Cafeteria

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O dia começou cedo hoje em Tóquio, esse ritmo acelerado e movimentado da cidade grande animava ainda mais Mia, que já as 8:00 da manhã estava no café onde trabalharia pela primeira vez. "Uma boa primeira impressão", repetia ela na sua cabeça várias vezes enquanto colocava o seu avental e ouvia a explicação de como o café perfeito deveria ser preparado.
Já passado das 10:00, um grande movimento de pessoas chegavam e saiam, pediam cafés, pães, bolinhos. E Mia, atrás do balcão a servi-los com um enorme sorriso no rosto, mesmo aqueles que pareciam super ignorantes.

Enquanto terminava de atender uma jovem moça, ouve alguns ruídos na porta de entrada. Alguém chega falando no telefone, com uma voz alta e risada contagiante, alguém que não estava nem aí para a privacidade ou tranquilidade do ambiente. Mia olha rapidamente para não perder o ritmo do trabalho e vê um homem alto, com um bodysuit azul de gola alta, tinha os cabelos brancos e o mais engraçado, uma venda preta tapando lhe os olhos. Ele gritava com a outra pessoa do outro lado do telefone, mas não estavam brigando, ele sorria e gargalhava e dizia "oioioi nanami". Além da personalidade aparentemente irritante, ele era bonito. Mais que bonito, mia pensou, mesmo com aquela roupa que lhe cobria todo o corpo, ela conseguia imaginar o que se escondia ali em baixo, o porte dele atlético, as mãos gigantes que seguravam o celular, e até o jeito de falar como se estivesse a ser provocativo o tempo inteiro.

  — Hey? moça!  - a senhora da fila diz com pressa.
  — Oh, me desculpe, aqui está - diz Mia voltando a sua atenção a cliente.

Ela pega o seu saco com bolinhos e sai, fazendo os outros seguirem a fila. Por alguma razão o quanto mais próximo -aquele- cliente chegava perto do balcão, mais Mia sentia arrepios, talvez fosse um tesão acumulado, mas ele era realmente muito gato. Ela tenta ignorar esses pensamentos para não parecer tão óbvia assim.

  — Bom dia o que vai ser? - fala ela com um pouco de indiferença.
— Bom dia senhorita... - diz a passar a língua pelo lábio inferior - Nanami eu ligo depois. - ele desliga rapidamente o telefone enquanto mantém o contato visual com ela.

Ela engole a seco, provavelmente ele já sentia a tensão dela, por que ele sabia que tinha esse efeito em algumas mulheres, para não dizer todas.

  — O seu pedido senhor... - Ela pega o papel e caneta para começar a anotar, assim não precisava ficar o encarando.
— São tantas coisas que eu gostaria de pedir agora, por exemplo um banho quente, já viu o frio que está hoje lá fora? - diz ele a apoiar uma das mãos sobre o balcão e chegar mais perto dela.
— Sim, não sabia que Tokyo podia ser tão frio - diz ela a descontrair.
— Oh uma forasteira... sabia que não era daqui, quase que senti o cheiro ao entrar. - Diz ele a "arregalar" os olhos, mesmo estando vendado ela conseguia os ver e perceber os movimentos que eles faziam.
— Está tão óbvio assim?
— Não, é só que eu me lembraria de já tivesse visto esse rostinho por essas ruas. - ela pisca e finalmente guarda do celular que estava na mão.
— Então e o seu pedido? eu e mais algumas pessoas aí -aponta pra fila com a cabeça- estamos esperando.
— Ah claro claro, vou querer o de sempre por favor - põe as mãos no bolso e arqueia levemente uma das sobrancelhas.
— E o que seria o de sempre? como eu mencionei hoje é o meu primeiro...
— Eu não tenho nada haver com isso, sempre que venho aqui basta me verem e já sabem o que eu quero, se não consegue fazer isso, acho que vou ter que encontrar outro café - Ele fala com um sorriso no rosto, como se estivesse a provocar, na verdade ele só falava com esse ar.

Ela respira fundo, não podia estragar o primeiro dia brigando com um cliente, ou ser grossa, aquele cara arrogante tinha cara de quem detinha de muito poder, e como já disse, era um cliente fixo, com certeza só pela birra iria falar com o gerente e adeus Mia em tokyo.

— Ótimo, se assim quer, vai ter que aguardar enquanto eu procuro o que seria o seu "de sempre" - Ela revira os olhos com desdém e vai até a cozinha perguntar a um de seus colegas.

Voltando de lá ela não o encara, as pessoas atrás da fila já se incomodavam, ele mantinha o sorriso no rosto e as mãos na cintura enquanto esperava, ele a observava fazer o café, olhando de cima a baixo, como se estivesse a adorar fazer aquilo. Ela pensava na sua cabeça que se fosse ter que o ver todos os dias, não ia aguentar muito tempo.

  — Aqui está senhor! Quatro cafés, um preto sem açúcar, um cappuccino com caramelo, um de chocolate com chantilly e confetes coloridos — ela fala enquanto tem um ponto de interrogação na cabeça, imaginando se ele tinha algum filho - e por último, um com três gotas de whiskey francês.

Ela fala com orgulho por ter feito tudo pela primeira vez muito rápido, como se dissesse "desafio concluído seu idiota".
Ele observa todos os cafés na bandeja e parece satisfeito.

— Posso tentar adivinhar o seu? com certeza o dos confeitos coloridos não é? - Ela diz com um sorrisinho no rosto.

Ele solta um ar pelo nariz e observa a morder o lábio inferior.

— Quando acaba o teu turno? - pergunta a levar um dos cafés na boca, o com whiskey.
— Às 7 - ela fala, quase como automático, como se o seu cérebro quisesse que ela dissesse, sem pensar, sem negar.
— Talvez queira conhecer um pouco mais de Tokyo hm, definitivamente posso te mostrar.
— Bem tentador, talvez aceite, talvez não, você vai ter que descobrir.

Ele parece ainda mais satisfeito com aquelas provocações, ele gostava de ser provocado, quando devolviam na mesma moeda as suas brincadeiras.
Ele sai ainda a manter o contato visual com ela, e levando os quatro cafes na mão, o que não era problema pois elas eram enormes. Desaparece logo e ela é obrigada a se concentrar nos outros clientes, mas não podia parar de pensar no que tinha acabado de acontecer.

Sensei | +18Onde histórias criam vida. Descubra agora