Cap 86

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Coringa entrou no pronto socorro com Arlequina nos braços desacordada, por onde passavam as marcas de sangue ficava, não conseguia entender o que estava acontecendo com a garota que parecia ter tomado um tiro de tanto sangue perdido, o caminho até o Bambaré foi relativamente rápido já que ele infringiu uma dezena de leis de trânsito, e as multas com toda certeza iriam chegar.

— O que aconteceu? — Isabella perguntou preocupada ao ver a amiga desacordada.

— Ela estava com contrações o dia inteiro, mas é teimosa igual uma mula. — Coronel foi quem tomou a frente da situação já que o filho não tinha percebido nada.

— Se prepara que eu vou levá-la para o bloco cirúrgico, você vai se vestir para acompanhar. — Avisou a Coringa que foi acompanhado até uma sala para se vestir, enquanto os enfermeiros levaram Yarin para dentro da sala de emergência. — Preciso do ultrassom portátil, agora. — Avisou e a enfermeira foi buscar enquanto ela tentava auscultar a bebê.

— Tem algo de errado doutora? — A enfermeira perguntou ao perceber a preocupação estampada no rosto de Isabella.

— Os batimentos cardíacos da bebê estão irregulares, não sei bem o que está acontecendo. — A voz falhou ao perceber que a amiga poderia não resistir, ao longo dos meses se tornou ainda mais próxima da garota e o pânico tomava conta dela só de pensar.

— Isabella, saia da sala imediatamente. — O médico plantonista e que acompanhou partes da gestação de Yarin entrou no lugar já dando ordens.

— Ficou doido Fernando? — Questionou sem entender a ação do homem.

— Doutora Isabella, sei que seu marido é quem manda nesse lugar, mas você não vai operar sua amiga, de jeito algum. — Bateu o pé sem aceitar não como resposta.

— Não vou abrir mão disso.

— Olha, a sua amiga está desmaiada prestes a ir para uma cesária de emergência com um possível sangramento uterino, você quer mesmo ser a médica responsável nesse caso? Está pronta para dizer que não conseguiu salvar uma das duas? Eu te deixo me auxiliar e não dá para discutir mais sobre isso. — Isabella notou que os aparelhos estavam irregulares o que demonstrava que seria uma cirurgia difícil e decidiu concordar.

— Tudo bem, só que você precisa entender que essa daqui na mesa é a mulher do chefe da maior facção criminosa desse estado, e você conhece os riscos, agora vamos com ela para o bloco cirúrgico imediatamente. — As enfermeiras na sala entenderam o recado e os dois maqueiros de plantão a levaram sem roupa com apenas uma lençol  em seu corpo e ainda desacordada, enquanto se lavava para entrar em cirurgia Isabella tentava manter a calma e ficar o mais tranquila possível.

Não conseguia entender como que a situação chegou nesse ponto, acompanhou a gravidez inteira, estava tudo normal e tranquilo e do nada isso aconteceu.

— Vamos doutora. — O médico a chamou tirando de seus pensamentos e ela vestiu a luva indo para a sala onde Yarin já estava anestesiada e pronta. Coringa já estava sentado ao lado da esposa desacordada segurando em sua mão, o medo e a ansiedade se fazendo presente.

— Porque ela está assim, ainda desmaiada? — Questionou ao ver Isabella entrar na sala.

— Senhor, antes de qualquer coisa preciso te falar algo. — O médico começou cauteloso falando tranquilamente por fora, mas por dentro perto de uma crise de pânico. — A sua esposa está com um possível sangramento no útero o que coloca ela e a bebê em risco, estamos indo para uma cesária de emergência, em caso das coisas se complicarem o senhor precisa me dizer se devo priorizar sua filha ou sua mulher.

— Espera, como assim? Elas podem morrer? E tu quer que eu escolha? Tá doido? — Coringa tentou manter o chefe da facção em prumo pois o esposo e pai estava se desmoronando junto com as palavras do médico.

— Senhor, eu...

— Tu vai salvar as duas, não quero nem saber, e porque ela ainda está desacordada? Ela tá morta é isso? — Questionou sentindo um aperto enorme no peito.

— Vamos acordá-la para ver a filha vir ao mundo. — Isabella se aproximou da amiga e passou álcool em seu nariz fazendo ela despertar ainda meio grogue sem entender muita coisa, a verdade é que deixaram Yarin desacordada para facilitar o atendimento e controlar toda a pressão em cima dela.

— Ei! Princesa, estamos no hospital, a bebê vai nascer. — Sorriu para a esposa que já estava aflita por não sentir seu corpo.

— Vamos começar. — O médico avisou dando início a cesária de emergência.

Após longos minutos de espera, o chorinho fino finalmente foi ouvido na sala, Yarin sentia como se o corpo estivesse sem forças, mas se forçava para ficar acordada e conhecer o rostinho da filha.

— Espera. — A voz do médico se fez presente na sala. — Trás incubadora, agora!

— Tem alguma coisa errada, doutor? — Coringa questionou ao homem que o olhou sem saber como explicar.

— Tem mais dois bebês aqui, são três crianças e não uma, não consigo entender como não vimos antes, mas são trigêmeos. — As máquinas passaram a apitar descontroladamente enquanto Yarin tornou a perder a consciência. — Tirem ele daqui.

— Não! Eu não vou sair! Não vou. — O rapaz começou a se desesperar ao ver a esposa desmaiada e aberta na sala de cirurgia, a filha chorando nos braços da enfermeira e todo o caos ao seu redor, parecia filme de terror.

— Você precisa sair, eu sei que você quer ficar, mas precisamos nos concentrar e salvar a vida delas, por favor. — Isabella choramingou segurando o braço do rapaz que mesmo a contragosto acabou indo para fora.

As portas se fecharam em sua frente e só conseguiu ver os médicos em cima da esposa enquanto a máquina apitava indicando uma parada cardíaca, foi levado até a recepção onde parecia mais um encontro de facções que a emergência de um hospital, todos os amigos estavam no lugar esperando uma notícia da moça e a criança.

— Ei, filho. Qual o problema? — Coronel tomou a frente ao perceber que Coringa estava totalmente aéreo e fora de si, o rosto banhado por lágrimas, os olhos vidrados em um ponto fixo, a mente completamente bugada.

— Eu não sei, o médico me tirou da sala, e se ela morrer? O que vai ser de mim? — Questionou o pai completamente sem chão.

— Vamos ter calma e fé. — Coronel abraçou o filho completamente desolado, tinha Yarin como filha, mesmo depois do vacilo de desconfiar dela, os dois fizeram as pazes e tudo estava tão bem, não queria nem pensar na possibilidade de perder ela ou a criança.




Estamos chegando à reta final, finalmente.

A Primeira Dama do CrimeOnde histórias criam vida. Descubra agora