Capítulo Trinta e Seis

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Até mesmo animais obedientes possuem presas e garras.

Harry estava consciente de tudo que aconteceu naquela sala. Cada pedaço de diálogo se gravou em sua mente como ferro quente.

E ele nunca se sentiu mais sujo.

Seu corpo correspondia a cada mínimo toque, parecia um espectador de sua própria vida, porém dessa vez ele não teve o privilégio de deixar sua mente flutuar para longe quando como o sistema controlava seu corpo.

Cada. Segundo.

Ele teve que suportar cada segundo.

Por sua culpa, Draco teve que passar por isso.

Por sua culpa, foi reduzido a um estado tão patético na frente dele.

Por sua culpa, Voldemort o chamava de vadia.

Tudo aquilo era sua culpa.

Sua culpa por não ser forte o suficiente.

Sua culpa por não ser vigilante o suficiente.

Sua culpa por não ser inteligente o suficiente.

Sua culpa por não ser obediente o suficiente.

Se obedecesse Voldemort, teria uma vida melhor, não era? Um pouco de paz e as pessoas que amava estariam seguras.

Se obedecesse…

Porque tinha que obedecer?

Foi Voldemort que o colocou naquele inferno em primeiro lugar.

A culpa era dele.

Mas a sua rebeldia não levaria a nenhuma solução boa.

Se obedecesse, Draco não teria que passar por isso novamente.

Se obedecesse, talvez Voldemort fosse um pouco mais gentil.

Se obedecesse…

Se…

— "Ainda não acabamos, Harry." — A venda foi removida de seus olhos, Voldemort pareceu satisfeito com o que viu neles. — "Entendeu seu lugar agora? Você é meu, apenas meu e eu não compartilho. Você não passa de uma vadia barata aos olhos do Malfoy agora, o monstro que roubou o resquício de inocência que lhe restava. Você entendeu?"

Se obedecesse…

… Draco ficaria bem.

— "Use suas palavras, ou a poção foi tão forte que você virou um retardado?" — Voldemort segurou em seu queixo, o dedo deslizando para o interior de sua boca.

Se obedecesse…

… O que restaria de si, afinal?

Se tornaria uma casca vazia.

Um objeto.

Uma posse de Voldemort.

Mas ele não era nada disso.

Era uma pessoa, uma kitsune, ninfa e o que quer que aquele teste de herança tenha acrescentado mais.

Porém, todas essas criaturas tinham algo em comum.

Nasceram para ser livres.

Não seguir ordens.

Se Voldemort queria o reduzir para um animal obediente, mostraria que até mesmo eles ainda tinham garras e presas.

O gosto ferroso invadiu sua boca enquanto Voldemort se afastava, assustado, a mão sobre o ferimento em seu dedo.

O sistema não reagiu, parecendo tão chocado quanto Voldemort.

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