Passei o domingo todo na casa de Shawn, e ele só me deixou ir embora porque meus pais o convidaram para jantar. Ele tentou recusar, mas minha mãe foi categórica e disse que caso não fosse, iria buscá-lo em casa. Se mamãe sonhasse que eu estava ao lado dele, com certeza o discurso seria outro, ela jamais nos atrapalharia. Logo depois que ele desligou, foi meu telefone que tocou. Sorri ao ver o rosto de minha mãe no visor e o mostrei a ele. Ela pediu para que me juntasse a eles no jantar, mas inventei que estava com cólica, prometendo que passaria no dia seguinte para dar um beijo nela. Antes de desligar, avisei que pegaria carona com papai na manhã seguinte. Ao ouvir isso, Shawn me olhou com a cara fechada, mas resolvi ignorar, ele tinha que saber que as coisas não seriam tão fáceis assim. Tomamos banho juntos e fizemos amor embaixo do chuveiro antes de eu ir embora, deixando um Shawn carrancudo. No dia seguinte, papai estacionou em frente à minha casa às 7h da manhã. Durante o percurso, ele tagarelou o tempo todo, estava animado com os novos investimentos e nem percebeu o quanto sua filha estava nas nuvens por ter sido bem comida o final de semana inteiro. Quando chegamos ao nosso andar, Shawn estava conversando com Sandra e nos cumprimentou formalmente, como sempre fazia. Ainda estávamos lá quando, minutos depois, Rodrigo chegou para mexer na máquina dela, fazendo-me lembrar do nosso encontro na sexta. Mesmo sabendo que não tinha sido exatamente um encontro, senti-me a maior safada da cidade. Para evitar que ele falasse qualquer coisa na frente de Shawn, pedi licença e segui para a minha sala, tinha bastante coisa para fazer. No meio da manhã, liguei para Rafa e contei o que tinha acontecido. Como ela estava namorando firme, achei que iria me incentivar a cair fora desse tipo de relação, mas seu conselho foi totalmente ao contrário:
— Meu bem, você esperou a vida toda por esse homem, aproveita o momento, se não der certo, pelo menos você desencana de uma vez, mas não descarte o Miguel de cara. Depois que desligamos, pensei muito no conselho de Rafa. Não gostava nem um pouco daquela situação, mas também não podia me sentir culpada, eu não tinha qualquer compromisso nem com Miguel e nem com Shawn. Um deixou claro que não estava atrás de um relacionamento e o outro, não estava certo de seus sentimentos à ponto de assumir um. Aquilo significava que para todos os efeitos, eu era uma mulher livre, e apesar de não ter qualquer inclinação a manter múltiplos relacionamentos de uma só vez, não estava traindo ninguém, o que não significava que me sentia confortável. Eu realmente não sabia o que fazer. Perto do meio dia, eu estava em frente ao gaveteiro procurando a cópia de um documento, quando senti o perfume de Shawn me envolver pouco antes de seu corpo se colar às minhas costas, suas mãos espalmarem minha cintura e seus lábios tocarem meu pescoço.
— Alguém pode nos ver — sussurrei, estremecendo, e ele me virou de frente. O rosto de Shawn tinha um ar que não via a muito tempo, parecia feliz, em nada lembrava aquele homem perturbado de poucas semanas atrás.
— Sandra e João já foram almoçar — ele explicou.
— E você não foi com meu pai por quê? Ele roçou o nariz no meu e depois me beijou. Meu coração idiota acelerou no mesmo instante, o coitado ainda não tinha se acostumado com a presença de Shawn.
— Ele foi na frente com sua mãe e fiquei de te convidar para encontrar com eles lá.
— Vou almoçar com a Rafa — menti, pois não tinha coragem de ficar em uma mesa com Shawn e meus pais novamente.
— Tem certeza? — perguntou, voltando a beijar meu pescoço, enquanto uma mão boba se insinuava por dentro da minha saia.
— Aham — murmurei, na verdade, foi quase um grunhido, já que não conseguia falar.
