Marionetes

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O cheiro ácido do líquido reservado em grandes baldes misturava-se ao forte odor de tinta e verniz. No ateliê mal iluminado havia várias peças, prontas e inacabadas: marionetes  impressionantes em cada detalhe. 

Sobre a bancada de madeira  maciça, avistavam-se pedaços pequenos de corpos modelados em arame, espuma e papel marchê.

O que antes parecera uma forma legal de ganhar dinheiro, agora era assustador aos olhos do garoto. Ele ainda tinha viva na mente a lembrança da garota no casarão.  

- Encontrou o anel?- a voz áspera provocava arrepios.

O rapazinho acenou positivamente. O homem estendeu a mão para receber a 'encomenda'. 

– Ótimo.

 
Diante do mal entendido, Ozan disparou:

- Eu não consegui trazer, abi. Tinha uma moça morta, lá. Os meninos gritaram muito e  a polícia veio.

Um palavrão ecoou pelo cômodo. O semblante fechado do homem refletia  fúria. Apesar do medo, o menino continuou.

- Eu já tinha conseguido despistar o policial quando outro apareceu, falando no dialeto.  Eu não disse nada, mas...o policial pegou o anel. Ele conhece Zafer. Eu fiquei com medo.

'Kemal'. O homem pensou rápido. Era de se esperar que ele estivesse no caso.  Num impulso violento segurou o garoto pela gola da camisa, sacudindo-o como se ele fosse uma das suas marionetes .

-Eu te disse pra ir sozinho, não disse? Era uma coisa simples.

O som do choro abafado fez com que o soltasse. Era melhor não intimidar tanto. Ele poderia ser útil novamente. Entregou-lhe a quantia combinada. O menino recebeu, surpreso.

- Você vai me pagar mesmo assim, abi?

- Sim. Eu sei que você teria trazido o anel, se pudesse. - Com um sinal, dispensou-o. Aliviado, o garoto apressou-se em escapar dali. Próximo à saída, lembrou-se da pergunta que o incomodava, desde o ocorrido.

- Abi...o que aconteceu com a garota?

A passos largos, o homem aproximou-se novamente. A mão forte circundou a nuca frágil, trazendo a cabeça do garoto para junto do peito forte.

- Você é o único filho da sua mãe, não é, Ozan?

O menino se debateu, tentando fugir. Após alguns segundos, libertou-o. Não queria perder o controle. O garoto arfava, olhando fixamente o homem à sua frente.

-  Eu perdi o anel há alguns dias, enquanto visitava o casario. Eu sempre visito aquela área de Sulukulê...é parte da minha infância, assim como foi do seu pai, sabia? 

A menção do pai falecido sempre fragilizava o menino. 

- Quanto à garota, eu sei tanto quanto você. É melhor deixarmos isso nas mãos da polícia. Você sabe que nossa gente não é bem vista por eles, não é? 

O garoto concordou.

- Falar demais pode te trazer problemas, Ozan. Agora, vá.

Acompanhando-o até a porta, advertiu:

- É melhor que você não venha por um tempo. Deixe que eu explico tudo à sua mãe.

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