Para o resto do mundo, você está morto.
Narcisa assistiu com admiração o momento em que a vida pareceu voltar aos olhos de Harry, que estendeu uma das mãos em direção ao seu filho.
Ambos choravam quando se abraçaram, decidiu sair, querendo dar um pouco de privacidade aos dois.
— "Como… como você— deveria estar em Hogwarts..!" — Foi a primeira coisa que falou em semanas. Não era poético, romântico, emocionante ou o que for, não algo que escreveria em uma de suas histórias, mas era a sua vida e ele tinha permissão para agir como um humano.
— "Minha mãe conseguiu uma licença para mim… Não importa, eu vou te tirar daqui, ok? Só… me dê um pouco de tempo, eu vou pensar em algo e—"
— "Você não pode." — Harry interrompeu, segurando o rosto de Draco em suas mãos. — "Ele vai me encontrar onde quer que eu esteja, eu sou uma propriedade dele, Draco, você… você só iria acabar morto."
Não queria que Draco corresse esse risco, não por ele.
— "Harry, o que você está dizendo?! Você não é um objeto para ser uma propriedade! Ele não pode—"
— "Ele pode. E ele fez." — Mostrou seu anel de casamento, que selava o contrato e era seu "rastreador". Não poderia retirar, ninguém além de Voldemort tinha esse poder.
Toda a animação, resquício de esperança, no rosto de Draco sumiu.
— "Draco, você tem que ir." — Narcisa voltou ao quarto, não demorando em apressá-lo para sair.
Draco beijou sua bochecha, apertando suas mãos e sussurrando: Sempre temos o amanhã.
Sua maquiagem foi tirada, sua roupa trocada e seu corpo colocado de volta na cama.
— "Boa noite, Harry." — Narcisa se despediu quando Voldemort entrou, se curvando para ele antes de sair.
Além de Voldemort, havia outros dois homens junto a ele.
— "Esses são Rabastan e Rodolphus, eles estarão de olho em você para não fazer nenhuma tolice." — Os irmãos Lestrange, claro. Sempre tinha esse clichê.
Voldemort se aproximou e beijou seus lábios, algo que não tinha feito há muito tempo, junto com um carinho em seu cabelo.
— "Boa noite, querido." — E, enfim, ele foi embora. Harry não fez questão de prestar atenção nos irmãos, fechando os olhos e se permitindo descansar um pouco.
Os dias passaram se arrastando. Não importa o quanto os Lestrange tentassem, Harry não falava uma palavra. Eles o levavam para passear pelo jardim, já que Harry parecia mais tranquilo lá, porém, quando o inverno avançou isso teve que ser interrompido.
Agora, o deixaram em frente a lareira, com uma xícara de chocolate quente nas mãos. Harry não falava e quase nunca andava, mas escutava as conversas.
Os planos de Voldemort não importavam, aquela guerra não era sua e já existia um Harry Potter do lado de fora para lutar contra isso.
O Natal estava cada dia mais próximo e Harry entrava no seu segundo mês de gestação. Não havia nenhum sinal visível de que havia algo crescendo ali, no entanto.
Cada dia sua comida era acompanhada de mais e mais poções de nutrição, para evitar seus enjôos e para tornar aquela gravidez o mais segura possível.
Voldemort também estava cada dia mais… gentil. Harry poderia dormir em paz agora, Voldemort não o tocava mais. Ele também conversava mais.
Contava sobre seus planos e esperava que Harry tivesse uma reação, apenas para se decepcionar com o silêncio.
Teria um outro baile no Natal, o chamado Yule. Harry não sabia os rituais do feriado, em outro momento estaria interessado, mas agora… só queria que tudo acabasse logo.
Voldemort tentou o fazer participar da celebração, mas Harry estragava o clima do Yule e acabou sendo deixado de lado, no seu lugar perto da lareira.
Também não apareceu ao baile, segundo Voldemort, seria exaustivo e não queria colocar sua segurança — a segurança do feto crescendo em seu ventre — em risco.
