Capitulo 30

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Camila


Conforme Shawn me beijava, penetrava e estimulava meu nervo sensível com os dedos, meu corpo foi ganhando vida e tudo o que eu queria era ir além e satisfazer o desejo que queimava a ambos. Mas então a imagem de Miguel surgiu em minha mente me fazendo sentir suja, uma vagabunda qualquer. Que diabos estava acontecendo comigo, eu não podia ficar com dois homens! Usei toda a força que consegui reunir e afastei Shawn. Então pulei do sofá e caminhei para longe, sentindo a pele pinicar de tão quente. Maldito! Só ele conseguia me deixar daquele jeito.
— O que foi agora, Camila?
— Como assim o que foi agora? O que estamos fazendo não é certo — falei, ficando ainda mais irritada ao vê-lo lamber os dedos em um gesto teatral.
— Deliciosa.
— Não estou brincando, Shawn. Não sou uma puta para dividir a cama com dois homens.
— Você disse que não dormiu com ele.
— Ainda não, mas se as coisas continuarem como estão, muito em breve vou dormir. Shawn ficou em silêncio, trincando os dentes, decerto imaginando Miguel e eu fazendo sexo. Achei que ele fosse esbravejar ou tentar me convencer a romper com Miguel, mas para minha surpresa, ele apenas se levantou, furioso, e saiu batendo a porta. Fiquei aliviada na hora, mas depois uma tristeza enorme me abateu. Eu amava Shawn, mas não seria seu brinquedinho sexual, se ele me quisesse, teria que enfrentar tudo e todos para ficar comigo, eu não merecia menos do que isso. Adormeci irritada e morrendo de tesão, estar nos braços de Shawn me deixava completamente acesa, então foi difícil pegar no sono. Quando saí de casa na manhã seguinte, o carro dele não estava mais na garagem, eu sabia que tinha ido trabalhar, mas não cruzei com ele em momento algum, o que me fez ter certeza de que ele estava com raiva e preferiu ficar longe. Ótimo. Assim eu poderia trabalhar em paz. Na parte da manhã, visitei alguns setores da empresa a pedido de meu pai, segundo ele, eu precisava ser vista para que meu rosto não fosse esquecido. Achei graça de seu comentário, mas concordei com ele. Apesar de papai ainda ter muita disposição, esse cansaço que ele andava sentindo vinha preocupando minha mãe. Ela tinha certeza de que isso era culpa do ritmo frenético com que levava a vida. Estava certa de que se anos atrás, não houvesse exigido que ele estivesse em casa no horário normal, ele certamente teria trabalhado todo esse tempo até 9 ou 10 horas da noite. Sua nova demanda era de que ele já começasse a pensar em se aposentar e quando isso acontecesse, eu teria que assumir seu lugar, muito provavelmente ao lado de Shawn, que era mais novo e, dificilmente, sofreria aquele tipo de problema, já que tinha hábitos bem diferentes, o que lhe garantiria mais alguns anos. Pensar nisso me fez imaginar como estaríamos dali a dois anos, ou dez. Será que estaríamos casados. Ele, com certeza, se casaria antes de mim e apenas imaginar aquela hipótese fez um estremecimento de medo perpassar minha coluna. Resolvi mudar os rumos dos meus pensamentos antes que usasse, pela primeira vez, a porta colocada ali pelo meu pai. No final da manhã, Miguel me ligou falando que tinha adorado nossos últimos encontros e que estava ansioso para me ver novamente. Porém, a festa do aniversário de Karen seria no dia seguinte e eu tinha coisas demais para fazer, não dava para sair e dormir tarde novamente. Por isso disse a ele que teria um compromisso e precisaria dormir cedo, mas que poderíamos fazer algo à noite. Quando desliguei, fiquei me lembrando dos nossos últimos encontros. Ele era um cara legal, tinha um beijo bom, uma pegada firme, mas nada saía da normalidade, aquele tesão louco só existia nos brações do meu maldito vizinho e isso me deixava com ainda mais raiva. Eu queria poder sentir isso com outros homens também, mas era sempre tão morno, sem graça, sem cor. Ao sair de minhas abstrações, vi que já era meio-dia e resolvi sair para almoçar. Encontrei Sandra esperando pelo elevador e acabamos indo juntas. Tínhamos conversado sobre vários assuntos corriqueiros, quando ela me jogou a bomba:
— Você já ficou sabendo que a Fernanda recebeu alta? Abri a boca, que graças a Deus estava vazia, e senti meu estômago gelar.
