O anjo protetor

Em tempo de sombras

KEMAL

- Você entende o motivo do meu desespero, Anik? Provavelmente, o monstro que fez isso está com a minha Ayla... - os olhos do rapaz se arregalavam, na medida em que deslizava o dedo na tela do celular. Estava arriscando sua carreira ao revelar informações sigilosas, mas cada minuto poderia ser determinante para o bom desfecho daquela situação.

Tão logo despertara do pouco tempo de sono que conseguira dormir com o calmante prescrito pela médica, ligara para Zafer solicitando ajuda para descobrir o que realmente acontecera no centro cultural na noite anterior. Tinham combinado uma conversa com Sila e Anik fora do distrito.

Não pretendia traumatizar ninguém, mas sabia que sua única saída era pressioná-los um pouco mais, mesmo que para isso tivesse que expor informações sigilosas sobre o caso dos assassinatos.

- O pessoal do distrito não te mostrou isso, mostrou?- diante da negativa silenciosa, prosseguiu – Anik, você já quis tanto alguém a ponto de nem conseguir dormir direito imaginando o momento de estarem juntos? – percebeu o olhar do rapaz buscando furtivamente a garota sentada no outro sofá, ao lado dos pais - Você já sentiu o coração disparado e a boca seca diante da simples presença de uma mulher, irmão? É isso que Ayla faz comigo e é por isso que eu estou tão desesperado para obter mais pistas que me levem até ela. - O silêncio profundo era quebrado apenas pela respiração nervosa da moça. O rapaz raspou a garganta, relutando em falar.

- Zafer, posso mostrar as fotos a Sila? Talvez, vendo essas imagens, ela...

Antes que concluísse, Anik reagiu.

- Não, por favor! Ela não precisa ver isso!

A jovem, apertando as mãos entre as pernas, abaixou a cabeça e começou a chorar baixinho. Pelo visto, não se enganara ao deduzir que havia mais ali do que aqueles dois queriam revelar. Com uma expressão tensa o rapaz dirigiu-se ao chefe, solicitando que ficassem a sós. Zafer aquiesceu, pedindo à esposa que se retirasse com a filha. Assim que as duas saíram, avançou sobre o rapaz.

- O que é que vocês estão escondendo, Anik?

Kemal estendeu a mão, contendo o homem enraivecido.

- Calma, abi!

Zafer passou a mão pela cabeça, caminhando nervosamente pela sala.

- Filho, se alguma coisa acontecer a Ayla...

- Zafer! - sua voz saiu um pouco mais alta do que o normal. Não permitiria a ninguém verbalizar nada que pudesse enfraquecer sua determinação em manter-se confiante. Compreendendo sua reação, o outro se deteve. Suspirando para acalmar-se, pediu:

- Conte o que realmente aconteceu, filho.

Embora receoso, o rapaz começou.

- Abi, há algumas semanas, já era bem tarde da noite - o olhar temeroso se fixou no chefe. Zafer esfregava as mãos, atento ao que ouviria a seguir - eu e Sila, nós... estávamos conversando na rua e...fomos surpreendidos por um homem.

Kemal entendeu. Houvera mais do que uma simples 'conversa' entre os dois jovens. Com o canto dos olhos, percebeu a agitação de Zafer. Piscou para o rapaz, sinalizando que tinha entendido.

- Então, o que aconteceu?

- O homem veio falar conosco. Ele reconheceu Sila. Ameaçou contar ao chefe que estávamos... - foi interrompido bruscamente pelo chefe, que o agarrou pela gola da camisa, sacudindo-o.

- Você ousou se meter com a minha garota, canalha?

Kemal interpôs-se entre os dois. O homem ficou furioso ao deduzir o que vinha acontecendo.