Capitulo 11

299 30 3
                                        

Eu ainda não tinha aberto os olhos e meu inconsciente já sabia que era 31 de Dezembro. Como continuava com muito sono, permaneci com os olhos fechados e tentei relaxar parabdormir novamente. De repente, senti um ronronar suave bem atrás de mim. Então o cheiro delicioso do perfume de Shawn se fez presente, trazendo consigo um misto de embaraço e euforia. Abri os olhos e levantei um pouco a cabeça para analisar o quadro geral. Eu estava deitada de lado, com Shawn encaixado atrás de mim; um braço dele estava apoiado na minha cintura, enquanto a mão descansava sobre a minha barriga. Voltei a relaxar, sentindo-me feliz como nunca na minha vida. Claro que teria sido muito melhor se eu não tivesse entrado em pânico e fugido dele. Mas pensando bem, não tinha por que me arrepender. Saber que Shawnquis dormir comigo, mesmo sem termos transado, foi mais do que eu tinha esperado. Era uma pena que ele havia vestido uma camiseta. Estava quase fechando os olhos novamente para continuar curtindo aquele momento perfeito, quando visualizei o relógio na parede à minha frente e constatei que já passava das sete da manhã. Droga, eu tinha que ir. Ergui o braço dele e comecei a me levantar bem devagar, não queria acordá-lo. Após ficar alguns segundos apreciando meu homem, saí do escritório apenas para esbarrar em Karen, que estava entrando.
— Você quase me matou de susto! — sussurrei para que Shawn não ouvisse.
— Estava indo te acordar. Elise preparou uma bandeja de café da manhã e levou para o quarto, com isso ela conseguiu segurar seu pai por alguns minutos, mas eles já devem ter acabado e ele vai descer daqui a pouco. Não pude deixar de rir. Graças a Deus eu tinha essas duas loucas para me ajudar; se meu pai pegasse Shawn dormindo de conchinha comigo no sofá, não ia prestar.
— Obrigada, Karen, vou correr para o meu quarto. Dei um beijo em sua bochecha e subi feito um raio, rezando para não encontrar com meus pais no corredor. Quando entrei na suíte, dei de cara com Rafaela. Seus cabelos estavam muito bem escovados e ela já estava pronta para descer.
— Passou a noite no salão? — zombei e me joguei na cama.
— Combinei de andar a cavalo com o Davi, não quero que meu cabelo fique todo esvoaçado. Agora me conta, o que rolou naquele sofá? Lancei um olhar desanimador para a minha amiga.
— Nada. Eu não sei o que aconteceu comigo, Rafa. Ele foi atrás de mim, dando todas as demonstrações de que estava a fim e eu congelei.
— Como assim?
— Eu não sei, fiquei tão nervosa que entrei em pânico. Acho que a real possibilidade de realizar algo que desejei por tanto tempo, me travou, eu não consegui relaxar. Rafa balançou a cabeça, pesarosa.
— Que pena. Karen fez uma verdadeira vigília pra que ninguém acordasse ou visse vocês, até eu e o Davi tivemos que entrar na ronda noturna. Soltei uma gargalhada imaginando a noite que nossos vigilantes tiveram.
— Deviam ter me acordado, ali não ia rolar nada mesmo, e ainda corremos o risco de sermos pegos pelo seu Alejandro.
— Eu falei isso para a Karen, mas você sabe como a sua sogra é. Meu sonho de menina era ser nora de Karen Mendes e pelo visto ela tinha gostado tanto da ideia, que acabou comprando a minha briga.
— Você pode fechar as cortinas antes de sair, por favor, eu vou dormir mais um pouco enquanto você cavalga com o seu cowboy.
Assim que a Rafa saiu eu fiquei me lembrando de como foi bom dormir nos braços do meu amor, sentindo seu cheiro, sendo aquecida por ele… Shawn fazia parte da minha família e eu da dele, o obstáculo da minha idade já não era mais um problema e depois da noite passada, era muito mais fácil imaginar como seria viver aquela realidade todos os dias. Restava saber se ele estava verdadeiramente interessado nessa Camila, ou queria apenas resgatar a adolescente apaixonada que venerava o chão que ele pisava. Acordei por volta das 10h da manhã com o barulho de conversas e risadas. Pelo visto, todo mundo já tinha acordado. Tomei um banho demorado, coloquei um biquini preto, um short estampado por cima e quando desci já eram 10h30. Dessa vez, quando passei pela cozinha, vi apenas as ajudantes que providenciavam o almoço.
— Bom dia — desejei a elas e fui para a área de lazer, já que o café fora servido lá. Ao chegar, visualizei apenas mamãe e Sílvia, o que significava que as conversas e risadas vinham delas. Servi uma xícara de café, cortei um pedaço de bolo de milho e fui para uma mesa com guarda-sol que ficava ao lado da piscina, onde as duas se encontravam naquele momento.
