...e desejo...

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   Kemal

O cheiro típico do chá Turco invadiu o ambiente. 

Enquanto a observava servindo o líquido de cor avermelhada, sentia o coração acelerado. Ao terminarem o jantar, o maestro e a esposa sugeriram que fizessem o caminho até a residência a pé, visto que o edifício onde moravam era próximo do restaurante e o percurso tranquilo. Pareceu-lhe natural ter a mão delicada e macia de Ayla segurando seu antebraço enquanto caminhavam...o perfume levemente adocicado lhe invadia as narinas, despertando sensações que ele não conseguia controlar. Era um cheiro quente, misto de canela e flores. Ela era sensual e doce, feminina em cada detalhe. Ele nunca mais se esqueceria do sorriso encantador diante do buquê de rosas que ela agora levava, delicadamente, contra o corpo. 

Ao chegarem no edifício antigo, ela fez o convite para um chá, ao qual o casal mais velho declinou de imediato, alegando cansaço pelo dia agitado. 

- Nós já nos divertimos demais por hoje, querida. Vão vocês e aproveitem um pouco mais. - a esposa do maestro deu uma piscadinha sapeca para Ayla, que corou de imediato. 

Kemal fingiu não ter visto, mas teve vontade de sorrir do constrangimento dela. 

O maestro avisou que deixariam a porta destrancada, para que ele pudesse entrar assim que retornasse. E agora estavam ali, se acomodando em uma chaise confortável na pequena varanda de onde podiam avistar o céu estrelado. 

O som da música suave tocando na sala lhe provocava uma leve excitação. Ele absorvia a bebida em pequenos goles, um aperto incômodo no coração por saber que se aproximava o momento da despedida.

                                                                                        Ayla

'Uma superfície calma pode esconder águas turbulentas...'

E era exatamente assim que ela se sentia. A figura máscula sentada ao seu lado, bebericando chá em pequenos goles, lhe parecia surreal. Aliás, a noite toda se tornara uma fantasia, depois que ele e o maestro lhe fizeram a mais linda e inesperada surpresa. Nunca poderia imaginar que Kemal viria, mesmo sem Nene. 

Ela sorriu mais uma vez, as emoções enchendo seu peito de alegria e... excitação. Precisava tocá-lo. Sentir um pouco mais o calor que experimentara no trajeto de volta.

 Kemal era parte de um tempo bonito de sua vida, quando ainda era apenas uma garota ingênua e feliz, descobrindo sensações juvenis românticas. Infelizmente, a perda dos pais e a vinda para a Itália tinham interrompido qualquer possibilidade de um envolvimento entre eles, mas ela se lembrava com saudade do quanto se divertiam quando estavam juntos. De como ele sempre se abrira com ela sobre suas angústias e sonhos. 

Ele nunca soubera, mas ela amava cada oportunidade de revê-lo, de saber que estava bem. E o fato de que ele cuidasse com tanto carinho de sua avó só aumentava o afeto que ele lhe despertava. Talvez por isso sentia essa vontade louca de estar perto dele mais intensamente. E se não tivessem outra oportunidade? E se ele encontrasse alguém? E se já tivesse uma namorada esperando por ele em Istambul? Tocou-lhe a barba macia, tirando um cisco imaginário.

- O que foi?- ele indagou, sorrindo do jeito maroto que ela se lembrava.

- Nada...só um cisco. - os pelos levemente avermelhados faziam cócegas na ponta dos dedos.

Imaginou como seria sentir o mesmo toque em outras partes do corpo. Olhando fixamente para a boca masculina perfeita, engoliu seco. Talvez estivesse perdendo o controle. Deparou-se com o olhar penetrante. Desviou os próprios olhos, nervosa. Não sabia o que fazer. O fato de nunca se permitir encontros com os rapazes que ocasionalmente a convidavam, explicaria sua falta de jeito. Sentiu o rosto queimar, envergonhada.

Pelo canto do olho, percebeu o momento em que ele pousou o copo na mesa, virando-se em seguida para fazer o mesmo com o dela. O som de um clássico da música tradicional turca tinha começado a tocar no aparelho de som que ligara, antes que se sentassem. Kemal se ergueu. Ela se despedaçou por dentro. Aquele seria o momento em que ele iria de vez. Ele estendeu a mão. Ela ergueu o olhar, triste. O que poderia fazer para que ele ficasse? 

Mas, ao invés de se despedir, ele fez o convite:

- Antes que essa noite termine, me concede o prazer de uma dança, Ayla?

'Antes que essa noite termine...'

Talvez tenha sido essa frase, ou o que ela leu nos olhos escuros, ou a soma de tudo o que acontecera nessa noite, ela não saberia dizer, mas sem hesitar, abriu os braços para que ele envolvesse seu corpo. Recostando a cabeça no peito quente, enlaçou um braço forte enquanto que a outra mão circundou-lhe o pescoço, acariciando-o levemente na nuca. 

Foi como se o tempo tivesse parado. 

Eram apenas os dois, unidos num balé de movimentos mínimos, os corpos se roçando, buscando um no outro o conforto que só ali poderiam encontrar.

                                                                                              Kemal

Ele não resistira... e agora agradecia ao ímpeto que fizera com que a convidasse para dançar.

Sentir o corpo pequeno entre seus braços era torturante e delicioso. O cheiro maravilhoso invadia-lhe as narinas, fazendo com que seu sangue fervesse. Tentava se concentrar na melodia, nos sons que vinham da rua, qualquer coisa que o ajudasse a não denunciar o desejo que sentia. Afastou um pouco o quadril, para que ela não percebesse a ereção potente que o incomodava. Seu corpo implorava para que apertasse o quadril delicado contra si. Ele não ousaria. Aquela era Ayla e não uma garota qualquer. 

De repente, aquela dança pareceu-lhe infinita. Ergueu a cabeça, buscando ar. Ao voltar o olhar, viu um sorriso no canto dos lábios avermelhados, o olhar malicioso sondando seu rosto. Ela sabia. 

Mal acreditou quando as mãos femininas puxaram seu quadril contra o ventre macio, acomodando seu desejo ao corpo suave. Ele abafou um gemido. Tentou se afastar. Ela insistiu. Ele resistiu bravamente, embora o que mais quisesse, fosse perder totalmente o controle. Ela decidiu pelos dois. Puxando o queixo masculino, envolveu-lhe os lábios com a boca úmida.

 Antes que pudesse esboçar qualquer reação, Kemal se viu completamente rendido aos desejos da mulher que tanto amava...

                 

Nota da Autora:

Olá, pessoal!  Peço desculpas pelo tempo em que fiquei sem atualizar. Todo mundo sabe que os tempos atuais estão surtindo um efeito sobre a motivação geral e comigo não foi diferente. Mas, essa é a minha tentativa de voltar, até porque, eu também quero saber o que vai acontecer...

Um abraço e obrigada pela compreensão!

Margot

O anjo protetor Onde histórias criam vida. Descubra agora