AYLA
O som de alarme e o burburinho do lado de fora chamaram a atenção. Havia algo de errado. Sinalizou para que Sila- a filha de Zafer que a auxiliava nas aulas do projeto- orientasse o grupo que guardava os instrumentos, enquanto procurava saber o que estava acontecendo. Chegando ao corredor de acesso, encontrou Ozan, esbaforido.
- Abla! O irmão Kemal está tentando falar com você, mas o seu telefone não responde! – ela franziu o cenho ao se lembrar do celular sempre desligado durante as apresentações. O aparelho estava em sua bolsa, sob os cuidados de Nene. Ozan prosseguiu - Parece que alguém incendiou os containers. Ele me disse para ficar aqui com você, até que ele volte.
Pensou na avó e na prima envolvidas na preparação do coquetel oferecido a alguns patrocinadores e ao maestro. Estariam preocupadas, com certeza. Decidiu enviar Ozan até o salão de festas, a fim de tranquilizá-las.
- Vá até sua mãe e Nene, Ozan. Avise que está tudo bem por aqui e que eu irei com Kemal, assim que ele vier me buscar.
- E você vai ficar sozinha, abla?
Sila apareceu naquele momento, levando alguns jovens até a saída. O nervosismo da moça era visível. Ela se aproximou, passando o braço pelo seu.
-Anne me pediu que ficasse até o final, para o caso de você precisar de alguma ajuda.
Ayla agradeceu, liberando Ozan.
- Vamos terminar de arrumar tudo e dispensar os garotos que ainda estão por aqui. É melhor que todos voltem logo pra casa.
Vinte minutos depois restavam apenas ela, Sila e o responsável por fechar o lugar. Pedindo o celular emprestado ao rapaz, chamou o número do noivo. Após alguns toques insistentes, ele enfim atendeu.
- Kemal! Sou eu, Ayla! Meu telefone está com Nene, por isso você não conseguiu falar comigo. Onde você está, aşkım?
- Aguardando a viatura do distrito, Ayla. Menos mal que Bedir ainda estava na área. Ele me ajudou a localizar os malucos que fizeram essa arruaça. Assim que forem entregues à guarnição, eu vou até você. Vai levar alguns minutos, mas logo, logo, chego. Ou você quer me aguardar lá?
- Melhor te esperar, amor. Se eu for agora, vão me bombardear com perguntas que não saberei responder.
- Tamam. Daqui a pouco, chego. Ozan está aí?
Explicou que tinha companhia e que enviara o garoto até a avó e a prima. Kemal concordou e se despediram.
Devolveu o aparelho, sentando-se numa das poltronas da recepção. Recostou a cabeça, respirando fundo. Sentiu o estresse pesando no corpo dolorido. Pena que uma noite tão linda tivesse um final tão desagradável.
O rapaz foi até a área externa, voltando pouco tempo depois. Cochichou algo para Sila, gesticulando em sua direção. Os dois pareciam agitados. A moça fez um sinal com a mão, chamando-a. A contra gosto levantou-se.
- Abla – a garota apontou para a parte externa – o irmão me disse que tem uma caixa para você, lá fora...
Ayla se aproximou da porta de entrada. O pátio parecia vazio. Insegura em sair sozinha, pediu:
- Você não pode trazê-la pra dentro, abi?
O rapaz negou:
- Quem trouxe a encomenda, disse que só a senhorita poderia tocá-la.
Ayla sentiu algo de estranho no ar. Seria alguma surpresa do noivo? Ou, quem sabe, da associação?
Chamando a jovem, pediu que a acompanhasse. Caminharam em direção à área recreativa nos fundos, onde havia algumas mesas e bancos de alvenaria. Avistou a caixa branca sobre um dos bancos. A embalagem estava enfeitada com um imenso laço carmim. Em letras artísticas, também vermelhas, leu a inscrição: 'Para minha Ece...'
Com certeza seria uma surpresa do noivo. As únicas pessoas que a chamavam assim, eram Nene e sua mãe. Só ele sabia disso, além da avó.
Ela sorriu para Sila. A garota parecia plantada no lugar. Riu, divertida, quando ela deu meia volta, correndo para dentro.
Seguiu em frente, vencida pela curiosidade. Aproximando-se, desfez o laço e retirou cuidadosamente a tampa.
Imediatamente, um perfume invadiu suas narinas. No interior da caixa, sobre um lenço de seda vermelho, havia um lindo buquê de rosas escuras, quase negras. Ao lado, bem acomodados, uma taça de cobre, uma pequena garrafa de vinho, e uma caixinha de veludo vermelho.
Sentiu-se invadida pela emoção. Kemal, mesmo cheio de trabalho, encontrara tempo para preparar-lhe uma linda surpresa.
Pegou a caixinha, curiosa. Seria o anel de casamento? Abriu, ansiosa por ver o que ele tinha escolhido. Estremeceu, chocada, diante do conteúdo: no fundo do estojo, reluzindo em tons de cobre, havia um anel laqueado. Reconheceu de imediato a imagem da rosa circundada pela serpente. Era o anel que pertencera a Anne? Colocou-o no dedo, com o coração disparado, a lembrança viva de sua mãe se fazendo presente.
Onde Kemal conseguira a peça?
Sua mente, fervilhante, tirou seu foco do ambiente em que se encontrava. Distraída, não viu a figura masculina que se aproximava sorrateiramente, em uma das mãos, um lenço embebido.
De repente, sentiu-se presa pelo pescoço, enquanto uma mão forte pressionava algo sobre seu nariz. Tentou reagir, mas aquele cheiro era forte. Seus olhos foram pesando, pesando...e ela, enfim, perdeu os sentidos.
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O anjo protetor
RomanceO serial killer faz mais uma vítima. Kemal Aslan, investigador da polícia, segue determinado a solucionar o caso. Enquanto isso, Ayla Nehir decide fazer as pazes com o passado retornando às origens. Três destinos que se cruzam. Três vidas sujeitas à...