— Como você ficou sabendo disso e eu não? Ela riu um pouco da cara que eu fiz, tomou um gole do seu suco e respondeu:
— Na verdade, foi sem querer. O Sr. Shawn chegou mais cedo hoje e acabamos pegando o elevador juntos. Quando as portas se fecharam, seu telefone tocou. Eu não sei quem era, mas deu para entender que estavam lhe informando que ela sairia do hospital ainda de manhã.
— Entendi. Bom, espero que ela tenha se recuperado bem.
— Eu também, e desejo que ela seja feliz, mas de preferência, longe do Sr. Shawn, agora que eles não estão mais juntos e ela está bem, espero que vocês dois se acertem. Ah, se você soubesse, pensei comigo mesma e sorri para ela, balançando a cabeça. Mas por dentro estava uma pilha. Ainda não tinha me convencido de que Fernanda havia mesmo desistido de Shawn e com nossa briga recente, ele estava completamente disponível, o que seria um prato cheio para ela. Por outro lado... Eu sabia que não era certo ficar enchendo minha cabeça e coração de ilusões, já que tinha resolvido dar uma chance a outro homem, no entanto, tudo em que conseguia pensar era que agora o único obstáculo que nos impedia de ficar juntos, era meu pai e Deus sabia que se Shawn dissesse que me amava, eu largaria o Miguel e enfrentaria qualquer coisa ao lado dele. Entretanto, se após essa notícia ele ainda não quisesse me assumir, era porque não tinha certeza dos seus sentimentos por mim, e nesse caso, era melhor que continuássemos afastados. Foi a esse pensamento que me apeguei para não sair dali e cobrar um posicionamento dele. Eu sabia que Shawn estava sofrendo à sua maneira, pois até a Sandra havia comentado que ele andava abatido. Só que muitas vezes eu também estive nessa situação e não recebi seu consolo, muito pelo contrário, tive que ficar vendo enquanto ele desfilava com diferentes mulheres por anos, então, não iria ceder. Já tinha lhe dado uma amostra do que poderia ser o nosso relacionamento e a bola agora estava com ele. Se Shawn quisesse ficar comigo, teria que ser por amor e não desejo, apenas assim eu conseguiria ser feliz. Eu sabia que parecia dramático e definitivo, mas sentia como se tivesse esperado por aquele homem a minha vida inteira e queria um relacionamento real, onde pudesse abraçá-lo e beijá-lo quando tivesse vontade, sem que nenhum de nós escondesse nossos sentimentos. Eu merecia isso. Acordei cedo no sábado e fui direto para o salão de festas, pois o pessoal da decoração iria chegar antes das nove e precisariam de orientações. Durante a semana eu falei algumas vezes com Rebeca para ajustar os últimos detalhes e escolher as bebidas que seriam servidas. Karen era uma mulher espirituosa e cheia de amigos, mas restringiu sua lista de convidados a cinquenta pessoas alegando que queria aproveitar sua festa e quanto mais convidados, mais sala ela teria que fazer, de forma que a maioria das pessoas seriam parentes e amigos bem próximos. Perto das 10h da manhã, Shawn apareceu à porta do salão. Estava usando jeans azul, camisa polo cinza e óculos escuros. As mulheres que faziam a decoração, tinham parado seus serviços apenas para observá-lo e quando ele tirou os óculos, cheguei a ouvir alguns suspiros. Revirei os olhos internamente, mas permaneci impassível.
— Está ficando ótimo, sua sogra vai ficar feliz — ele brincou, mas não consegui achar graça. Sempre sonhei com isso e escutar esse termo vindo da boca de Shawn, me causou uma miríade de emoções. Por que ele não falava essas coisas antes?
