2.2 Golden Autumn

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- Eu fico revivendo aquilo dia após dia, não tem fim. - digo ao meu terapeuta Dr.Felton.

Ele me encara atentamente, com seu óculos de grau, um pouco abaixo dos olhos. Eu acho que já disse essa frase um milhão de vezes, mas ele sempre sabe o que falar. Amém!

Depois da sessão, voltei para o meu carro e encarei o volante, queria que ele pudesse dizer algo. Olhei para o banco de trás e Anabella dormia na cadeirinha. Olhar para ela, como sempre, me acalmou.

Confesso que se não fosse por ela nesse tempo, eu nem sei. Depois daquele dia... Depois daquele terrível dia, eu sumi. Comprei a primeira passagem que vi para Golden Autumn, cidade em que eu passava alguns finais de semana na casa da minha vó, na infância. 

Poucas pessoas sabem onde estou, eu sumi de tudo. Deletei meu canal, minha assessoria fez com que minha mudança fosse super discreta. E agora, eu sou Alexa Carter, dona de uma floricultura, de cabelos curtos e escuros, mãe de uma filha pequena que chegou a pouco tempo do Alasca. 

Golden Autumn é uma cidade super pequena, ao norte do Canadá. Quase não pega área de celular aqui, muito menos wi-fi. É bem limitado. Mas, eu não me importo. Anabella vai fazer dois anos daqui alguns meses, ela mal sabe falar ainda, quem dirá usar um celular.

Eu só quero paz e segurança. Eu só quero cuidar da minha filha como uma pessoa "normal", sem aquilo tudo de Los Angeles. 



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Chego até a floricultura, e Stacy minha ajudante, está no caixa. Ela me vê e corre abrir a porta já que eu segurava o bebê conforto com as duas mãos.

- Obrigada! - digo ao entrar e ela apenas sorri - Como está o movimento?- pergunto enquanto penduro meu casaco no porta casacos ao lado da porta.

- Está tudo bem. - diz enquanto termina de atender uma cliente. - Obrigada e volte sempre!  - entrega meia dúzia de tulipas à senhora que caminha até mim.

- Tenha um bom dia. - digo enquanto ela vai até a porta.

Levo Anabella para trás do balcão e a deixo num lugar que reservei para ela. 

- Posso ir almoçar agora Srta. Alexa? 

- Já falei que é só Alexa, Stacy. Você pode ir sim.

- Ok. Desculpa, senhori... Alexa. - ela acaba rindo e eu também.

Assim que Stacy saiu, duas clientes chegaram e fui atendê-las. 

O dia foi bem tranquilo, sem muita correria. Quando deu cinco e meia da tarde, fechei a loja e fui até o mercado. Ana adora comer manga, mas todas as que eu tinha já acabaram.

O trajeto de volta pra casa foi bem tranquilo, eu morava há vinte minutos da cidade. Perto de onde minha vó morava com poucos vizinhos ao redor. Minha casa era bem normal, levemente grande e tinha um lago na propriedade. 

Por algum milagre, o sinal era até bom ali. Então eu conseguia ligar pros meus pais, pro Chris e meu amigos. Eu realmente sentia uma saudade imensa deles e isso me matava toda noite quando eu me deitava pra dormir. Quer dizer, não que eu durma muito, né?! Já que meus pesadelos fazem questão de me atormentarem a noite toda.



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- Mamá... - eu estava colocando Ana pra dormir, mas ela é teimosa e só queria "conversar". 

Depois de um esforço, consegui que ela dormisse e fui jantar. Assim, que terminei de servir meu strogonoff de cogumelos, ouvi meu celular tocar sobre a mesa e o nome de Robert estava na tela.

- Agora que eu ia comer... - atendi a ligação e ele riu.

- Você poderia estar jantando em paz se me ligasse. - me xinga.

- Dramático! - dou uma garfada na comida.

- Como você está?

- Bem e você? - pergunto terminando de engolir.

- Não ouse mentir pra mim. - suspiro.

- Só os mesmos pesadelos ainda... - ficamos em silêncio.

- Está fazendo terapia ainda, certo?

- Sim...

- Ótimo! Mas, eu estou aqui sempre. - sinto minha garganta fechar e as lágrimas chegando.

- Eu sei. Obrigada. - digo tentando não demonstrar.

- Ele te procurou de novo. Me ligou hoje de tarde.

- E o que você disse?

- A mesma coisa, que eu não sei onde você está. - respiro fundo.

- Obrigada.

- Sabe Tina... - ele começa, mas eu sei o que vai dizer.

- Eu preciso ir agora, ok? Ana acordou. Eu te amo.

- Espera... - desligo o celular.

Deixo as lágrimas caírem. Lembro do perfume "dele" e como me fazia rir, mas também do que me fez. Então, não choro só de saudade...


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Então, meus amores. Quem será esse "ele"? Espero que tenham gostado. xoxo







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