7.7 Questão

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O dia foi de mal a pior, no fim da tarde eu estava exausta. Voltei pra casa, retornei a ligação de Robert, e disse que Rio já tinha chegado.

Depois de colocar Ana na cama, tomei um banho quente, bem demorado. Chorei mais uma vez, tão forte como antes. Eu lembrava das palavras ditas, e como aquilo doía dentro de mim. Lembrava do cheiro dele, ainda usa o mesmo perfume. Lembrei do dia que conheci, lembrei de cada segundo vivido com ele.

Desliguei o chuveiro, me enrolei de qualquer jeito na toalha e sentei no chão. Eu não chorei muito nesse último ano, meu terapelta sempre me alertou sobre isso. Mas, ficaria orgulhoso de me ver agora, me diluindo em lágrimas.

Chotei até não ter mais forças e fui para minha cama, nua mesmo. Deitei e adormeci logo em seguida.

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Acordei nua, em meio a uma estrada. Não vi Ana, então comecei a correr sem rumo. Só queria achar alguma casa, ou descobri onde estava.

Corria, mas não saía do lugar. Um vento gelado fazia os pelos do meu corpo de arrepiarem. Percebi que estava ao lado de um rio, o rio que acompanha todo o território da cidade. Caminhei pela margem dele, e pude ver o sol deixando seus primeiros raios iluminarem, timidamente o seu negro. Olhei para frente e vi um trapiche, muito alto.

Subi nele e andei a até sua ponta. Parecia muito mais alto agora, parecia um penhasco.

Alguém parou ao meu lado e eu quase morri de susto. Me cobri rapidamente, mas notei que estava vestida agora.

Ao meu lado, estava um adolescente, ele chorava de soluçar.

- Você está bem? - perguntei, mas ele não me olhava. - Ei! - Nada- Ei! - peguei no braço dele, que me olhou. - Taylor?

Ele parecia ter um quinze anos, mas consegui reconhecê-lo. O quê?

- Você deixou que ele fizesse aquilo. - Ele chorou ainda mais. - A culpa é toda sua, você matou meu pai.

- Taylor, do que você está falando? - perguntei, mas ele ficou quieto. Estático. - Taylor! - seu corpo começou a querer cair na água, mesmo eu tentando segurar, caímos.

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Acordei chorando, agora de verdade. Olhei para minha cama e até meu lençol estava molhado. Olhei para o berço, e Ana dormia tranquilamente. Peguei meu celular, vesti uma roupa e andei até meu casaco pendurado ao lado da porta da sala. Procurei aquele papel e o achei em um dos bolsos.

Pensei um pouco antes de ligar, mas liguei. Tentei uma vez, mas ninguém atendeu. Na segunda tentativa, estava quase desligando, quando ouvi a voz rouca dele.

- Alô? - não falei nada, travei. - Alô! - repetiu um pouco mais alto.

- Sou eu. - falei.

- Christina? O que houve? - parece que se levantou da cama. - Tá tudo bem?

- Desculpa ligar agora. O Taylor está bem? - perguntei.

- Está sim, dormindo do meu lado. Por quê? 

- Eu tive um pesadelo.

- Você está chorando?

- Não... - sim, eu estava.

- Christina! - Ele sabia.

- Eu estou indo, ok? Só deixe a porta aberta que eu chego.

Não respondi nada, só larguei o celular,  abri a porta e me sentei ao lado dela.

Eu comecei a sentir um calafrio que se arrastava pelo meu corpo todo, o ar me faltava e comecei a chorar desesperadamente. Pior que antes, fazia tempo que não acontecia, e sempre tenho medo.

Vejo uma luz entrar pela porta e iluminar a sala escura, provavelmente do farol do seu carro. Logo o corpo dele entra. Só consigo notar seu rosto assutado.

- O que aconteceu? - se aproxima e tira os cabelos que estavam no meu rosto.

- Eu estou... Eu... estou... sufocando. - falei isso nem sei como, não conseguia acompanhar meu coração, ele doía.

- Está tudo bem. Respira comigo. - Ele começou a inspirar e expirar num ritmo mais calmo, mas eu não conseguia acompanhar. Peguei a mão dele, e apertei com força. - Vamos, você  consegue...

Comecei a pensar na Ana e em como ela precisa de mim. Lembrei do primeiro dia em que vi ela, como meu corpo todo se acalmou na hora. Lembrei do abraço de Chris, e nas risadas com Robert, pensei em como Dakota quer me visitar, e quantas loucuras já fizemos juntas. Olhei para Rio, e ele estava sorrindo.

- Está conseguindo. - falou colocando meu cabelo atrás da orelha.

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- Obrigada por ter vindo. - Eu disse.

Já estávamos sentados na frente da lareira. Ele acabava de fazer um chá.

- Não foi nada. Mas, o que aconteceu? - trouxe uma caneca pra mim.

- Eu tive um pesadelo com o Taylor e depois uma crise de pânico.

- Já aconteceu antes? - perguntou sentando ao meu lado.

- Algumas vezes. Mas, eu estou fazendo tratamento.  - Ele assentiu com a cabeça.

- Isso foi culpa minha? - perguntou.

- Não quero falar sobre isso, ok? - falei.

- Ok. Me desculpa.

- Não tem problema. - tomei um gole do meu chá. Aonde você mora agora?

- Alaska.

- Uau!

- Sim. - rimos.

Ele olhava para sua xícara e eu o olhava. Lembro de quando bebemos chá na casa dele, eu estava tão encantada.

- Sabe... Eu senti sua falta. - deixei que as palavras saíssem da minha boca.

- Eu também senti. - encarou meus olhos. - Você mudou bastante.

- Você não. É como se o tempo não tivesse passado.

Ele riu e me encarou em silêncio.

- O que foi? - perguntei.

- Só quero gravar bem o seu rosto na minha mente.

- Me desculpe por hoje cedo. Não foram palavras fáceis de se ouvir... - fiz uma pausa. - Só foi muito difícil chegar até aqui e continua sendo, sabe? Olhar pra você e como ir ao céu, mas logo depois eu caio direto no inferno. Me desculpa. - Ele segura minha mão.

- Eu vou te dar total espaço e vou respeitar qualquer decisão sua. Se você me quiser na sua vida, ótimo. Porque eu quero estar nela, mas se você não quiser, eu vou embora. Mas, eu não quero te deixar sozinha, deixa eu te ajudar? - cobri meu rosto com os mãos e suspirei.

- Eu não sei...

- Tudo bem, não vou forçar nada, okay? - assenti. - Quer que eu vá embora agora? - perguntou.

- Pode ficar mais um pouco.

Na verdade, eu queria muito que ele ficasse. Provavelmente vou me arrepender amanhã, mas só vou lidar com isso depois. Agora, quero aproveitar esse momento.

- Será que você pode me abraçar por um momento?

- É claro que sim.

Ele se ajeitou no sofá e deixou que eu sentasse entre suas pernas, passou seus  braços ao meu redor, os deixando em cima da minha barriga. Conseguia sentir sua respiração balançar o meu cabelo.

- Não está com dor? - perguntei.

- Agora não.

- Tem certeza? - perguntei e o olhei.

Nossos rostos ficaram um tanto quando próximos, mas ele apenas beijou minha testa e eu o agradeci mentalmente por isso.







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