— Tudo bem, nos vemos depois — falou, afastando-se bruscamente, não sem antes me dar um apertão na bunda. Safado. Aquela pegada me fez lembrar do que fizemos no dia anterior. Aquelas poucas horas que passei com Shawn foram uma verdadeira loucura. O homem era insaciável e me fazia sentir da mesma forma. Era incrível o quanto combinávamos. Saí das minhas lembranças e fui almoçar. Escolhi um restaurante perto da empresa e quando estava voltando, meus pensamentos se voltaram para ele, não apenas a ele, mas para como seria quando todos descobrissem que estávamos juntos. Minha mãe e Karen torciam muito por isso e ficariam eufóricas, a dúvida estava em como papai reagiria à notícia. Por mais que tenha ficado chateada por Shawn não querer nos assumir logo, sabia que ele estava certo. Eu não me importava que meu pai soubesse, mas tinha que admitir que não tinha ideia de como poderíamos lhe falar sobre isso sem causar estranheza. Queria acreditar que ele pensaria apenas na minha felicidade e aceitaria minha decisão, mesmo que a minha felicidade fosse estar com seu sócio, quinze anos mais velho que eu. Mas sabia que as coisas não seriam simples assim. Meu pai era, em vários aspectos, um conservador, mas não retrógrado, tinha certeza de que ele não se importaria se eu me relacionasse com um homem mais velho, mas não acredito que reagiria da mesma forma se o homem em questão tivesse me visto crescer. Se fosse sincera, diria que era meio estranho mesmo, mas quem podia mandar no coração? Eu tentei, mas não consegui, e precisava arrumar um jeito de amenizar qualquer estrago que essa notícia causasse. Isso, claro, se após o test drive, Shawn ainda quisesse ficar comigo. Lembrar disso fez todas as minhas dúvidas voltarem com força total, afinal, aquela possibilidade existia. Se Shawn não se apaixonasse por mim, essas conjecturas não passariam de desejos e ilusões de uma garota apaixonada, que mesmo aos vinte e três anos, ainda sonhava com seu primeiro e impossível amor. Droga! Eu ganharia muito mais se começasse a trabalhar, isso sim. Dessa forma, talvez, conseguisse esquecer por algumas horas o quanto eu estava apaixonada por Shawn e também as mensagens de Miguel, que chegaria na quarta e queria me ver. Enquanto eu analisava os orçamentos de material para a construção de um condomínio em Atibaia, meu pai e Shawn se reversaram em várias reuniões durante a tarde. No final do dia, meu carro já havia sido entregue, e da empresa fui direto para a casa dos meus pais. Como de costume, a mesa já estava posta com um café fresquinho e uma travessa de pão de queijo recém-saído do forno. Cumprimentei minha mãe e nos sentamos para lanchar. Enquanto comia, podia sentir seu olhar inquisidor. Estava terminando o segundo pãozinho, quando
resolvi saber o que estava acontecendo.
— O que foi, mãe? — inquiri com a boca ainda cheia.
— Por que não quis ir almoçar conosco? — perguntou, me deixando surpresa.
— Nada de mais, apenas tinha muita coisa para fazer e queria voltar logo.
— Eu sou velha, mas não sou burra, dona Camila, Mas o que estava acontecendo? Bebi um gole de café para desentalar a garganta.
— Como assim? — Sabia que a mãe do rapaz da guarita me vende verduras orgânicas?
— Sim, e daí? — E daí que ela veio buscar o filho e ficou esperando dar o horário da troca de turno, por isso viu quando você chegou ontem, tarde da noite, com Shawn. Como não vi essa mulher?
— O namorado da Rafa fez um churrasco, o pneu do meu carro furou e Leonel me deu uma carona, qual o problema disso? — argumentei, meio na defensiva e baixei o olhar. Quando ergui a cabeça novamente, vi que seus olhos estavam estreitos, me dizendo que ela não acreditou em mim. Senti-me extremamente mal, primeiro porque não gostava de mentir para a minha mãe, nós sempre fomos muito amigas e nunca precisei usar desses artifícios, e segundo porque tanto ela quanto a Karen sempre me apoiaram e sabia que elas ficariam felizes. No entanto, não havia nada certo entre nós dois ainda e tinha medo de enchê-las de esperança e Shawn me dispensar. Mas que se dane! Se isso acontecesse, pelo menos teria alguém para sofrer junto comigo e depois me consolar.
