- Tem certeza de que não quer ir?
- mamãe perguntou pela décima vez. Eles já estavam com a bagagem no carro para ir visitar meus avós, que viviam no interior.
- Sim, tenho mesmo que estudar para as provas finais.
Como tive que adiantar minhas matérias para estar apta a ingressar na faculdade em setembro, que era quando o ano letivo dos EUA começava, tinha muitas provas e trabalhos para fazer e mamãe sabia disso, então se deu por vencida e concordou com a cabeça. Além do mais, mesmo não gostando de me deixar sozinha, meus pais sabiam que o condomínio era seguro e que Rafaela sempre dormia comigo quando eles viajavam. Depois de dar um beijo de despedida em cada um deles, voltei para o meu quarto e passei o dia estudando. No final da tarde, decidi colocar uma roupa de ginástica e fui para academia do condomínio. Desde os quinze anos criei o hábito de praticar exercícios diariamente e isso se refletia em meu corpo. Claro que o fato de ter mais seios que as outras meninas e uma bunda avantajada, meio que me obrigou a isso. Eu gostava de ter a bunda durinha e as coxas torneadas, além da barriga chapada e a cintura fina. Não era musculosa, apenas um pouco definida e adorava o meu corpo. Quando saí da academia, 1h depois, vi um táxi estacionar em frente à casa de Shawn e uma ruiva curvilínea descer e entrar na propriedade. Pelo horário, ele deveria estar na piscina e confirmei minhas suspeitas quando o vi abrindo a porta apenas de sunga preta. Na mesma hora ela se pendurou no pescoço dele e os dois sumiram dentro da casa. Fiquei ali por alguns minutos, dividida sobre o que fazer. Eu sabia que tinha que ir embora, mas sempre tive curiosidade de saber como ele agia com as mulheres que o visitavam. Depois da minha primeira decepção, quando tinha doze anos, aprendi que as mulheres da vida de Shawn eram passageiras, o que só me fazia acreditar que ele estivesse me esperando. Loucura ou não, era a isso que eu me apegava, mesmo após aquele acontecimento fatídico, dois meses atrás. Nas poucas vezes em que nos encontramos, desde aquela conversa séria, cumpri minha promessa e não brinquei ou fiz qualquer insinuação. Também só fui à fazenda uma vez; que graça tinha aparecer por lá e não dar em cima dele? Mas agora, minha curiosidade estava me matando. Sucumbindo a ela, segui até a casa e dei a volta no jardim. Havia muitas plantas e folhagens o que deixava a área íntima bem escondida. Enfiei-me entre os arbustos e cheguei ao meu observatório a tempo de vê-lo no bar. Ele já havia colocado uma calça de moletom, mas permaneceu sem blusa. Shawn lhe ofereceu uma bebida, sentou-se ao seu lado e a partir daí as coisas começaram a acontecer muito rápido, como se os dois soubessem exatamente por que ela estava ali. Assim que ambos tomaram o drink, todo de uma vez, ele largou o copo e avançou sobre a garota. Enquanto uma das mãos segurava um seio, a outra subia e descia pela coxa desnuda, já que a saia havia subido até a cintura. A forma como apertava o corpo dela, com vontade e paixão, me fazia sentir raiva e ciúme na mesma medida. Observar tudo aquilo estava me deixando quente e ao mesmo tempo envergonhada das coisas que estava sentindo. Minha cabeça não parava de imaginar como seria estar no lugar daquela mulher e ter o corpo tomado por aqueles braçosbfortes. Vá embora Camila, não se torture, disse a mim mesma. E foi exatamente o que fiz. Fui para casa sentindo o gosto amargo do ciúme, mas com a certeza de que Shawn Mendes ainda seria meu, um dia.Duas semanas depois
Eu e mamãe estávamos no centro da cidade, pois nós duas tínhamos compromisso naquele dia; ela iria a uma consulta e depois a uma clínica de estética, já eu, teria minha última aula de direção e estava muito feliz. Queria que minha carteira de habilitação chegasse antes da viagem, mas já tinha perdido as esperanças, meu pai teria que enviá-la para mim por Sedex. Assim que a aula acabou, liguei para minha mãe, mas ela ainda estava na clínica. Como ambas estávamos próximas ao prédio onde funcionava a Cabello, fui andando até lá e pedi que quando saísse, ela fosse me pegar. Claro que aquilo não foi nenhum sacrifício, sempre que podia, encontrava uma desculpa para dar uma passadinha na empresa e poder ver Shawn em seu modo trabalho, todo compenetrado, vestido em um de seus lindos ternos feitos sob medida; entretanto, já fazia alguns meses que eu não aparecia.
- Boa tarde, Sandra, meu pai está? - perguntei, educadamente. Sandra já trabalhava como secretária da presidência há vários anos e conhecia a minha paixão proibida, por isso sorriu, debochada, e devolveu a pergunta:
- Tem certeza de que é isso mesmo o que quer saber? Soltei uma risada e me sentei em sua mesa.
- Meu futuro marido está por aí? Sandra gargalhou.
- Ele está, sim, Sra. Cabello - brincou e meu sorriso aumentou só de imaginar ser chamada assim um dia -, quer que eu a anuncie?