— Espero que sim — falei de forma seca, tentando não responder à sua provocação. Shawn perambulou pelo salão, analisando os detalhes da decoração, e quando percebeu que eu não lhe daria atenção, despediu-se e foi embora. Perto do meio-dia o salão estava praticamente pronto, faltando receber apenas alguns arranjos de flores que chegariam à tarde e seriam posicionados por mim. O buffet chegaria às cinco e assim que os orientasse, voltaria para casa a fim de me arrumar. Fechei o salão e até a casa dos meus pais, onde todos se reuniriam para o almoço. Quando entrei na cozinha, um cheiro delicioso se espalhava pelo ar e imaginei que mamãe devia estar replicando alguma receita de família. Do lado de fora, podia ver
meu pai e Shawn junto à churrasqueira, cada um com uma cerveja na mão, provavelmente falando de negócios. Ao perceberem minha presença, mamãe, Karen e Maria voltaram seus olhares para mim; cada uma tinha um sorriso maior que o outro no rosto.
— O que foi? — perguntei, sentando-me à mesa junto com elas.
— Shawn disse que a decoração está ficando uma beleza — Karen falou, claramente inventando aquilo para me tirar da saia justa.
— Está mesmo, só faltam alguns arranjos e ficará perfeita. Quis saber no que podia ajudar e Maria me passou uma bacia com alface e tomate, como sempre acontecia. Quando reclamei dizendo que salada era a única coisa que sabia fazer, Karen me sugeriu que fizesse um curso de gastronomia, não uma faculdade, mas um daqueles que ensinam as coisas básicas e aquilo me animou, procuraria saber a respeito quando chegasse na empresa, segunda-feira. Elas começaram, então, a falar sobre receitas, mas mesmo com a conversa animada que estávamos tendo, a toda hora me pegava olhando para além da janela da cozinha, onde sempre me deparava com o olhar intenso de Shawn. O fato de ter toda a sua atenção sobre mim, ainda me deixava com frio na barriga. Através daquela mesma janela, eu o admirei por anos, sem esperança nenhuma de que algo acontecesse e olha o empasse onde nos encontrávamos agora. Dez minutos depois meu pai foi nos chamar e almoçamos no mesmo clima alegre de sempre. As três alcoviteiras eram só sorrisinhos e olhares. Se papai fosse mais esperto, teria desconfiado de que havia acontecido algo, já Shawn, que certamente tinha sacado o porquê de tudo aquilo, parecia não se importar. Na verdade, ele parecia era bastante satisfeito. Às 15h30, recebi uma mensagem da pessoa que levaria as flores dizendo que estava chegando. Mamãe e Karen tinham acabado de sair para ir ao cabeleireiro, então Maria me acompanhou até o salão de festas para me ajudar a organizar o que faltava. Pouco antes das 17h, vi uma movimentação no estacionamento e achei que fosse Rebeca, porém, quem entrou foi seu irmão.
— Como vai, Rodrigo, que surpresa vê-lo por aqui!