Os Lestrange tentavam o convencer a jogar xadrez quando leves batidas na porta foram ouvidas.
— "Por favor, dê uma chance… Fará bem a ele." — Era a voz de Narcisa.
— "O Lord…"
— "O Lord não irá saber."
Silêncio. Um suspiro. A porta foi aberta.
— "Harry!" — Era a voz de Draco. E Harry sorriu. — "Vocês… estavam jogando xadrez? Faz tempo que não jogamos, que tal uma partida?" — O tabuleiro estava montado na mesa, duas cadeiras dispostas.
— "Realmente… faz bastante tempo." — Aquela era provavelmente a primeira vez que os Lestrange ouviam a voz de Harry. Draco o ajudou a se levantar e o guiou até uma das cadeiras. Harry jogava com as peças brancas.
Eles conversavam de forma despreocupada, falavam sobre a escola, os professores, como se estivessem de volta aqueles dias tranquilos em Hogwarts.
Os irmãos Lestrange se entreolharam, como um adolescente fez em menos de um minuto algo que eles estavam tentando fazer há um mês? Quando olharam para Narcisa, ela sorria, murmurando um "eu avisei".
— "Xeque mate." — Draco anunciou, Harry riu. era a primeira vez que perdia no xadrez pra ele.
— "Você melhorou muito desde a última vez que jogamos…" — Harry continuou sorrindo, gostando de lembrar desses eventos que pareciam tão distantes, mas foram apenas alguns meses atrás.
— "Óbvio, eu ainda tenho que tirar o sorriso presunçoso daquele ruivo idiota." — Draco não havia mudado nada, isso era bom.
— "Como eles estão? Luna, Harry, Rony, Hermione… Devem ter ficado preocupados com o meu sumiço." — Viu o Malfoy se mexer desconfortavelmente na cadeira, incomodado com a pergunta.
— "Você foi dado como desaparecido, eles investigaram por um tempo, mas em agosto disseram que acharam seu corpo. Meus pais foram chamados para fazer o reconhecimento… não era você, nem se parecia, mas eles tiveram que confirmar." — Ouviu com atenção, nem sequer pensando duas vezes antes de saber que foi armação de Voldemort. Muita coincidência "seu" corpo ser encontrado logo após o casamento, não é? — "Para o resto do mundo, você está morto."
Morto.
Harry se deu um tempo para digerir esse conceito.
É, ele estava morto.
— "O acusado do crime foi Crouch Jr, descobriram que ele mantinha o verdadeiro professor Moody dentro de um baú e tomava poção polissuco. Potter acredita fielmente que sua morte tem ligação com o Lord das Trevas, bem, ele não está errado, não é? Mas todos acham que ele é louco."
Draco começou a arrumar o tabuleiro novamente, enquanto continuava a tagarelar.
— "Sabe, ele venceu o torneio, mas quando retornou com a taça começou a falar para todos que queriam ouvir que o Lord das Trevas havia voltado. Todos pensaram que ele só tinha batido a cabeça ou sofrido algum feitiço atordoante… mas ele continuou com isso. Algumas horas depois confirmaram o seu desaparecimento." — Harry apenas deu um longo suspiro, não poderia fazer nada sobre isso se não conseguisse escapar; o que parecia uma possibilidade cada vez mais distante.
— "Draco, temos que ir. Sinto muito, Harry, vocês vão poder conversar mais em outro momento, ok?" — Narcisa interrompeu, claramente culpada por ter que fazer isso.
Draco hesitou, Harry quase implorou: fica.
Mas ambos sabiam que isso seria impossível.
Ele foi embora.
E Harry parou de sorrir.
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Hush
Fanfiction[concluída] Harry Evans era um escritor de fanfics conhecido por trabalhar principalmente com universos alternativos e ter uma língua bastante afiada. Bem, ele não hesitava nem por um segundo antes de criticar as fanfics alheias. Ortografia ruim e e...