Capítulo Trinta e Dois

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Primeira Queima.

As celebrações de ano novo passaram. Voldemort não o forçou a se envolver em nenhuma delas, Harry finalmente tendo um pouco de paz naquela gaiola dourada.

Não se sentia agradecido a Voldemort, no entanto. Foi ele que o prendeu em primeiro lugar. 

E Harry sabia, não era para o seu bem; nunca seria. Aquela gravidez era de risco e Voldemort não queria perder um segundo herdeiro. 

O curandeiro estava de volta toda semana para o checar, Harry não se incomodou em gravar seu nome. 

Às vezes, olhando a neve cair pela janela, Harry se perguntava se havia desistido cedo demais. Os Harrys de outras fanfics — os Harrys das suas fanfics — eram fortes, astutos, corajosos até o último suspiro. 

Enquanto ele estava confinado em uma cadeira de rodas pois seu corpo era frágil, não falava, não resistia. Não mais. Se lembrava de descrever os olhos verdes de Harry Potter como brilhantes, esperançosos, selvagens, em chamas que nunca se apagavam. Os seus eram… apenas um verde pálido. 

Não havia brilho, esperança ou selvageria, nenhuma única chama naquele frio invernal. Na verdade, não havia nada. 

Ele era o mais fraco de todos os Harrys, que ruiu no primeiro impacto. O que poderia fazer? Ele não era Harry Potter, não era um protagonista desses livros juvenis que sempre são inabaláveis. 

Ele era apenas um humano. 

E então, após muito tempo, Harry chorou.

— "Lord Consorte!? Está tudo bem? Algum problema?" — Um dos Lestrange que o fazia companhia estava em sua cola segundos depois, procurando algum sinal de ferimento. — "Está com dor em algum lugar!?" 

— "Eu… eu quero ir.. pra casa…" — Gaguejou entre os soluços, seu choro não era bonito; era feio, desesperado, atormentado.

Ele viu o homem — nem sequer sabia qual dos dois irmãos aquele era — parecer aliviado por um instante, apenas para a culpa tomar o lugar. Harry era jovem demais. 

— "Desculpe, Lord Consorte, esse é um dos únicos pedidos que não posso cumprir." 

Mais tarde, Harry soube que aquele era Rabastan. Eles jogavam xadrez juntos agora, Harry nunca venceu uma partida. 

Aos poucos, começou a falar; ainda bastante monossilábico, no entanto. Mas isso parecia ser o suficiente para os irmãos. 

Sua primeira frase longa foi: Podem me chamar de Harry. Afinal, odiava aquele título ridículo. Eles hesitaram no começo, mas Harry era muito bom em fazê-los se sentirem culpados cada vez que usavam Lord Consorte. 

O inverno se foi em março, para o tormento de Harry. Cinco meses. A elevação em seu abdômen não combinava com seu corpo magro e pequeno, era como uma pintura triste. 

Os espelhos do quarto foram cobertos pelos irmãos ao seu pedido. 

Pelo menos poderia voltar ao jardim agora. A neve e o gelo derreteram, dando lugar às belas flores que cresciam nas mais diversas cores. 

Era o mais próximo que chegaria de uma floresta agora. Entretanto, quando tocava nas pétalas, não sentia nada. Nenhum sussurro ou palavras doces, não sentia a vida, a magia. Os espinhos maltratavam seus dedos, o sangue vermelho manchando as pétalas brancas. 

Tinha vários curativos nos dedos agora. 

Voldemort não ficou feliz quando os viu. Castigou os irmãos na frente de Harry antes de se aproximar. Ajoelhou-se em frente a sua cadeira, envolvendo suas mãos pequenas e machucadas em suas maiores.

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