— Rebeca teve um imprevisto, mas deve estar chegando, só vim ajudar o pessoal a se organizar e já vou embora. Eu podia pedir que ficasse e aproveitasse a festa, mas era arriscado demais. Desde que ele começara a trabalhar na empresa, Shawn o tratava com um pouco de frieza e distanciamento, nitidamente com ciúmes; podia apenas imaginar como se comportaria se soubesse que no dia em que fizemos amor, era com Rodrigo que eu estava. Mas o destino fazia o que queria, e eis que entra Shawn. Toda a suavidade que havia em seu rosto se foi quando viu o rapaz. Ele ficou sério e olhou para mim com cara de poucos amigos, no mínimo achando que eu o tinha convidado. Quando se aproximou e nos cumprimentou, apressei-me em explicar o motivo de sua presença ali, mas percebi que Shawn ficou meio ressabiado por ver a camaradagem com que nos tratávamos. O clima ficou meio estranho e Rodrigo pediu licença para ir ajustar os últimos detalhes. Como tinha terminado de arrumar tudo, pedi a Maria para receber Rebeca, que devia estar prestes a chegar com seu pessoal e fui para minha casa, deixando Shawn parado no mesmo lugar. Já que tinha um pouco de tempo sobrando, resolvi encher a banheira para tomar um banho de imersão. Estava com o corpo um pouco dolorido e a água quente me ajudaria a relaxar. Cerca de uma hora e meia depois, estava completamente pronta. Como era uma festa de família, optei por um vestido comportado, mas que delineava perfeitamente as minhas curvas. Ele era de um amarelo vivo todo estampado com flores brancas. A mistura do tecido grosso, mas macio e levemente aderente, junto com a estampa romântica, me fez parecer sexy, e, ao mesmo tempo, inocente. Como acontecia em ocasiões especiais, caprichei um pouco mais na maquiagem, nada exagerado, mas marcante. Para contrastar com o tom do vestido, escolhi um batom vermelho e o resultado ficou incrível. Quando estava saindo de casa, Miguel me ligou para saber se nosso encontro estava de pé. Fiquei me sentindo um pouco culpada, pois tinha me esquecido completamente, e mais ainda por minha vontade de desmarcar. Eu sabia que estaria muito cansada quando a festa acabasse, e a última coisa que desejava era ter que sair. Por isso confirmei, mas disse que ficaríamos na minha casa. Ele não pareceu se importar e fiquei de mandar uma mensagem quando estivesse livre. Estava saindo da área de preparo, que ficava anexa ao salão, quando vi Davi e Rafa caminhando em direção às portas de vidro. Eles tinham sido os primeiros convidados a chegar e pela forma como estavam produzidos, iriam esticar a noite quando saíssem dali. Minha amiga estava linda em um vestido preto e curto com alças finas e saia fluida. As sandálias altíssimas deixavam suas pernas incríveis, além de ela ter ficado quase da altura do Davi, que também estava belíssimo com uma camisa azul marinho e uma calça preta num estilo mais social. Eles faziam um belo casal e pareciam bem comprometidos, mesmo que Davi a tenha chamado de namorada apenas naquela pequena cena de ciúmes que contracenou com Cesar. Vê-los assim, tão bem, me deixava um pouco melancólica. Rafa era apenas cinco meses mais velha do que eu, e o Davi, dois anos mais novo que o Shawn, mas em tese, estávamos no mesmo patamar, no entanto, eles estavam juntos,  nquanto eu, continuava esperando por uma decisão de Shawn, que sequer teve coragem de comentar comigo sobre Fernanda ter recebido alta. Forcei minha mente a não enveredar por esse caminho, ou acabaria me entregando à tristeza que se insinuava cada vez mais forte, sempre que colocava minha cabeça no travesseiro.
— Meu Deus, Camz! A decoração está maravilhosa — Rafa elogiou depois que cumprimentei Davi.
— Fiquei a manhã toda envolvida nisso, mas o resultado ficou ótimo. Nessa hora, Shawn chegou e foi em nossa direção. Ele me fitou de cima a baixo, com aquele mesmo olhar de desejo que eu já conhecia tão bem e tive que engolir em seco. Após trocar algumas palavras, ele e Davi foram ao bar pegar bebidas, dando um tempo para que eu e Rafa colocássemos o papo em dia.
— E aí como estão as coisas — Rafa quis saber enquanto nos encaminhávamos ao local onde
ficava instalado o sistema de som.
— Continuo saindo com Miguel, mas Shawn não para de infernizar, resolveu se dar conta de que eu existo.
— Eu sabia que isso iria acontecer, foi só saber que você estava com outro, que ele começou a correr atrás do prejuízo. Eu espero que não esteja pensando em ceder.
— Não. Mas tenho que confessar que é difícil. Além de tudo, o homem ainda é muito gostoso, sabe o que faz e consegue me deixar louca.
— Sei bem do que você está falando. Namorar com um homem mais velho tem essas vantagens. Tamanho importa, e nesse quesito eu não tenho do que reclamar, mas experiência, ah, minha amiga, isso faz toda a diferença. De repente estávamos rindo feito duas loucas, até minha amiga fazer uma cara de espanto, chegando a engasgar com uma risada.
— Santo Deus, quem é aquele gato? — perguntou ao ver Rodrigo se despedindo dos garçons e funcionários do serviço de buffet.
