Nene sabe, Nene vê

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Uma semana depois, carregando as compras que a avó encomendara para o jantar, Ayla admirava as ruas do bairro onde crescera

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Uma semana depois, carregando as compras que a avó encomendara para o jantar, Ayla admirava as ruas do bairro onde crescera. Aquele momento de apreciação simples estava se tornando parte de sua rotina.

Assim que a notícia de sua chegada se espalhara, praticamente todas as pessoas da vizinhança tinham ido cumprimentá-la, colocando-se à disposição para qualquer coisa em que pudessem ser úteis. Ela recebia com emoção cada demonstração de afeto. Percebia feliz o quanto ainda era parte daquele modo caloroso de ser e de viver.

Dois dias atrás tinha sido convidada por Zafer, atual líder da comunidade, para dar aulas de violino às crianças e jovens do bairro. A oferta tinha tudo a ver com seu projeto para revitalização da cultura local através da música. Nessa tarde seria seu primeiro dia.

Aceitara prontamente o convite, desde o instante em que Kemal informara que seria procurada por Zafer. Aquela fora uma das poucas vezes em que tinham se falado desde quando ele a buscara no aeroporto, numa das chamadas que ele fizera para falar com Nene. A avó o adorava. Dizia que ele tinha sido seu anjo no tempo em que ela estivera longe, que ele nunca deixara de se fazer presente, mesmo no período de estudos mais intensos ou na época de formação para a academia de polícia.

Por isso, estranhava o súbito distanciamento . Ao ser questionado sobre sua ausência, ele alegara estar muito ocupado com um caso em especial. Após muita insistência da avó, finalmente aceitara o convite para o jantar dessa noite, o que lhe daria a chance de aproximar-se e tentar entender o que estava acontecendo.

De repente, teve a sensação estranha de que alguém a acompanhava. Discretamente, girou a cabeça: nada. Seguiu. Mais à frente, a mesma sensação. Acelerou o passo, receosa.

Subitamente, um par de mãos cobriu-lhe os olhos. Ela assustou-se, deixando cair uma das sacolas. Ouviu a voz masculina, estranhamente familiar, próxima de seu ouvido:

- Calma! Eu não queria te assustar...



Ayla o reconhecera: Tarik

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Ayla o reconhecera: Tarik.

Esquivando-se rapidamente, respondeu que não tinha problema, enquanto abaixava-se para recolher os enlatados que tinham se espalhado pela calçada. Tinha medo dele. Sempre tivera. Ambos tinham sido prometidos em casamento, ainda na infância, o que causara muitas brigas entre seus pais. Sua mãe não queria que ela se casasse por força de um costume que considerava 'arcaico' e que, segundo ela, a sujeitara a viver uma vida infeliz junto ao seu pai.

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