Confiar e ver.

181 34 25
                                    

AYLA

Bebericou devagar o çay de limão com uma pitada de raiz de gengibre, sentindo o estômago se acalmar.

- Blagodarya, Rayna!

Sua anfitriã sorriu diante do agradecimento em búlgaro. Aprendera algumas palavras com as garotas.

- Melhor, Ayla?

Respondeu que sim. As ondas de enjoo incomodavam bastante, mas aquele chá fazia milagres. A mulher sinalizou para que se aproximasse. Observou a movimentação na pequena arena que servia como praça. Sorriu ao avistar uma carroça típica das antigas caravanas, toda enfeitada com flores. As crinas dos cavalos, bem cuidadas e enfeitadas com fitas coloridas, eram um show à parte. Acompanhando seu olhar, Rayna explicou.

- O 'carro' da noiva durante festa. Güzel, não é?- concordou.

- Çok güzel, mas - alisou o ventre - eu preciso fugir, Rayna. E bem rápido.

O toque leve na porta indicou a chegada de alguém. A mulher que entrou era familiar: a esposa do líder. Sem compreender o que as duas conversaram, rendeu-se à tensão.

- Anelia,  esposa do líder. - a tia de Tarik a reapresentou, percebendo seu desconforto.

- Por que ela está aqui, Rayna? - sentia a adrenalina disparando um alarme em cada célula de seu corpo.

A recém-chegada, que a olhava fixamente com expressão séria, aproximou-se.

- Eu falei sua história. Ela vai ajudar.

A onda de náusea voltou. Tomou mais um gole do çay, sentando-se. O tremor da mão denunciava seu nervosismo. Rayna tentou acalmá-la.

- Confia, Ayla! Essa noite começa cerimônia. Os homens vão para montanha. Enquanto isso, começamos 'büyülü banyo'. Sabe o que é?

Lembrava-se do costume. A noiva recebia massagens, cuidados com os cabelos, banhos com flores e mel. E, ao fim de diversos procedimentos, era 'tatutada' a hena com símbolos de beleza e fertilidade.

- O banho de encanto! Vocês também fazem isso?

A mulher assentiu.

- Sim! Primeira parte, noiva banhada nas águas mágicas. – 'a cachoeira', pensou. - Nós te levamos. Você... não volta.

Sentiu-se reanimar.  Sua fuga era uma realidade! Apesar da excitação sentida, pensou nas consequências para sua anfitriã.

- O que vai acontecer com você, Rayna?

Notou, apreensiva, a troca de olhares entre as mulheres 

- Por isso eu contei Anelia que você  'bremenna'... grávida! Isso é 'bezchestie', desonra muito grande! Casamento não acontece e você é expulsa ou... - cobriu a boca com ambas as mãos e sacudiu a cabeça negativamente, como se evitasse pronunciar o que lhe aconteceria. Diante do gesto, compreendeu que sua situação poderia ficar muito pior.

- Eu explicar aos outros que você 'saf olmayan', impura, para meu sobrinho. Anelia confirmar. Os outros entendem porque mandamos você ir.

A ideia fazia sentido. A mulher disse algo e Rayna traduziu.

- Ela diz que Tarik -  simulou cuspir para o lado, num gesto de desprezo- agiu mal roubando você. Você já mulher de outro... policial, não é? Nosso líder não tolerar problemas com 'polis', mesmo sendo da Turquia.

Percebeu que chorava quando uma lágrima molhou sua face. Sentia um misto de gratidão e  medo. Precisava pensar nos detalhes práticos da fuga.

- Eu não conheço o caminho e não falo búlgaro, Rayna. Como vou conseguir ajuda?

O anjo protetor Onde histórias criam vida. Descubra agora