— Ele cuida do TI da empresa e através dele conheci o restaurante de sua irmã, Rebeca, que será responsável por todo o cardápio da festa, incluindo as bebidas. Parecendo que havia sido conjurada, Rebeca atravessou a porta do salão completamente esbaforida, desviando-se de seu caminho quando me viu e indo até mim.
— Perdão pelo atraso, Camila — falou, à guisa de cumprimento, mas saudou a Rafa.
— Tudo bem, pelo que vi, está tudo sob controle. Ela sorriu, parecendo satisfeita, e pediu licença para ir falar com seus funcionários. Quando, minutos depois, Rodrigo se aproximou de nós para se despedir, apresentei-o à minha amiga, que ficou impressionada com os atributos do rapaz.
— Se o Miguel cometer qualquer deslize com você, invista nesse maravilhoso aí — sugeriu quando ele se afastou. Sorri e olhei em direção ao estacionamento. Vi que ao entrar em seu carro, Rodrigo ainda deu uma última olhada para dentro, antes de manobrar e seguir em direção aos portões do condomínio. Após ele desaparecer da minha vista, voltei minha atenção para o salão e peguei Shawn me encarando com semblante sério. Dava para ver que estava irritado e podia até imaginar que tipo de pensamentos rondavam sua cabeça ciumenta. Nossa troca de olhares foi interrompida quando percebi que alguém estacionava na vaga liberada por Rodrigo. Ao atravessar o salão a fim de receber o convidado, reconheci o carro de papai. Logo, ele, mamãe e Karen desceram. Acabei rindo quando papai se enfiou entre as amigas e ofereceu um braço para cada. As duas mulheres estavam produzidas e sorridentes. Na verdade, Karen parecia radiante. Seus cabelos estavam escovados e o rosto levemente marcado pelo tempo, maquiado. Seu vestido era longo e florido, com cores vibrantes que combinavam com a decoração. Ao chegar à porta, senti a presença de Shawn logo atrás de mim. Eu sabia que ele havia se aproximado para recepcionar sua mãe, mas não pude evitar um leve estremecimento.
— Nossa, Camlia, está tudo perfeito! Há tantas cores, tanta alegria, era exatamente o que eu queria — ela elogiou após mapear todo o salão e então me apertou em um abraço.
— Você merece, querida. Então ela sorriu para Shawn e eles se abraçaram por vários segundos, com extremo carinho. A relação dos dois era linda e a forma como ele amava a mãe, apenas me fazia amá-lo ainda mais. Após os cumprimentos, homens e mulheres se dispersaram. Sílvia e mamãe saíram pelo salão analisando todos os detalhes mais de perto, parando próximo a cozinha para conversar com Rebeca. Papai, por sua vez, levou Shawn e Davi para uma das mesas que foram colocadas no deck. Pouco tempo depois, surpreendi-me ao ver o vizinho de Shawn, que eu havia conhecido na minha primeira visita à fazenda, depois que voltei de viagem. Assim que o viu, Karen foi recebê-lo. O Sr. Luiz estava acompanhado de um casal, que depois eu fiquei sabendo serem seu filho e nora. Quando todos eles se sentaram na mesma mesa que Karen e mamãe ocupavam e vi a forma como minha ex-futura sogra corava de vez em quando, um pensamento atravessou minha mente e na mesma hora fiquei imaginando como seria a reação de Shawn se o que estava pensando fosse realmente verdade. Conforme os convidados chegavam, fui ajudando Karen a recepcioná-los e só parei para sentar quando os primeiros petiscos começaram a ser servidos.
— Shawn está te olhando com uma cara — Maria sussurrou ao meu ouvido, quando estávamos paradas perto do bar.
— Depois eu explico o motivo — falei para ela, que já estava toda produzida para a festa, usando um conjuntinho laranja bem chamativo e a cara dela. Sem nada para fazer, caminhei até a mesa onde Rafa e Shawn estavam sentados. Papai havia se afastado para conversar com alguns conhecidos e aproveitei para me sentar, antes que ele voltasse e começasse a falar de negócios.
