Após seis anos no inferno, finalmente chegou o dia. Lili cantou família... — Passou a mão suada na calça tentando manter a calma, enquanto aguardava a tão sonhada abertura dos portões. A mochila com o pouco que tinha no lugar já estava pronta, não que tivesse muito o que levar, só algumas roupas e produtos de higiene.
Olhou ao redor vendo o quadrado de quatro metros, com duas camas, um banheiro e dez pessoas, respirou fundo sabendo que não iria sentir falta de nada, ao longo do tempo não teve nem colegas no lugar, quem dirá amigas para sentir falta.
A verdade é que passou os últimos anos dormindo com um olho aberto e outro fechado, sem poder mexer sequer um músculo para não ser acusada de nada, é que as outras presas são cismadas, se mexeu muito na madrugada elas furam primeiro e perguntam depois, não dá para confiar nem na tua alma.
Nem dá para julgá-las também, acontece muita traição enquanto todas dormem, sempre tem um judas, e nesse caso a prisão tem regras: deita e dorme não se mexe e fica na tua.
— Senhora Yarin Rodrigues, seu alvará. De costas para a grade, mãos para trás. — A carcereira chama do outro lado da cela. A morena coloca as mãos para trás e encosta junto aos ferros, sentindo a textura gelada das algemas que como sempre está apertada ao ponto de marcar, e quanto mais mexer o braço tentando afrouxar mais apertado fica, ela vê a porta ser aberta e segue até a saída de cabeça baixa, como ordenado.
A cada portão aberto, seu coração bate forte. A ansiedade toma conta de seu corpo, a cada ferrolho um frio na barriga diferente, ao final, no grande muro e o portão enorme de cor verde, suas algemas são retiradas e o alvará entregue.
— Nos vemos em breve. — A carcereira fala no puro deboche, afinal é comum que a maioria saia e logo volte. Não é como se o sistema penitenciário preparasse alguém para voltar a sociedade, na verdade causa muito mais ódio nas pessoas que de fato socializam. Yarin teve sorte ao sair com todos os dentes na boca, uma grande parte delas não teve a mesma dádiva.
Elevou os olhos ao céu azul sentindo o vento no seu rosto, as pernas ficaram bambas fazendo seu corpo ceder e ela cair sentada sobre os joelhos chorando, era um misto de alegria e medo, no fundo sentia um grande alívio, mas um pavor tomava conta de si.
Sentiu braços a contornando e retribuiu o abraço, nem precisou abrir os olhos para saber que aquela em sua frente era sua prima Letícia a única da família que não a abandonou no presídio.
— Calma meu amor, agora vai ficar tudo bem, vem. Vamos para casa. — Letícia falou gentilmente, os cachos loiro a pele preta na luz do sol parecia ainda mais brilhosa que o normal, fez Yarin sorrir e levantar do chão a abraçando novamente.
— Deixa eu te apresentar. Esse é o LN meu namorado. Amor, essa é a Yarin, minha prima. — Letícia apresentou a morena ao homem com um sorriso calmo encostado em uma BMW.
— Satisfação. — Estendeu a mão para ele que a apertou retribuindo com um sorriso gentil, não conhecia muito bem a história da moça, mas pelo que Letícia sempre falou ele tinha uma grande admiração pela força dela.
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A Primeira Dama do Crime
RomanceApós uma difícil temporada na prisão, Yarin anseia por um recomeço no morro do Quimera. Ela quer desesperadamente deixar seu passado para trás e seguir em frente sem ser julgada pelo que já fez. No entanto, essa é uma tarefa árdua quando se trata do...