— Tudo bem, dona Elise, nós estamos meio que juntos. Imediatamente vi seus olhos se arregalarem em espanto, mas logo um enorme sorriso surgiu em seus lábios e ela se levantou de seu lugar para me a abraçar.
— Ah, filha, estou tão feliz por você. Shawn, finalmente, está percebendo que você é a mulher certa para ele. Mas desde quando isso está acontecendo, por que não falaram nada para nós?
— Calma, mamãe, não é bem assim. Passei os próximos minutos explicando a ela tudo o que tinha acontecido e a proposta de Shawn. Ela não concordou que eu continuasse com Miguel, na cabeça dela, eu e Shawn ficaríamos juntos e não tinha por que manter um “Plano B”. Já eu, era bem mais realista; podia estar apaixonada, mas não era idiota. E por mais que não estivesse realmente a fim de Miguel, tê-lo comigo era uma forma de mostrar a Shawn que se ele não me quisesse, tinha quem queria, e mais importante, que ele não era insubstituível. Quando falei isso a mamãe, ela acabou concordando, sabia que muitos homens só pegavam no tranco e ambas estávamos certas de que Shawn se encaixava nessa categoria.
— Como acha que papai vai
reagir quando souber? — fiz a pergunta que mais me preocupava e esperava que ela tivesse uma resposta positiva a me dar. Minha mãe era a única pessoa que podia ler o Sr. Alejandro e até adivinhar suas reações.
— Desculpe, filha, mas prefiro não opinar com relação a isso. É uma situação completamente atípica e não tenho ideia de como seu pai irá se comportar, mas vamos torcer para que ele mantenha a mente aberta e entenda que não se pode mandar no coração. Não era bem isso que esperava escutar de uma fonte tão próxima ao meu pai, mas não insistiria, papai era imprevisível e só saberíamos quando acontecesse. Depois do nosso café, fui em casa apenas para trocar de roupa e voltei a sair para dar uma caminhada com minha mãe e uma amiga dela, que também morava no condomínio. Voltei para casa perto das 9h, indo direto para o chuveiro. Quando saí, peguei meu celular que havia deixado em meu quarto e me assustei com a quantidade de ligações perdidas de Shawn. Sorri perversamente ao ver aquilo, mas ao invés de retornar, fui passar meus cremes pós banho, deixaria meu homem sofrer mais uns minutinhos. Depois de vestir um conjunto de lingerie, deitei-me na minha cama e liguei para ele.
— Onde você está, Camila? Diferente de mim, que conseguia ver sua garagem da varanda do meu quarto, Shawn só conseguiria ver meu carro se saísse da casa dele e fosse até a lateral da minha, já que minha garagem ficava bem escondida. Por causa disso, não dava para ele saber se eu estava ou não em casa, especialmente porque não fiz questão de acender a luz do quarto quando saí do banheiro.
— Acabei de chegar.
— Posso saber onde estava até esta hora? Sabia o porquê de sua pergunta e podia ter falado de cara que estava com minha mãe, mas queria deixá-lo enciumado por mais algum tempo.
— O que foi, Shawn, está precisando de alguma coisa? Ele respirou pesado do outro lado; devia estar no limite.
— Você estava com ele? Prendi uma risada e resolvi não o torturar mais. — Não, Miguel está viajando. Ouvi sua respiração novamente. Ele devia estar contente por eu não ter saído com Miguel, mas nem tanto, já que era apenas porque ele não estava na cidade.
— Vem dormi comigo? Senti borboletas sambarem em meu estômago ao ouvir o convite.
— Será que devo?
— Se não vier aqui, eu irei aí, esses dois dias me deixaram mal-acostumado. Deliciei-me com suas palavras.
— Tudo bem, vou só trocar de roupa. Deixe a porta da piscina aberta, não quero que ninguém me veja indo para a sua casa esse horário.