— Até que enfim você parou um pouco — Rafa reclamou quando caí na cadeira ao seu lado.
— Agora que todos os convidados já chegaram, vai dar para curtir um pouco. E o Davi? — perguntei quando não o encontrei pelas redondezas.
— Foi ao banheiro, mas deve estar vindo. — Após eu assentir ela acrescentou:
— Vou pegar mais uma bebida, quer alguma coisa? — Neguei com a cabeça e Rafa se foi, mas por sua expressão, sabia que muito em breve ela voltaria. Quando finalmente olhei para Shawn, ele me encarava com o semblante fechado.
— Seu namorado não vem? Dei uma risada desgostosa e olhei para o lago atrás dele.
— Não — respondi apenas, sem a mínima vontade de corrigi-lo. Ele suspirou fortemente, parecendo mais cansado do que irritado.
— Eu tenho que te confessar uma coisa. Quando fizemos amor pela primeira vez, lá na fazenda, eu não estava pensando em nada, quer dizer, desde que você voltou ao Brasil, tudo mudou, a garotinha que eu conheci tinha se tornado uma mulher e aquilo me confundiu e afetou demais, porém, é impossível contestar a química que surgiu entre nós e naquela primeira vez, eu simplesmente não consegui me conter. Ainda mais que você não ajudou muito. Então aconteceu tudo aquilo com a Fernanda, nós nos distanciamos e eu achei que o
que fizemos ficaria no passado, mas a cada dia que eu te via, percebia que as coisas não seriam bem assim, até que, por fim, tudo o que eu queria era ter você novamente. Todavia, quando te fiz aquela proposta, eu não sabia que as coisas tomariam essas proporções, e... Ele se calou, parecendo um pouco constrangido e quando não falou mais nada, eu insisti, precisava saber o que ele estava querendo dizer.
— Que proporções?
— Eu não consigo te imaginar com outro homem. Senti um delicioso friozinho na barriga ao escutar aquelas palavras. Minha vontade era me sentar em seu colo e beijá-lo até saciar a sede que estava sentindo dele, sem me importar com quem estivesse nos vendo. Mas tinha que colocar os pés no chão, nada disso significava que ele me amava, nem que, estava disposto a enfrentar meu pai por minha causa, então, não poderia simplesmente baixar a guarda e ver no que ia dar.
— Shawn, acho que aqui não é lugar para discutirmos isso. Seu semblante ficou triste, mas ele assentiu e em seguida falou:
— Vou para a fazenda amanhã, vem comigo. Não sei por quantas vezes desejei que Shawn me convidasse para ir com ele à fazenda, simplesmente porque não queria ficar longe de mim. Mas embora eu tivesse muita vontade, isso agora não fazia muito sentido, além de não ser seguro. Shawn não precisava fazer muita coisa para me deixar louca e estar num dos lugares que eu mais adorava, com o homem que eu amava, levaria a palavra tentação ao grau máximo. Só que se eu cedesse ao que poderia ser apenas um capricho de Shawn, correria o risco de perder o que estava construindo com Miguel, e no final, acabaria sozinha.
