Revelações a caminho

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KEMAL

Aquele era o último posto de gasolina em território turco. Natural que Tarik tivesse parado ali para abastecer antes de cruzar a fronteira. Desceu do carro, seguindo em direção à pequena loja de conveniências. Uma sineta, no alto da porta de vidro, entregou sua chegada. A ruiva sentada atrás do caixa sorriu, cumprimentando-o. Ele correspondeu à saudação, já apresentando o distintivo.

- Kemal Aslan, investigador de polícia. Eu estou procurando um frentista... Muzafer. Ele entrou em contato com o distrito em Istambul, sobre um caso que estamos investigando.

Devia mais essa a Bedir. O colega vinha mantendo-o informado sobre cada novo detalhe e o incentivara a partir imediatamente em busca de mais informações, assim que recebera a ligação avisando que Tarik fora visto naquela localidade no dia seguinte ao sequestro. Seus pensamentos foram interrompidos por um chamado estridente na direção dos fundos.

-Muzooooo!!!- virando-se em sua direção, a garota explicou – Ainda bem que vocês vieram! Ele está uma chatice com essa história do tal fugitivo que passou por aqui...não fala em outra coisa!

O rapaz enfim apareceu, o olhar desconfiado percorrendo-o da cabeça aos pés. A garota se adiantou.

- Ele é investigador da polícia! Veio perguntar sobre o homem do outro dia, não é?- mascando nervosamente um chiclete, ela fixou sobre ele os olhos curiosos, aguardando a resposta. Enquanto apertava firmemente a mão viscosa que o rapaz ofereceu, perguntou:

- Tem um lugar onde possamos conversar em particular, Muzafer?

- Pode me chamar de Muzo. – olhando desafiadoramente para a garota, apontou para o lado externo do negócio. – lá fora. É melhor mesmo, sairmos.

Assim que pararam próximo a um lava-jato, Kemal mostrou as fotos de Tarik e Ayla. O rapaz confirmou as identificações.

- São eles, abi. Tenho certeza.

Suas suspeitas estavam certas: o desgraçado tinha ido para o país vizinho.

- Ele conversou no telefone, quase que o tempo todo, em Búlgaro. Falou sobre uma cerimônia de casamento, perguntou sobre preparativos. Disse que estava a caminho com a noiva.

A informação comprovava o quanto Tarik fora descuidado. Ou ele era muito arrogante, ou muito burro. Ou ainda, as duas coisas.

- E você entendeu tudo o que ele dizia, Muzo?

- Meu pai é da Bulgária, abi! Ele faz questão de falar o idioma em casa, para não esquecermos suas origens. Aliás, foi por culpa dele que eu demorei a entrar em contato. Passei os últimos dias visitando-o, na zona rural. O velho resiste à tecnologia, não tem televisão, muito menos internet! Demorei saber sobre o sequestro.

Apesar de afastados de outras pessoas, baixou o tom de voz antes de prosseguir.

- Alguma coisa me fez disfarçar que eu  entendia o que aquele homem falava, abi. Eu o senti agitado demais, o tempo todo olhando para o carro, como se espreitasse a reação da moça. Chamou minha atenção, o fato de ela estar muito pálida.

Kemal sentiu um aperto na garganta. Ayla deveria estar dopada. O rapaz continuou.

- Quando comentei, ele desconversou. Disse que ela sofria enjoos pela viagem, que tinha tomado um remédio forte. Enfim, a explicação não me convenceu. Assim que voltei da casa do meu velho e vi o noticiário, liguei para comunicar que eles tinham passado por aqui.

Kemal anotava tudo. Bedir solicitaria a permissão para investigação além-fronteiras junto ao consulado da Bulgária. Seu plano era descobrir o cativeiro de Ayla e contar com o apoio da polícia local para  captura e repatriamento de Tarik. 

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