Capitulo 38

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Nossa viagem tinha sido perfeita e para consolidar isso, havia um solitário de diamante em meu dedo, o qual eu não cansava de admirar, mesmo quando desembarcamos no aeroporto de Guarulhos. Os dias ao lado de Shawn apenas me deram mais certeza de que ficar com ele era a coisa certa a fazer, não se tratava mais de uma ilusão de adolescente e sim de um relacionamento concreto, que estava se solidificando mais a cada dia. Shawn me tratava como uma princesa e nem nos meus melhores sonhos imaginei que as coisas entre nós fossem ser tão naturais; na cama ou fora dela, eu sempre me sentia à vontade para falar e fazer o que bem entendia. Talvez por ele ser mais velho, gostasse do meu jeito moleca, do mesmo modo que eu gostava de sua experiência e seriedade. E assim, um complementava o outro. Depois de deixar as malas em meu quarto, fui direto para casa dos meus pais. Como era domingo, os dois estavam lá, me esperando para almoçar e loucos para saber como havia sido. Shawn declinou do convite com a desculpa de que iria dar um pulo na fazenda para ver como Sílvia estava. Mas eu sabia que quanto mais o tempo passava, mais ele se sentia incomodado por ter que encarar meu pai, especialmente depois das putarias que fizemos na viagem e do anel de compromisso. Era compreensível. Meus pais me receberam com a mesma alegria de sempre, e nosso assunto no almoço girou em torno do que eu tinha achado de Singapura. Mas quando papai subiu para descansar, dona Elise desembestou a fazer perguntas. Falei a ela sobre os lugares que visitamos juntos e mostrei o anel de compromisso que ele me deu.
— Ah, meu Deus, filha. As coisas estão ficando sérias mesmo.
— Sim, mamãe. É um sonho.
— Eu sei, querida — disse ela, levantando-se para ir à geladeira pegar minha sobremesa preferida.
— Mas na sua ausência aconteceram umas coisas estranhas — falou, servindo-me de uma generosa fatia do lindo pudim de leite condensado.
— Fernanda esteve aqui atrás de você, disse que queria te convidar para um café. Ao escutar aquela novidade, na mesma hora larguei minha colher.
— Não tenho nenhuma intimidade com a Fernanda para irmos tomar um café. Ela pensa que eu sou idiota? Como se eu não fosse saber que ela só quer arrumar um jeito de voltar para o círculo de amizades de Shawn.
— Pensei a mesma coisa, só que quem atendeu o interfone foi seu pai, que vive alheio a tudo. Ele
a recebeu e ainda falou, todo orgulhoso, que você tinha ido viajar com Shawn, para ficar por dentro do mundo da engenharia. Ah, meu Deus! A história só piorava, pensei enquanto voltava a comer meu pudim.
— Tome cuidado com ela — mamãe pediu, e com toda razão. Fernanda não iria largar do osso tão cedo, só que agora eu tinha ainda mais motivos para lutar com afinco por Shawn e pelo que ele falou, tudo o que estava nos impedindo, era meu pai, a quem pretendíamos informar o quanto antes. Mas quando comentei isso com mamãe, ela se mostrou receosa.
— Seu pai passou mal outra vez, enquanto vocês estavam fora e no tempo em que ele se ausentou para fazer um exame, eu conversei com seu médico, inclusive sobre vocês, e o doutor aconselhou que esperássemos um pouco. Ele prescreveu alguns remédios e pediu que o poupássemos de emoções mais fortes, por enquanto.
— Mas o que o papai tem, exatamente?
— O Dr. Castilho disse que essas alterações de pressão são decorrentes de estresse. Seu pai
precisa mudar todos os seus hábitos, desde a alimentação ao tempo em que fica trabalhando, mas você o conhece. Nós brigamos feio por causa da teimosia dele e só não foi pior porque eu fiquei com medo de ele passar mal novamente.
— Entendi. Então vou conversar com o Shawn, mas sei que ele não vai gostar nada disso, já não aguenta mais esconder essa história.