— Olá, Bela Adormecida — disse minha mãe em tom de deboche.
— Bom dia, suas bruxas — respondi e as duas gargalharam.
— Acho que estamos mais para fadas madrinhas — Karen respondeu e seus olhos azuis brilharam. Ela e Shawn eram muito parecidos, com seus cabelos negros e olhos claros; minha mistura preferida.
— Como foi passar a noite com o meu genro?  — mamãe brincou, ela sabia que não tínhamos feito nada além de dormir.
— Acho que o auge da noite foi babar a camiseta dele. As duas começaram a rir feito loucas e acabei fazendo o mesmo. Quando terminei de comer, voltei ao quarto para escovar os dentes e passar filtro solar no corpo. Depois de pronta, voltei para fora e me deitei em uma espreguiçadeira para me bronzear, mesmo sob os protestos de minha mãe, que achava que o sol estava muito quente. Pouco depois do meio-dia, avistei a caminhonete que Shawn costumava usar para explorar a fazenda e, para variar, meu pai estava com ele. A amizade dos dois só se fortalecera com o passar dos anos e, mais uma vez, temi que um possível relacionamento entre sua filha e seu melhor amigo, pudesse deixar as coisas abaladas entre os dois. Meu pai saiu do carro assim que ele parou e entrou apressado dentro de casa. Quando, por fim, Shawn desceu da caminhonete, não consegui parar de olhar. Baixei os óculos de sol e subi os olhos pelas botas de cowboy, passando pelo jeans apertado até chegar na camiseta branca levemente ajustada. O chapéu e o óculos modelo Aviator da Ray Ban, completavam o visual que me deixou sem ar. Não dava para ser mais gostoso que aquilo.
— Tá escorrendo uma babinha do canto da sua boca — Karen disse, me pegando em flagrante.
— Esse seu filho é uma ofensa à humanidade — comentei e desviei o olhar para encarar a minha ex-futura sogra.
— Tenho que concordar que ele se tornou um belo homem. Quando percebeu nossa presença, Shawn caminhou até nós.
— China pariu, temos um novo potrinho na fazenda — ele disse, orgulhoso, e tirou o chapéu, fazendo algumas gotas de suor escorrerem pelo rosto.
— Posso ver? — perguntei já me sentando e ele sorriu, animado.
— Claro, vamos lá. Fiquei de pé, coloquei o shorts e calcei os chinelos.
— Vamos — falei quando terminei de me ajeitar.
— O almoço já vai sair, não demorem — Karen alertou. Saímos lado a lado em direção ao estábulo.
— O que foi? —perguntei quando vi Shawn fazer uma careta enquanto massageava o ombro direito.
— Acho que é uma distensão muscular ou um estiramento, não sei exatamente, só sei que dói bastante.
— E como isso aconteceu — perguntei, curiosa.
— Na hora do parto do potrinho. Eu peguei de mau jeito e lesionou.
— Não é melhor ir a um hospital? Seu ombro está nitidamente inchado.
— Agora não. Mamãe tem anti-inflamatório em casa — falou, despreocupado.
— Não sei se isso vai melhorar com um simples anti-inflamatório.
— Se não melhorar, eu peço uma das pílulas que minha mãe toma quando tem crise de coluna.
— E por que não toma logo? Esse deve ser mais eficiente.
— Talvez, mas ele causa muito sono. Quando mamãe o toma antes de dormir, costuma acordar apenas no meio do dia.
— Uau. Bom, mas você é muito mais alto e pesado que a Karen, então com certeza não vai ter o mesmo efeito. De qualquer forma, acho que deveria tomar depois que a festa acabar. Não tem nenhum compromisso amanhã mesmo — concluí, dando de ombros.
— É verdade, vou fazer isso — falou, sorrindo.
— Ei, esse não é o ombro que você machucou alguns anos atrás jogando tênis? — questionei depois de algum tempo. Ele sorriu.
— Você ainda se lembra.
— Claro, você ficou dias reclamando pra cima e pra baixo feito um bebê chorão — falei para disfarçar o fato de que eu me lembrava de tudo sobre ele.
— Fala a mocinha que chorou dia e noite, porque ia ter que extrair um dente para poder pôr o aparelho ortodôntico.
— Ei, eram dois dentes pré-molares. Além disso, eu só tinha onze anos! — Certo, o problema é que você ainda não tinha extraído nem um deles, e ainda assim, chorou por três dias. Quis dar uma resposta a ele, mas não tinha argumentos, por isso comecei a rir e ele me acompanhou, provavelmente se lembrando de como tinha sido. Um minuto depois chegamos ao estábulo. O lugar estava deserto, pois os funcionários tinham ganhado folga para curtirem o último dia do ano.
— Aqui, Camila — ele apontou para dentro de uma baia. A égua dele estava deitada sobre uma cama de feno macio e o potrinho tentava se manter equilibrado perto dela.