— Ok, espero você. Arrumei-me rapidinho, mas antes de sair, liguei para mamãe e pedi que ela não deixasse papai chamar Shawn para ir jantar e muito menos aparecer na casa dele, os dois viviam grudados e às vezes o Sr. Alejandro cismava de conversar com seu sócio tarde da noite. Saí de casa com um enorme sorriso estampado no rosto e ao entrar na sala do meu vizinho, senti um cheiro delicioso de comida, o que significava que ele estava cozinhando, o que me deixou morrendo de inveja, Shawn cozinhava bem demais, enquanto eu, era um desastre. Aproximei-me da bancada que dividia os ambientes e antes de me aproximar, fiquei apreciando meu homem. Shawn estava apenas de bermuda com um pano de prato pendurado em um dos ombros nus. Parecia um típico modelo daqueles que estampavam as capas de livros hot que eu costumava ler na Amazon. Uma delícia. Mas apesar da aparência de garanhão, Shawn era um homem tranquilo ecaseiro, qualidades que sempre me atraíram. Ele estava tão entretido, que não me viu chegar. Aproveitei sua distração e me aproximei devagar, abraçando-o por trás.
— Esse cheiro está de matar — falei e dei um beijo em sua pele quente. Ele descansou a colher de pau que tinha na mão e me puxou para frente, encarando meu rosto com seus marrom escuro, que estavam lindos como sempre, mas visivelmente perturbados. Então me colocou sentada sobre a bancada de mármore atrás de mim e soltou o que estava lhe perturbando:
— Não quero mais que veja esse cara, Camila. Uau. Ele não estava para brincadeira.
— Você já sabe que eu não estava com ele, será que nós temos mesmo que falar sobre isso agora? Ele ainda ficou me olhando por algum tempo, mas depois e me deu um beijo rápido antes de voltar a atenção para as panelas no fogão. Começamos a conversar sobre as reuniões que aconteceram naquela tarde e eu dei minha opinião sobre os orçamentos que havia analisado. Nesse meio tempo, desci da bancada e fui até a geladeira pegar duas cervejas, as quais bebemos, vagarosamente, enquanto a comida ficava pronta, o que não demorou muito. Shawn havia preparado uma massa maravilhosa, que eu comi e repeti. Depois de lavarmos a louça, subimos para ver sua série favorita, mas não fomos bem-sucedidos. Antes mesmo do final do primeiro episódio, eu estava deitada sendo comprimida no colchão pelo corpo poderoso de Shawn. Sua ânsia só não era maior que a minha, mas dessa vez ele pegou leve, tinha sensibilidade suficiente para imaginar que eu ainda não havia me recuperado completamente do final de semana. Depois da transa maravilhosa, dormimos de conchinha e acordei com Shawn em cima de mim, dentro de mim, falando o quanto eu era gostosa e o quanto meu corpo o enlouquecia. Não me lembrava de já ter acordado tão bem e com tanta disposição. A terça-feira seguiu pelo mesmo caminho, no entanto, não pude dormir na casa dele, porque papai ligou avisando que estava indo até lá para tratar de um assunto. Nós tínhamos acabado de começar nosso amasso noturno e a cara que Shawn fez foi impagável. Infelizmente eu não pude ficar mais tempo para apreciar, pois se o Sr. Alejandro me pegasse ali, ele, com certeza, teria um infarto. Ainda rindo, vesti-me na velocidade da luz e atravessei a cerca viva na hora em que meu pai atravessou o jardim da casa de Shawn. Na quarta pela manhã, Miguel me ligou avisando que teria uma reunião na parte da tarde com meu pai e que no final passaria em minha sala para me ver. Como já havia recusado sua última visita e não nos víamos desde antes dele viajar, achei de bom tom recebê-lo, até porque Shawn não estaria na empresa nesse horário, e isso evitaria um confronto. Como de costume, na hora do almoço papai me convidou para almoçar e dessa vez eu aceitei, achando que ele estaria sozinho, mas para variar, Shawn estava junto. Fomos ao restaurante de sempre e o assunto girou em torno da empresa; meu pai só sabia falar de trabalho, exceto quando estava com minha mãe, talvez por isso sua saúde andasse debilitada. Ele vivia com a pressão nas alturas e ultimamente se cansava bem mais facilmente. Mamãe estava preocupada, mas nem ao médico ele quis ir ainda. Como já a conhecia o suficiente, sabia que em pouco tempo ela estaria partindo para a chantagem emocional, só assim meu pai parava um pouco. Era quando eles viajavam e, mesmo que ele tivesse vontade, ela não o deixava falar com Shawn sequer pelo telefone. Estava esperando para ver qual seria a chantagem da vez. Quando terminei minha sobremesa, pedi licença e fui ao toalete, mas para minha total desgraça, dei de cara com Miguel entrando na churrascaria com outros dois homens engravatados. Ele também notou minha presença na mesma hora e foi ao meu encontro. Diferente do que tínhamos conversado no dia em que ficamos pela primeira vez, Miguel devia estar achando que estávamos namorando, só isso para justificar o beijo que ele me deu na boca. Fiquei tão aturdida que nem ao menos fechei os olhos e ainda tentava entender o que estava acontecendo quando ele se afastou de mim. Que Shawn não tenha visto isso, pedi aos céus e olhei disfarçadamente para mesa. Infelizmente, enquanto papai falava sem parar, Shawn me encarava com o semblante fechado, podia jurar que ele estava se segurando para não fazer uma loucura.