— Eu posso imaginar, mas, infelizmente, acho que vocês vão ter que esperar um pouco. Eu assenti e logo depois fui embora. Estava muito cansada da viagem e como Shawn demorou a voltar da fazenda, acabei dormindo na minha casa, sem ele. No dia seguinte, fiz questão de chegar um pouco mais cedo na empresa, pois imaginei que teria muita coisa acumulada para colocar em dia. Trabalhei focada e só parei para almoçar e admirar meu anel de vez em quando, coisa que sempre tirava um sorriso bobo dos meus lábios. Shawn também passou o dia todo preso em reuniões, nossa empresa estava envolvida em diversos projetos e isso exigia muito esforço de todos que faziam parte do alto escalão. No meio da tarde, recebi uma mensagem de Rafa e combinamos de nos encontrar no barzinho de sempre. Estava louca para contar a novidade a ela e matar as saudades também.
— Vou chegar mais tarde hoje, combinei de sair para comer alguma coisa com a Rafa — falei para Shawn assim que entrei em sua sala, pela nossa porta de acesso. Ele levantou o olhar dos papéis que estavam sobre a mesa e os passeou por todo meu corpo enquanto eu me aproximava.
— Combinei de beber alguma coisa com o Davi também; avise quando estiver indo para casa.
— Pode deixar — falei. — E tem mais uma coisa. A partir de agora quero sair com você também, ao menos uma vez por semana. Está na hora de começarmos a conhecer os lugares preferidos de cada um. O que me diz? — Digo que isso é absolutamente perfeito. Ele sorriu amplamente e me puxou para perto de sua mesa.
— E já aviso logo que quando chegar em casa mais tarde, você não me escapa.
— E quem disse que eu quero escapar? Sorrimos e ele me beijou rapidamente, as portas estavam destrancadas e não podíamos vacilar.
— Te espero hoje à noite — prometeu quando me afastei e eu sorri, confirmando com a cabeça. Quando eu e Rafa chegamos no bar, ele estava lotado, por isso tivemos que ficar uns vinte minutos esperando por uma mesa. Enquanto esperávamos, comecei a contar sobre a viagem, os lugares que fomos até chegar na parte em que Shawn se declarou e me pediu em namoro. Rafa ainda estava de boca aberta quando fomos guiadas à uma mesa, e foi nessa hora que lhe mostrei o anel.
— Meu Deus, ele é maravilhoso! — falou, agarrando minha mão para olhá- lo mais de perto.
— Sim, fico só imaginando como vai ser o de noivado. Rafa me olhou com um sorriso sincero no rosto. Ela acompanhou de perto toda a nossa história e demonstrava estar tão feliz quanto eu com esse desfecho. De repente, seu olhar se desviou e ela franziu o cenho.
— Amiga, estou ficando louca ou é a Fernanda naquela mesa no fundo do bar junto com aquele gatão que você me apresentou na festa da Karen? — ela questionou. Girei o pescoço mais que depressa e para minha surpresa, eram eles. Sem nem saber por que, peguei meu celular e pedi que, disfarçadamente, Rafa tirasse uma foto dos dois juntos.
— Pra quê isso, sua louca? — Rafa perguntou, depois de fazer o que pedi.
— Não confio nela e alguma coisa me diz que vou precisar de provas.
— Nada me tirava da cabeça que
ela estava armando alguma coisa.
— Você se importa se formos para outro lugar? Não quero que ela me veja aqui.
— Claro que não, vamos lá — ela respondeu e sem muito alarde nos dirigimos à saída. Fomos a um restaurante numa rua gastronômica ali perto e terminamos nosso encontro comendo frutos do mar. Não tocamos mais no nome da Fernanda, mas a imagem dela com Rodrigo não me saía da cabeça. Tinha certeza de que aquele encontro era uma forma de ela ficar por dentro do que acontecia na empresa. Agora que não trabalhava mais lá, precisava de alguém para lhe passar informações, era a única explicação plausível, já que não fazia sentido ela morrer de amores por Shawn e sair com outro cara. Você fez a mesma coisa, meu lado intrometido me lembrou. Era verdade, mas eu estava fazendo aquilo com o intuito de realmente tentar esquecer Shawn, pois não aguentava mais sofrer. Já o caso de Fernanda era totalmente diferente, ela era obcecada por ele e uma pessoa assim não desapegava e começava outro romance de uma hora para outra, a não ser que fosse mais psicopata do que eu imaginei. Senti todo o meu corpo se arrepiar e estremecer com aquele pensamento e resolvi parar de pensar nela.

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