6.6 Angústia

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_RIO NARRANDO_

Eu cheguei na floricultura antes do horário. Me sentei num banco um pouco afastado, para esperar Christina chegar, já que seria estranho eu ficar lá na frente.

Não demorou muito até um carro preto estacionar na frente da loja. Era ela.
Desceu do carro e abriu a porta de trás, pegou a bolsa da bebê e colocou no ombro, depois consegui ver Anabella no colo dela. Assim que ela entrou na floricultura, eu me levantei e fui até lá.

Abri a porta, e o sininho nela avisou isso. Christina que estava no mesmo lugar de ontem quando cheguei, deu uma espiada e pude ver as bochechas dela ganharem um leve tom de rosa.

Sorri de lado, nada muito exagerado, e cheguei até o balcão.

- Hey. - ela fechou a porta da sala bem devagar, acho que Anabella dormia lá dentro.

- Hey. - falei. Ela vestiu um avental e me  deu uma olhada.

- Não quer tirar seu casaco? - neguei.

- Eu quero me explicar.

- Explicar o motivo de você agir como um completo cavalheiro, se aproximar de mim, ser um belo amigo, enquanto eu estava grávida... - ela mexia nuns papéis,e dizia tudo sem me olhar, mas pude sentir sua voz falhando. - Eu fui uma idiota. - ela me olhou. E seus olhos, estavam como no dia que ela desabafou sobre o ex mala. Eu lembro de como me machucou ver ela assim, e hoje o motivo, sou eu.

- Não! - comecei. - Você não teve culpa alguma, Christina. - me apoiei ao balcão e ela abaixou a cabeça. - Me perdoa, por favor. Eu errei sim, mas quando te conheci, eu quis sair daquilo, era impossível te machucar. Mas, eu não pude sair, Christina. Ele me tirou tudo e ia pegar o Taylor, mas mesmo assim eu ia dar um jeito. Eu não ia te machucar, Christina. - minhas mãos começaram a suar, e meu coração parecia que ia sair pela boca a qualquer momento.

- Eu confiei em você... - ela enxugou os olhos. - Você era tão gentil, eu devia desconfiar...

- Christina, me perdoa...

- Eu não... - a interrompi.

- Eu me apaixonei por você. - me olhou assustada. - Poucos dias depois que me mudei para o seu lado. Eu não dormia mais com o peso na consciência. Eu queria fugir, eu queria te deixar em paz. Mas, se eu sumisse. Ele terminaria o serviço. Me desculpa, eu não vim aqui pra te trazer de volta, ou me aceitar de volta. Eu só queria te ver de novo, saber que está bem... - Meu peito fervia a cada palavra que dizia. - Quando tudo aconteceu, eu os matei sem dó, ninguém tocaria em você.  Não comigo vivo, é uma hipocrisia do inferno. Eu também queria não estar mais aqui, mas só consegui uma fratura na coluna e umas costelas quebradas...

- Pare de falar. - ela secou os olhos novamente e respirou fundo. - Você machucava as pessoas, e eu ser uma exceção, não  muda isso. - cuspiu as palavras sobre mim.

- Não! Eu era um traficante em Atlanta. O sangue nas minhas mãos nunca foi de nenhum inocente.  Eu não sou como meu irmão era, mas eu estava nas mãos dele. Tinha que fazer aquilo. Mas, como?

- Você quer que eu diga o quê? - Eu estava falando com uma parede. Não que eu esperasse o contrário, ela tem toda razão.

- Nada... - suspirei. - Me desculpa ter vindo aqui. Eu só... Eu só... - deixei uma lágrima cair. - Eu só te amo com todo o meu coração, ele é todo seu. Mas, eu vou te deixar em paz, prometo. - Agora eu já parecia um idiota chorando igual criança na frente dela, mas ela poderia bater na minha cara que eu nem ligaria.

- Isso é só culpa, Rio.

- Não. - sussurrei. - Eu morreria por você, queimaria no inferno. Qualquer coisa...

- Ouça. - aproximou sua mão do meu rosto, e o tocou com a maior delicadeza do mundo. - Você partiu meu coração, minha alma e toda a confiança que um dia te dei. O que é quebrado uma vez, nunca volta a ser o que era.

Tudo caiu por terra, eu nem sei o que esperava quando vim até aqui. Mas, as palavras dela, me machucaram mais do que qualquer coisa. Ela está diferente, é outra Christina. Eu não a julgo, jamais. Mas, um tiro doeria menos.

- Só vai embora, okay? - Eu sabia que aquilo doía em seu peito também, dava pra ver.

- Okay... Vou te deixar em paz. - a olhei nos olhos. - Você me libertou da escuridão em que eu vivia, mas eu nunca vou me perdoar por passar ela pra você. Se um dia, precisar. Aqui está meu telefone. - peguei um papel e um caneta que estavam perto e escrevi meu número. - Adeus, Christina.

Ela estava de costas, em silêncio. Mas, eu a olhei uma última vez antes de sair.

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_Christina Narrando_

Assim que ouvi a porta fechando, me debrulhei em lágrimas. Parecia que ia vomitar todos os meus órgãos.

Eu sei que no fundo, acredito nele. Mas, será que é verdade? Nunca saberei. Eu podia perdoá-lo, mas não tem uma só noite que não sonho com aquele dia. Tenho cicatrizes invisíveis que doem mais que as da minha barriga. A ferida aberta no meu coração, nunca se fecha.  Ele me destruiu.

Ver ele chorar, foi como ter uma faca atravessada no meu peito. Mas, rever ele, me levou direto para aquele galpão.
Como seria possível esquecer tudo isso? Como eu poderia perdoá-lo por ter feito eu me apaixonar também?

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Sou uma autora com o coração partido depois desse capítulo. Alguém chorou?
Xoxo

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