— Ah, meu Deus, que fofura — falei, toda boba por estar vendo o potrinho tão de perto.
— Posso dar um nome a ele? — perguntei com os dedos das mãos entrelaçados em frente ao rosto, como uma criança pidona.
— Claro que pode. — Shawn sorriu e tirou os óculos pendurando-os na gola da camiseta. Torci os lábios de um lado para o outro pensando no nome perfeito para batizá-lo.
— Que tal Shawmila? — sugeri e ele franziu a testa, provavelmente achando o nome estranho.
— É a mistura de Camila com Shawn — expliquei e dei de ombros ao mesmo tempo em que ele tinha um ataque de risos que me deixou irritada. Vendo minha cara amarrada, Shawn tentou se controlar e me deu um beijo na testa.
— Você é incrível, Camila — falou, com um sorriso bobo no seu rosto bonito.
— Quero saber se você gostou do nome — questionei, como se não estivesse afetada, e cruzei os braços em frente ao peito.
— Não consigo imaginar um nome melhor e mais original que esse.
— Eu sei que está me zoando, mas eu gostei da minha criação — brinquei e ele voltou a olhar para o potro.
— Ele tem cara de Shawmila, nasceu para ser batizado com esse nome — afirmou, me deixando mais
tranquila.
— Então está feito, seu nome será Shawmila. Shawn sorriu e bagunçou o meu cabelo, me fazendo revirar os olhos. Depois disso ficamos encostados na porta de madeira, olhando China e Shawmila descansando.
— Devia ter me acordado, estou todo dolorido por ter dormido no sofá — ele disse mudando de assunto.
— Acordei meio assustada, fiquei com medo de papai nos pegar dormindo juntos, eu não sou mais uma menina e ele poderia ficar chateado.
— Se importa com o que ele pensa?
— A Camila de anos atrás não teria se importado, mas a de hoje jamais
se perdoaria se estragasse a amizade de vocês dois.
— Quer dizer então que a barreira da idade se foi, mas outra apareceu? A pergunta me pegou desprevenida.
— Não, quer dizer, eu não me importaria que ele soubesse que nós… Digo… — parei de falar e reorganizei meus pensamentos antes que fizesse papel de boba por mais tempo.
— A questão não é ele saber de… algo, é como ele fica sabendo. Saber sobre algum assunto controverso através dos envolvidos, é melhor do que descobrir por terceiros, ou, nesse caso, pegando no flagra. Shawn desviou o olhar da baia e me encarou de um jeito nada familiar, havia uma energia diferente entre nós, desde o dia anterior.
— Você se transformou em uma mulher linda e sábia — elogiou e depois desceu o olhar pelo meu corpo.
— Na verdade, linda você sempre foi, mas tenho que confessar que levei um susto quando te vi, após todos esses anos. Não achei que mudaria tanto.
— Obrigada, Shawn — falei de forma quase inaudível. Eu me sentia nas nuvens. Sempre sonhei com o dia em que ele me elogiaria como mulher e não por ter tirado uma nota boa no colégio, ou ganhado algum prêmio. Ouvir aquelas coisas da boca dele me dava ainda mais energia para lutar; eu tinha certeza de que se ele se aproximasse e me beijasse, eu não entraria em pânico. De repente, China ficou de pé, me dando o maior susto da minha vida. Instintivamente dei um passo para trás e acabei tropeçando nos próprios pés e cambaleando. Ágil e rápido, Shawn me pegou pela cintura impedindo que eu caísse. O impulso fez nossos corpos se chocarem drasticamente e me agarrei a ele para me segurar. Ao longo dos anos eu já tinha dado milhares de abraços nele e o gesto sempre despertara coisas maravilhosas dentro de mim. Mas desde que voltei, o contexto havia mudado. Eu não era mais aquela adolescente e ele havia percebido aquilo e apreciado. Saber disso deixava meus hormônios totalmentevdescontrolados, ainda mais ali. Estávamos tão grudados, que eu conseguia sentir o calor que emanava do seu corpo, ele estava me deixando mais quente ainda. Também parecia que nossos batimentos cardíacos haviam se misturado, ansiosos por aquele momento em que duas pessoas sedentas se uniam. E aquilo era tudo o que eu queria. E pela forma como Shawn me olhava, era o que ele queria também. Quando achei que ele fosse me beijar, o vento trouxe consigo a voz de Rafaela, anunciando que o almoço estava servido, e mais uma vez nosso momento foi interrompido.
— Eu e meus dois pés esquerdos — falei para tentar aliviar a tensão quando nos separamos. Ele, porém, ficou em silêncio e assim continuou enquanto voltávamos para casa, era como se aquele abraço tivesse despertado uma nova consciência nele.

I Stell Want You Onde histórias criam vida. Descubra agora