Nove de espadas
Definitivamente não foi uma tarde tranquila em Grimmauld Place.
Não para Sirius, ao menos.
Além daquele desastre de reunião em que Dumbledore escondeu mais segredos que tudo no mundo, disse que tinham que se preparar pois a guerra estava cada vez mais próxima.
Bem, obrigado por falar o óbvio, eu acho.
E, para a cereja do bolo, Kreacher veio o informar que havia algo de errado com Harry.
Subiu às pressas até a biblioteca, Moony em seu encalço, e viram seu filhotinho adormecido, tão pálido quanto a neve, mas a parte inferior de seu corpo encharcada com sangue.
Sirius quase desmaiou junto ali mesmo.
E o resto foi um borrão de vozes apressadas, suas mãos ficando mais sujas de sangue enquanto carregava seu filhote e ele sendo arrancado de seus braços para receber os cuidados que precisava.
Por um momento, pensou que iria perdê-lo.
E, quando questionou Kreacher sobre o que aconteceu, se sentiu ainda pior — se Harry morresse, a culpa seria sua.
E nem mesmo Moony poderia o consolar agora.
oOo
— "Nós realmente deveríamos estar fazendo isso?" — Perguntou aos sussurros enquanto Harry conferia que não havia ninguém.
— "Bem, não, mas desde quando nos importamos com as regras da escola? Vem, vem, tudo limpo." — Sorriu travesso, puxando sua mão para que entrassem pela porta dos fundos do ginásio e fossem direto para os banheiros.
Porque especificamente os banheiros do ginásio? Bem, primeiro que ninguém estaria lá ou iria os interromper, segundo, porque eles eram mais limpos que o resto.
— "Estamos perdendo a aula de matemática… se nos descobrirem…" — Harry revirou os olhos.
— "Escuta. Ninguém vai descobrir, confia em mim." — Piscou um dos olhos, sorrindo, conseguindo arrancar um sorrisinho dele também. — "Confia?"
— "É claro que sim, idiota."
E então os banheiros do ginásio em toda a sua glória nem tão gloriosa assim.
— "Quer mesmo fazer isso? Ainda dá tempo de voltar e dizer pro professor que você demorou um pouco mais no banheiro." — Perguntou antes de sequer tirar a mochila das costas.
— "Quero." — Ele parecia confiante o suficiente. Harry deu de ombros, colocando a mochila no balcão da pia e tirando uma caixinha de dentro, junto com um pedaço de tecido de cetim.
Doeu um pouco na sua alma ter que estendê-lo naquele chão, mas tudo bem. Sentou junto a ele, separados pelo cetim.
Abriu a caixa e acendeu uma vela de incenso, deixando de lado. Por fim, retirou as cartas, começando a embaralhar quando perguntou, com um sorriso:
— "O que quer perguntar hoje, █████?"
A claridade incomodou seus olhos, até ser forçado a abri-los. E não era Grimmauld Place, isso foi óbvio no primeiro instante.
A cama, ou melhor, maca, era dura demais, estava usando roupa hospitalar e havia uma cortina divisória impedindo-o de ver o resto do cômodo.
Mas apenas pela mágica que o abraçava como um cobertor, dizendo bem-vindo de volta, teve certeza de onde estava.
Hogwarts.
Inclinando a cabeça para o lado, no pequeno sofá ao lado da maca, estava Sirius. Ele dormia.
Seu corpo estava dormente, sua garganta seca, se sentia como se tivesse sido atropelado por uma manada de elefantes.
Abriu a boca para falar, mas quase que sua voz não saía.
— "Siri…" — Chamou, mesmo que parecesse mais um ruído rouco do que uma palavra compreensível.
Ele se mexeu um pouco, mas não acordou.
Chamou novamente, com um pouco mais de força dessa vez.
Sirius acordou, desorientado, mas, quando o viu já acordado, sorriu aliviado.
— "Harry! Por merlin... como você está se sentindo? Está com dor? Desconfortável em algum lugar? Eu posso pegar mais travesseiros." — Ele se aproximou de sua cama de forma apressada, segurando sua mão.
Como se seu corpo estivesse ligando aos poucos, Harry agora tinha um pouco mais de força para apertar as mãos dele de volta.
— "Estou bem, Siri. Quer dizer, não tão bem, já que estou numa maca." — Deu uma breve risada, sentindo sua garganta arranhar.
— "Você não vai parar de fazer piadinhas nem a beira da morte, não é?" — Bem, pela forma que ele estava sorrindo, não deveria ser realmente uma repreensão.
— "Como se algum dia eu fosse morrer." — Revirou os olhos, e, com a ajuda de Sirius, se sentou na cama, apoiado em travesseiros. — "Muito inteligente me trazer para Hogwarts, deixe-me adivinhar, hemorragia?"
— "Sim, levamos você até o St. Mungus antes, para os… procedimentos. Você sabe, retirar o... feto, curetagem e cessar a hemorragia. Depois trouxemos você para Hogwarts, já que não seria seguro se continuássemos lá." — Harry não pensou que praticamente tudo já tivesse sidofeito.
— "Quanto tempo se passou?" — Porra, estava dormindo a dois dias ou o que?
— "Um dia. Você tomou poções para reabastecer o sangue e agora que está acordado, ainda hoje acho que já vou poder te levar de volta para casa." — Bom, muito bom. Não era porque achava que Hogwarts era completamente insegura, mas tinha seus momentos.
Comensais não iriam invadir até o final do ano letivo, certo? E ainda era o que? Outubro? Não tinha que se preocupar muito..
— "Hm… certo. Tem água? Estou com sede." — Pediu, precisando de uma desculpa para poder ficar em silêncio com seus pensamentos.
Mesmo que tivesse dormido por um dia inteiro, ainda se sentia sonolento e todo o seu corpo parecia pesar uma tonelada.
Mas no fim… realmente tinha conseguido.
Como estava Elliot? Será que estava com saudades? Queria estar com ele. A senhora Weasley estava cuidando bem dele? Esperava que sim.
Sirius o ajudou a beber a água, trazendo assim um alívio a sua garganta.
— "Siri…" — Iniciou, segurando a mão dele. — "... eu realmente fiz a coisa certa?"
Não era religioso, nunca foi, mas precisava se apegar a uma fé para manter a sanidade, para não enlouquecer. Para que todo esse sofrimento que passou tivesse uma justificativa.
Mas e se no fim apenas estivesse fazendo tudo errado?
Queria gritar.
— "Você fez, Harry, não se preocupe com isso. Você fez o melhor que podia fazer." — Sirius o abraçou, tentando trazer algum conforto.
O sonho — ou melhor, memória — que teve enquanto dormia veio à tona novamente em seus pensamentos.
Não se lembrava mais das perguntas que ele fez, mas a última carta que tirou estava clara em sua mente, um nove de espadas.
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Hush
Fanfiction[concluída] Harry Evans era um escritor de fanfics conhecido por trabalhar principalmente com universos alternativos e ter uma língua bastante afiada. Bem, ele não hesitava nem por um segundo antes de criticar as fanfics alheias. Ortografia ruim e e...