— Estou com meu pai aqui no restaurante — avisei, completamente sem graça.
— Desculpe, não resisti, estava com saudades. — Ele sorriu com genuína alegria e acabei sorrindo também. Miguel era um fofo e não tinha culpa do meu lance mal resolvido com Shawn.
— Tudo bem, nos vemos à tarde — falei, querendo me afastar.
— Claro, até depois, linda. Meu Deus, o que eu fiz? Parecia que depois de todas as minhas recusas, Miguel tinha ficado mais afim ainda. Droga! Fui ao banheiro e quando voltei papai e Shawn já esperavam por mim. O caminho até a empresa foi dominado pelas conversas paralelas do meu pai que em nenhum momento percebeu o quanto o clima estava estranho. Enquanto dirigia, com meu pai ao seu lado, Shawn se mantinha concentrado em sua tarefa, mas antodo momento seus olhos me fuzilavam através do retrovisor central e aquilo já estava me deixando enervada. Eu não tive culpa do beijo que Miguel me deu, fui pega desprevenida, mas sabia que não escaparia de suas reclamações. Quando chegamos ao nosso andar, Sandra ainda não havia chegado e papai foi direto para sua sala. Após me despedir dele fiz o mesmo, sendo seguida por Shawn. Passei pela porta e ouvi quando ele a trancou assim que entrou. Tinha acabado de colocar minha bolsa sobre a mesa quando senti meu braço sendo puxado.
— O que foi aquilo no restaurante, Camila, vocês estão namorando? Suspirei profundamente antes de responder.
— Não e não tive culpa do que aconteceu. Ele me viu e automaticamente me beijou... Não sei o que está se passando na cabeça dele.
— Se o cara se sentiu no direito de te beijar na frente de todo mundo, é porque você deu alguma esperança. O que você está querendo, Camila, ficar com os dois para depois decidir quem é melhor? — perguntou com a voz cheia de ódio.
— O que você pensa que eu sou, Shawn, uma puta que dá pra vários caras de uma vez? — inquiri extremamente irritada e puxei meu braço de seu aperto indo para longe dele.
— Eu não quis ofendê-la, mas coloque-se no meu lugar e tenta imaginar como me senti ao ver vocês dois se beijando, sendo que poucas horas antes, você estava acordando nos meus braços. Suspirei novamente, estava acontecendo exatamente o que eu quis evitar.
— Você sabia que eu estava ficando com o Miguel quando me fez aquela proposta, então em momento algum eu enganei você. Também não disse que havia terminado nosso lance, mas isso não quer dizer que eu esteja transando com vocês dois, eu não faria isso, mas nós continuamos trocando mensagens, embora eu nunca mais tenha ficado com ele — admiti e isso o deixou ainda mais irritado.
— Quer dizer que você transa comigo enquanto fica de papo com outro? Bom, é mais ou menos isso que está acontecendo, sim.
— Não é do jeito que você pensa.
— Sou um homem egoísta, Camila, não sei dividir nada, especialmente mulher.
— Eu sei, também sou assim, mas você tem que convir que nossa situação é muito incerta. Você não firmou nenhum compromisso comigo, da mesma forma que não firmei qualquer compromisso com Miguel, mas ele é um cara legal e não pretendo terminar tudo sem saber o que você quer comigo Parecia cruel falar daquele jeito, mas precisava que ele soubesse o que eu achava do que estava acontecendo entre nós, além disso, não dava para deixar a situação favorável demais a ele ou Shawn não me valorizaria, algum obstáculo deveria ser colocado em nossa relação ou as coisas iriam parecer muito fáceis. Tudo bem que meu pai era um grande obstáculo, talvez o maior deles, mas meu homem precisava de um incentivo para tomar logo a decisão de assumir alguma coisa comigo, ou — e doía cogitar isso — me deixar em paz de vez.
