

"Eu também." Concordou.

"Como sabias onde me encontrar?"

"O Harry disse-me."

"O Harry?"

"Qual o espanto? Ele disse que gostavas de tocar piano lá." Olhou-me por instantes.

"E porquê que decidiste procurar-me?"

"Vá lá,  Julianne. Ambos sabemos que tu não estás bem."

"Por acaso até estou. Percebi que dependo apenas de mim mesma." Sorri.

"Fico mais descansado assim." O seu ar era sério.

(...)

Último dia de trabalho completo. Cada vez que penso apetece-me gritar de alegria. Não que o trabalho aqui seja mau mas, vocês sabem, a música é muito mais importante para mim.

"Obrigado por tudo." Abraço Ben.

"Obrigado eu."sussurrou. "Este é para ti. Lê quando tiveres tempo e estiveres sem força ou ânimo"

"Fá-lo-ei." Depositei um beijo no seu rosto.

"Bom, até amanhã." Despedi-me e os meus amigos assentiram.

Hora de novos horizontes. Hora de conseguir ser forte.

Saí do ginásio e andei até à entrada para a estrada principal. Isto parece um estúpido caminho de terra. Correção, estúpido caminho de terra e pedrinhas.

Assim que os meus pés atingiram o passeio, o meu corpo estremeceu. Uma mota vermelha e preta mesmo à minha frente. Não era qualquer uma,  era a dele. Ele estaria a metros de mim. O meu coração disparou como se se tratasse de um filme de terror. Eu tremia por todo o lado e só queria poder não me cruzar com ele. 

(...)

The Girl behind the Mask ✗Onde histórias criam vida. Descubra agora