Capítulo Cinquenta e Três

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Orgulho e Arrogância.

Harry piscou e já era janeiro. Foi como se o tempo desde a sua discussão com Draco passasse tão rápido, mas ao mesmo tempo tão lento.

Era doloroso o ver todos os fins de semana, a forma como ele desviava o olhar e fingia não o ouvir.

Mas Harry era muito orgulhoso, arrogante e queria que o mundo se dobrasse a sua vontade.

E aprenderá da pior forma que não, o mundo não lhe devia nada e que havia forças muito maiores do que poderia controlar.

Uma delas, era o tempo.

Tão misterioso, o tempo.

Quis prever o futuro, arrogante o suficiente para crer que sempre estaria certo, que todas as suas previsões iriam se concretizar.

A sua arrogância de se achar deus o fez perder dois anos.

E agora o seu orgulho o faria perder não se sabe mais quantos, apenas porque não conseguia admitir algo simples.

Ele quem tinha que se curvar ao mundo, não o contrário.

Ele quem tinha que pedir desculpas a Draco, não esperar que ele venha primeiro.

Mas, como um rei isolado em seu castelo que fechava os olhos para seu povo passando fome, Harry fingiu que não via Draco, mesmo que seus olhos sempre acabassem nele de qualquer maneira.

Era como uma dança sem fim, da melodia de um disco arranhado que fazia os ouvidos doerem.

Elliot estava começando a falar, apenas algumas sílabas, mas já era um começo. Harry conversava com ele cada vez mais para incentivar.

Apenas precisava do seu filho e estaria tudo bem.

Não estava quebrado.

No tempo livre, deixava de dormir para empilhar livros na mesa da biblioteca. Odiava admitir, mas Walburga estava certa e conforme suas opções diminuíram, seu desespero crescia.

Muitas vezes, olhava para as facas na cozinha, pensando em como seria fácil apenas cortar seu dedo fora.

Mas toda vez a voz dele voltava à sua mente.

Não esqueça a quem você pertence.

Harry queria, mais que tudo, esquecer.

A vida parecia estar retornando ao normal. Draco virou um assunto no fundo de sua mente, vivia por Elliot e cada pequeno avanço dele era motivo de sua alegria por dias.

Agora, ele já começava a ensaiar seus primeiros passos enquanto se apoiava nos móveis. Harry o seguiu para lá e para cá com uma câmera bruxa, registrando todos os momentos para encher um álbum que Remus o deu.

Tão absorvido no clima bom enquanto ficava com Elliot, se alienou a tudo — inclusive a guerra.

Não deixava nem mesmo Sirius e Remus se aproximarem de seu filho, era seu, afinal.

Elliot gostava de brincar com o seu anel, morder e babar inteiro, felizmente, nunca se machucou fazendo isso.

Estava caindo em uma rotina. Às vezes, no silêncio da madrugada quando Elliot estava dormindo, acordava com uma inquietação no peito, um aperto, como se seu coração estivesse sendo apertado.

Algo o dizia para não se acostumar, que a paz não iria durar muito mais tempo.

E que não poderia se esquecer do que tinha que fazer.

Ainda havia uma profecia e uma horcrux.

E então, fevereiro passou também.

Elliot estava cada vez mais falante e conseguia ficar em pé apoiado nos móveis por mais tempo.

Harry já tinha enchido um álbum e pediu outro.

O mundo não estava acabando, poderia desacelerar.

E foi o que fez.

Sirius mencionou algo sobre um corte de cabelo e foi assim que passou o tempo de sua tarde, sentado na frente do espelho, com a senhora Weasley em suas costas e Elliot brincando em um cercadinho.

Era quase como se nada tivesse acontecido. E Harry queria manter como estava.

Claro, não ouviu Remus conversando com Sirius na cozinha no meio da madrugada, decidindo o que deveriam fazer com o afilhado quando a guerra acabasse.

E, se ouviu, eles não precisavam saber.

Foi assim que, em um piscar de olhos, parou de falar com Sirius e Remus também. Eles mencionaram interná-lo na ala psiquiátrica do St Mungus, Harry sabia que isso deveria ser apenas uma desculpa para separá-lo de seu filho.

Afinal, Elliot tinha o sangue dele.

E, toda vez que lembrava disso, às vezes olhava para seu pescoço e aquela voz no fundo de sua mente sussurrava o quão fácil seria.

Felizmente, Harry nunca a ouviu.

Março trouxe a primavera e, com ela, Draco também voltou, com uma única flor. Harry não queria vê-lo, mas sabia que ele observava pela brecha das portas.

A rosa murchou, Harry a jogou fora.

E nesse dia, Draco e ele ficaram sozinhos no mesmo cômodo. O silêncio era assassino, mas falar era uma sentença de morte. E ele foi o primeiro a se render.

— "Harry." — Ouviu sua voz, depois de mais de um mês.

Não houve conversa.

Puxou-o pelo colarinho e juntou os lábios, depois disso, sua boca teve outra utilidade além de falar.

Mas no fim, Harry ainda era orgulhoso e Draco ainda estava magoado.

A carne é fraca, dizem, mas o ego era como uma muralha impenetrável. Draco foi embora e Harry voltou para seu filho.

Talvez fosse apenas um caso de pessoa certa, porém no momento errado, ou talvez apenas não era para ser.

Mas Harry continuaria caindo em tentação.

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