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Esse era o momento.

Ele gostando ou não do que eu falasse, se quisesse mesmo ficar comigo, iria me ouvir e me apoiar. Mas, se não quisesse iria terminar comigo mais uma vez e aí sim, eu iria morrer de tristeza.

Mas tudo era tão imprevisível.

- Você quer a parte resumida ou quer saber de cada detalhe? - perguntei, eu gostaria muito da parte resumida por que seria muito mais prático e rápido, e eu não precisaria ficar lembrando tanto tempo sobre tudo que tinha acontecido.

- Quero saber o que você desejar que eu saiba. - ele levou o cigarro até a boca e tragou, logo deixando de lado e se virando pra mim. - Qual o problema, querida?

Todos. Todos mesmos.

- Certo... - suspirei. - A qualquer momento você pode me interromper caso não entenda algo, ou então, se sinta curioso em relação. Tudo bem?

- Sim.

- Então, eu me mudo muito, você sabe. Ou melhor, me mudava. Automaticamente isso faz com que se conheça muita gente, façamos muitas amizades e entre outras coisas. - falei. - Quando meus pais e eu nos mudamos pra Nova York eu conheci alguém.

Eu olhei pra ele e, até agora, ele estava atento a tudo que eu falava e não parecia querer saber de algo, ainda.

- Um namorado? - ele quis saber e eu balancei a cabeça, concordando. - Entendo.

- Eu tinha quinze quando o conheci na escola, ele era alguns anos mais velho. Na época muito bonito, muito charmoso e muito, muito, gentil.

- E você se apaixonou.

Infelizmente.

- Sim.

Uma das piores escolhas da minha vida.

- Quanto tempo ficaram juntos?

- Quatro anos.

E três anos de puro inferno.

Por que no começo tudo é incrível, aparentemente uma pessoa incrível e gentil, mas depois, tudo piora.

- Então, é recente. - ele balançou a cabeça. - Recente quanto?

Merda, para mim parecia uma eternidade.

- Tem alguns meses que terminamos.

- Quantos? - quis saber.

- Quase dez, eu acho.

Muito tempo mas nem tanto, porém o alívio era imenso.

- Bom.

Ainda bem que finalmente aconteceu, eu já estava tão esgotada e tão cega que demorou quatro anos para eu finalmente conseguir me desapegar totalmente e minha nossa, foi a melhor decisão.

- Nossa relação era um pouco complicada. - contei. - Ele era abusivo, raramente ele estava bem e nunca, nunca mesmo, estava satisfeito com nada.

Pausei, queria que ele dissesse algo mas não fez. Ele estava impassível, não tinha expressão. Então continuei.

- Ele nunca me agrediu fisicamente, mas mesmo sem fazer isso doía tanto, tanto, que era como se fosse. E a única maneira que eu conseguia de me aliviar disso, era me cortando.

Eu abaixei meu shorts e indiquei o local em minha coxa que bem perto da virilha tinha os quatro cortes, quatro e meio, eu não podia me esquecer do que tinha feito recentemente.

- Vê? - eu peguei sua mão e coloquei em cima. - Consegue sentir?

Não sei por quanto tempo ele ficou ali, tocando, mas eu já estava com vontade de chorar porque agora sim, ele iria terminar comigo.

john; johnny deppOnde histórias criam vida. Descubra agora