— Eu agradeço, mas já tenho outros planos — respondi, secamente. —
Com licença — pedi e voltei para a festa. A festa tinha sido um sucesso. Karen não poupou elogios por todo o meu empenho e fiquei realizada por ela ter gostado. Mas ela não foi a única, todos estavam alegres e se divertiram muito com o descontraído clima mexicano. O único que não pareceu se divertir muito foi Shawn, que passou a maior parte do tempo seguindo meus passos com o olhar. Ele estava tão vidrado em mim, que por muitas vezes tive que ir ao banheiro para que ele parasse de me encarar. Foi a única forma que achei para quebrar o contato visual. E eu tinha certeza de que ele continuaria assim, se não tivesse saído para deixar Karen em seu apartamento. Karen... Para não querer ficar na casa de Shawn, ela provavelmente estava imaginando que atrapalharia alguma coisa entre nós. Nem ela, nem mamãe sabiam que nosso lance tinha desandado, antes mesmo de ter deslanchado e muito menos que eu já estava tentando seguir em frente. Sem saber exatamente o que aconteceria conosco, achei melhor deixar as coisas como estavam para não desiludi-las, especialmente quando Karen foi se despedir dizendo que preferia ficar em seu apartamento, sustentando um enorme sorriso e dando uma piscadinha conspiratória antes de se virar e seguir até a porta, onde seu filho mal-humorado a esperava. Cerca de meia hora depois que eles saíram, foi a vez de Rebeca e seus funcionários. Eu a agradeci e elogiei muito pelo belíssimo trabalho. Ela era uma excelente prestadora de serviços e certamente seria indicada, tanto por mim quanto pelos convidados, que não se cansaram de elogiar e pedir seu telefone. Ao chegar em frente aos portões da minha casa, arrisquei olhar, disfarçadamente, para o lado e vi que Shawn já havia chegado. Só esperava que ele não inventasse de aparecer, ou a situação ficaria bem constrangedora, isso se não se tornasse violenta. Depois que estacionei na garagem, entrei rapidamente e corri até meu quarto para trocar de roupa. Receber Miguel com aquele vestido podia dar margem a interpretações errôneas de sua parte. Por isso, coloquei um jeans e um suéter, retirei o excesso de maquiagem e desci quando ele chegou, vários minutos depois. Apesar de cansada, eu o recebi com o máximo de simpatia que pude, abri uma garrafa de vinho e ficamos conversando na sala. Depois de ter secado a primeira taça de vinho, consegui relaxar um pouco mais. Miguel tinha um papo legal, mas nunca chegávamos a aprofundar nenhuma questão, especialmente no que se referia a ele, que tratava tudo de forma um tanto artificial. Mesmo após pouquíssimos encontros, já estava começando a me cansar dele. E embora já soubesse que seria assim, isso era uma coisa horrível para se pensar. Mas o que eu podia fazer? Meu coração não vibrava na presença de Miguel, pois sentia falta dos olhares desejosos e toques sorrateiros de Shawn. Não dava para esquecer um grande amor de uma hora para outra, mesmo assim, eu tinha que tentar. Após a segunda taça de vinho, a conversa se transformou em namoro, então nossos beijos foram ficando mais
quentes e Miguel mais ousado, com direito a mão boba subindo por dentro da minha blusa. Essa foi a primeira vez que ele se aventurou nesse sentido, mas já havia acontecido várias vezes enquanto eu estava em Boston. Na época eu não me importei, normalmente era assim que as coisas começavam. Contudo, depois de ter dormido nos braços de Shawn, meu corpo parecia sentir repulsa por qualquer outro toque. Por mais bonito e habilidoso que Miguel fosse, eu não consegui me excitar, na verdade, fiquei tensa, meu corpo não reconhecia aquele carinho como algo legítimo e querido.
— Vamos com calma — falei, me afastando dele para tomar um pouco de ar. Cenas de Shawn me tocando no dia anterior invadiram a minha mente, me fazendo sentir a mais promíscua das criaturas.