- Não precisa. - Shawn adorava as minhas visitas e tinha me dado carta branca para entrar em sua sala, sempre que não estivesse em reunião, claro. Pulei da mesa e fui, saltitante, até o escritório do meu homem, que estava de pé, em frente às janelas, falando com alguém ao telefone. Sem que ele notasse a minha presença, entrei de fininho e fiquei esperando. A sala de Shawn era dividida em dois ambientes, o escritório normal e uma extensão onde ficava uma pequena mesa de reuniões. Perto dela havia uma estante cheia de livros, mas o que se destacava, eram dois lindos porta-retratos que eu já tinha visto inúmeras vezes. Em um deles, havia uma foto dos pais de Shawn com ele ainda menino, nove anos, se não estava enganada. Karen já tinha me contado que o marido fora assassinado durante um assalto, poucos meses depois de terem tirado essa foto. Já Shawn, nunca falava sobre o pai, e eu, não perguntava. No outro porta-retratos, havia uma foto de nós cinco. Meus pais abraçados, Karen ao lado deles e eu do seu outro lado, pertinho de Shawn. Estávamos todos sorrindo, felizes por passar mais um dia na fazenda. Meu sonho era que mais um porta-retratos com a foto do nosso casamento se juntasse àqueles dois. Antes que começasse a sonhar acordada, voltei minha atenção para Shawn, que para variar, estava usando um de seus elegantíssimos ternos.
- Esse final de semana não vai dar, vou a fazenda com alguns amigos - ele disse com uma voz branda e ao mesmo tempo grave e tive certeza de que se tratava de alguma piriguete. Shawn não levava mulheres para a fazenda quando estávamos por lá, pois respeitava muito os meus pais e sua mãe, mas no dia a dia, era outra história.
- Podemos nos ver na segunda ou terça. - Sua sugestão me deixou
irritada. O que adiantava estar sempre por perto, se nunca acontecia nada entre nós. Shawn se virou e sorriu quando nossos olhares se encontraram.
- Decida e mande mensagem, tenho um compromisso importante agora - falou, assinalando para que eu me aproximasse. Em vez de ir para a cadeira, caminhei até a mesa dele, me sentei no canto e fiquei balançando os pés no ar, enquanto ele finalizava a ligação. - Tudo bem. Um beijo - disse e se voltou para mim. - Como vai, Camz? - perguntou, sorrindo, e depositou um beijo em minha testa.
- Estava com saudade, marido - brinquei, mas Shawn ficou sério.
- Já conversamos sobre isso. Suspirei, arrependida, e concordei.
- Desculpe, é mais forte que eu. Ele saiu da minha frente e foi se sentar em sua cadeira.
- Tudo bem, é só uma fase, essas coisas que você diz sentir vão desaparecer daqui a pouco, quando estiver convivendo com rapazes com idades próximas a sua.
- Você me fala essas coisas desde que eu era menina; se não passou até agora não vai passar nunca mais - falei, decidida.
- Vai, sim e quando voltar para o Brasil, nem se lembrará mais dessa paixonite que sentiu por mim.
Fiquei assimilando as palavras do homem à minha frente, me lembrando de que muito em breve, seria obrigada a passar anos fora do Brasil, voltando apenas por poucos dias durante as férias. Com isso, Shawn quase não iria me ver, nós não poderíamos conversar com a mesma frequência e ele acabaria se esquecendo de mim. Pensar nisso me deu um sentimento de pânico.
- Não se case antes que eu volte. - Falei em tom de brincadeira, mas por dentro estava desesperada.
- Casamento não está nos meus
planos, Camz, não pelos próximos cinco anos, pelo menos.
- Promete? Ele sorriu e balançou a cabeça.
- Prometo, mas isso não quer dizer que vamos nos casar um dia. Revirei os olhos, saltei da mesa e me sentei no colo dele.
- Você está em fase de negação, quando eu voltar de Boston, não conseguirá resistir, então iremos nos casar e ter um monte de filhos. Shawn gargalhou, mas tive que pular de seu colo quando ele começou a se levantar. O maldito homem levava tudo na brincadeira e isso me deixava louca.
- Você é uma gata, Camila, mas tem que achar um cara da sua idade. Fechei os olhos e contei até mil para não mandar ele à merda.
- Você só tem trinta e dois anos - argumentei.
- E você, dezessete. São quinze anos de diferença - falou em sua defesa.
- Eu dou conta de você. Além disso, faço aniversário daqui a uma semana - afirmei, num tom leve, para não o assustar. Mais uma vez ele sorriu e ficou me encarando com seu olhar de molhar calcinha.
- O maior problema aqui não é de idade e sim de sentimentos.
- Como assim? - Joguei-me na cadeira dele para escutar sua resposta.
- Camila, quando uma pessoa ama outra, a idade é o de menos. Se um dia eu começar a amar uma mulher, seja ela quem for, não haverá barreiras que me impedirão de viver esse amor. Sua declaração me deixou atônita. Durante anos acreditei que ele nunca tinha me dado bola, devido à sua amizade com o meu pai, mas principalmente, à minha idade. Naquele momento vi o quanto estava errada.
- Quer dizer que se um dia se apaixonar por mim, vai ficar comigo?
Ele assentiu.
- E o que eu preciso fazer para isso acontecer? - perguntei, ansiosa. Shawn se aproximou e tocou meu rosto com a ponta dos dedos, mas quando abriu a boca para responder, o maldito telefone começou a tocar e ele se afastou para atender.
- Ok, Sandra, chego na sala de reuniões em três minutos. Após desligar, pegou o paletó que estava no encosto de sua cadeira e o vestiu.
- Tenho que ir, Camz, nos vemos na próxima sexta-feira, na sua festa - garantiu e deixou um beijo na minha testa.
- Não esqueça de colocar o papel da promessa na nossa caixa - gritei, antes que ele saísse pela porta.
- Qual promessa? - quis saber, o cenho franzido.
- De não se casar antes de eu voltar. Shawn sorriu, tolerante, e balançou a cabeça afirmativamente, antes de sumir.