— Se eu não te quisesse, nós não estaríamos tendo esta conversa. Mas eu preciso que a Fernanda saia do hospital primeiro, ela ainda está vulnerável, com depressão e não dá para assumir um relacionamento, sendo o nosso término tão recente. Eu sei que após ela ter dado um fim ao nosso relacionamento, é problema de sua família lidar com o que quer que aconteça, mas eu não sou assim; nós ficamos juntos por quase cinco anos e a instabilidade de suas emoções ainda me preocupa. Diga que entende? Óbvio que eu entendia, seria péssimo que todos, especialmente meu pai, achassem que toda essa briga por causa do noivado tivesse acontecido por minha causa. Certamente pensariam que nós estávamos juntos antes mesmo do namoro acabar e aí, sim, meu pai ficaria possesso.
— Até aí eu entendo, mas e depois?
— Como assim?
— Um dia é meu pai, no outro a Fernanda, qual vai ser a desculpa da próxima vez?
— Você acha mesmo que são apenas desculpas, Camila, especialmente com relação ao seu pai? E se eu te assumir e por alguma razão não der certo, já parou para pensar o que vai acontecer?
— Ele passou as mãos pelos cabelos num típico gesto de nervosismo, depois se aproximou de mim e falou:
— Eu já disse que quero você, não é isso o que importa?
— Talvez em outra época, mas agora, querer não é suficiente. Shawn respirou pesadamente, entendendo que eu não iria ceder; precisava que ele tomasse uma decisão em relação a nós.
— Decida com qual dos dois vai ficar e me avise — impetrou e mal pude acreditar que o esperto tinha jogado a bomba para cima de mim. Antes que eu pudesse responder, Sandra bateu em minha porta. Embora um pouco relutante, Shawn passou por mim e entrou em sua sala, afinal, não conseguiríamos mais conversar ali. Abri a porta para Sandra que tinha ido me dizer que o pessoal do setor de compras já estava me esperando na sala de reuniões. Pedi que ela avisasse a eles que eu estava indo e fechei a porta, indo ao banheiro em seguida para escovar os dentes. Tentei focar no trabalho, mas durante toda a tarde fiquei pensando na minha discussão com Shawn e, principalmente, em sua demanda. Era nítido que ele gostava de mim, do meu corpo, mas isso não era suficiente para assumir algo mais sério com a filha do seu sócio. Shawn precisava se apaixonar por mim, apenas assim ele enfrentaria qualquer coisa. Quando saí da reunião, Sandra avisou que Miguel tinha ido à minha procura enquanto eu estava em reunião e aquilo só deixou minha cabeça, já nublada de dúvidas, ainda mais tempestuosa. Antes de sair, resolvi ligar para Rafaela, precisava desabafar e me aconselhar com alguém ou acabaria enlouquecendo.
— Você não está errada em cozinhar o Miguel em banho-maria, amiga, afinal, o Shawn não sabe o que quer. Primeiro ele fala que quer manter o lance de vocês em segredo por causa do seu pai, o que eu até concordo, depois junta a ex-noiva maluca no rolo... Eu sei que o ama e que a vida do cara está uma bagunça, mas sendo bem sincera, penso que está na hora de você tomar uma decisão. No início estava tudo bem, porém, eu acho que já deu, não dá para ficar com os dois, então, escolha um e reze para que dê certo, mas se não der, parta para outra. Rafaela sempre conseguiu colocar um pouco de racionalidade nas minhas conjecturas e mais uma vez estava certa e m sua análise. Não dava para ficar transando com Shawn sem compromisso e enganando o Miguel por trás; eu teria que me decidir por um deles com urgência ou as coisas acabariam saindo do controle. Shawn não era homem de aguentar esse tipo de situação e conseguia imaginar o quanto foi difícil para ele ver outro homem me beijando. Por outro lado, eu não podia me apegar a isso e esquecer tudo que já tinha passado por causa dele.
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