— Tudo bem, vamos no seu tempo, linda — disse ele, se recompondo. Olhei para Miguel e me senti uma pessoa horrível. Ele era bonito, mais jovem que Shawn, descomplicado, estava a fim, tinha um beijo gostoso, fora pré-aprovado pelo meu pai... Enfim, possuía todos os pré-requisitos desejados pela maioria das mulheres, mas meu coração bandido não conseguia se apaixonar por ele. Porque, meu Deus? Porque você já ama Shawn Mendes, oras. A cada minuto que passava eu me convencia ainda mais de que convidar Miguel para ir à minha casa tinha sido, no mínimo, precipitado. As coisas eram muito recentes entre nós, mas do jeito que estava interessado, ele poderia entender isso como um possível namoro. No dia em que Shawn me colocou na parede e eu escolhi ficar com Miguel, as coisas pareciam muito claras na minha cabeça, mas agora, poucos dias depois, eu estava confusa como nunca. Eu não sabia o que fazer e não via a hora de ele ir embora. Porque sou tão complicada, Senhor? Talvez percebendo que eu não estava à vontade, após trocarmos mais alguns beijos, Miguel disse que precisava ir, e quando isso aconteceu, eu comemorei internamente. Mas assim que me deitei na cama para dormir, minha mente começou a projetar imagens de Shawn, como se fosse um castigo por ter estado nos braços de outro homem. Devido a isso, demorei a dormir e já prenunciava uma dor de cabeça para o dia seguinte. Dito e feito. Tudo bem que a dor de cabeça não estava tão grande quanto imaginei, mas estava ali, incomodando. Tomei dois comprimidos de um remédio específico para cefaleia e voltei a me deitar; ficaria na cama até quando estivesse me sentindo melhor. Acabei adormecendo novamente e quando despertei, já eram 10h40. Imediatamente me levantei e fui tomar um banho. Eu costumava almoçar todos os domingos com meus pais. Depois de comer, ficávamos conversando, pois com a distância, minha mãe sempre tinha alguma coisa para perguntar ou uma novidade para contar, e só voltava para casa no final do dia. Era ótimo passar esse tempo com eles, especialmente porque papai quase não falava sobre trabalho, já que corria o risco de levar uma bronca da esposa, mas também era uma forma de não me sentir tão sozinha. Quando estava subindo a rua em direção à minha casa de infância, olhei para a de Shawn e não vi seu carro. Talvez, como havia dito, ele tivesse ido para a fazenda. Pensar naquilo me fez sentir uma pontinha de remorso por não ter aceitado seu convite, mas logo joguei aquele sentimento fora. Eu não poderia esmorecer.
— Não sei por que aceitou ficar com esse rapaz se vive recusando os convites dele — mamãe reclamou. Nós estávamos na cozinha preparando o almoço quando Miguel ligou me chamando para ir a um churrasco com ele. Além de não querer ir, eu estava me sentindo meio exausta, não seria uma boa companhia.
— Ele fica muito em cima, não gosto disso — respondi enquanto, mais uma vez, rasgava a alface que usaria na salada.
— Você está acostumada a correr atrás de Shawn; talvez seja essa a emoção que falta em seu relacionamento com Miguel. Parei o que estava fazendo e ponderei suas palavras. Ela estava coberta de razão. Passei a vida inteira correndo atrás de Shawn, e agora não estava sabendo administrar o fato de ter um homem correndo atrás de mim.
— Eu acho que está certa, por isso, se ele continuar no meu pé, as coisas não vão engrenar nunca. Ela assentiu, concordando, pois sabia que seria exatamente assim. Mais tarde, mamãe pediu que eu a acompanhasse ao apartamento de Karen. Naquele dia, excepcionalmente, papai havia ido almoçar com velhos amigos em um clube e ficaria com eles a tarde toda, por isso estávamos livres e minha mãe resolveu ir ajudar Karen a abrir os presentes que ganhara na noite passada, como se fosse uma criança. Eu concordei, mas lhe pedi que não falasse sobre Miguel. Karen estava tão feliz na noite anterior e torcia tanto para que eu ficasse com seu filho, que me senti incapaz de chateá-la. Por isso, quando ela me perguntou por ele, menti dizendo que Shawn fora convencido a acompanhar papai ao clube e eu resolvera ter uma tarde de garotas com elas, o que acabou sendo bem agradável. No entanto, minha cabeça não parava de pensar nele e no que estaria fazendo. Fernanda já tinha saído do hospital e nada me tirava da cabeça que muito em breve ela estaria correndo atrás dele. Tentei não focar nisso, pois a decisão já havia sido tomada, eubestava com Miguel e precisava tentar. Conformada com esse pensamento, mandei uma mensagem para ele e sugeri que fôssemos ao cinema, mas para minha surpresa, Miguel disse que já havia marcado de sair para jantar com sua mãe e ficou de me ligar para fazermos algo durante a semana. No fundo, fiquei aliviada. Fiz aquele convite apenas para não ficar o tempo todo pensando em Shawn, mas não queria realmente sair com ele. Só que também não queria ficar em casa me martirizando, por isso fui para a academia do condomínio e corri na esteira até que o suor estivesse escorrendo por todo o meu corpo. Quando voltei para casa, estava exausta tanto física quanto mentalmente e nessa noite, foi bem mais fácil pegar no sono.

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