O passado sempre volta

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AYLA

Com um sobressalto, despertou do sono curto após o almoço. Sentia-se observada. Haveria alguém ali? A súbita corrente de ar frio confirmou sua impressão. Um arrepio inevitável a percorreu ao deparar-se com o olhar penetrante de Tarik.

Aliviada, notou que ele não estava só: Galena abriu um sorriso tímido, enquanto mostrava-lhe o belo vestido vermelho que segurava. Com certeza Rayna não dissera nada à filha sobre o que revelara. Mas... teria dito algo ao sobrinho? O olhar que ele lhe dirigiu deu-lhe a certeza de que a mulher mantivera o segredo.

- Que bom que você acordou, benim güzel. - o beijo inesperado no alto de sua cabeça, causou-lhe repulsa. Afastou-se rapidamente. Ao notar o sorriso erguido no canto da boca fina, sentiu crescer o misto de medo e raiva que ele sempre provocava nela. Levantou-se da cama, recompondo-se.

Ele apontou a cômoda, recomendando algo à garota que colocou o vestido sobre o móvel. Tarik sinalizou que ela saísse e, para seu alívio, ela negou-se veementemente. Com a expressão contrariada, Tarik aproximou-se da moça, apontando o lado de fora. Ela tentou argumentar, mas ele foi irredutível. Ficou em pânico quando ele conduziu-a para fora, voltando com expressão satisfeita.

- Alguns costumes seriam dispensáveis, às vezes. - justificou o que ela já entendera - nessa comunidade, os noivos não devem ficar sós antes do casamento, mas - piscou o olho, cinicamente - não pretendo usufruir agora do que eu poderei desfrutar livremente em breve.

A insinuação provocava-lhe asco.

- Você e eu sabemos que isso não vai acontecer, Tarik. Eu amo Kemal.

A menção do nome do noivo causou nele uma reação inesperada. Acercando-se, prendeu-a pelas costas, forçando o contato. Ela o empurrou, enojada. Ele apertou seu braço, a mão se espalmando mais em suas costas, firmando-a contra o tronco.

- Você nunca mais vai pronunciar o nome dele na minha frente. Nunca mais! - e baixou a cabeça, tentando beijá-la.

Ayla se contorceu inteira na tentativa de esquivar-se. Onde estaria Galena?

- Galena! Me ajude! - tentava soltar-se, enquanto ele insistia em beijá-la. Conseguiu esquivar um braço e, com a mão livre, esbofeteou-o - Você sabe que eu não te quero!

A mão grossa prendeu seu pescoço, impiedosa, fazendo com que seus olhares se cruzassem.

- Mas vai querer Ayla. Você vai se casar comigo e vai ser minha, como queriam nossos pais.

Ele a conduziu até a cama, forçando-a, até que suas pernas cedessem. Ela caiu sobre o colchão, enquanto ele pressionava-a com o peso do corpo. Tentou gritar, mas foi impedida pelos lábios duros. Teve consciência da própria fragilidade mas, ao pensar no bebê, sentiu uma força misteriosa impulsionando-a a resistir.

Subiu o joelho e o acertou na virilha, no exato instante em que Galena e Rayna entraram. As duas ficaram estáticas diante da cena, enquanto Tarik encurvado tentava se recuperar do golpe. A mulher gritou algo para o sobrinho que, erguendo-se com dificuldade, respondeu rispidamente. Rayna apontou a porta. Ele a ignorou e, diante do olhar de espanto das duas, aproximou-se apertando forte seu queixo.

- Daqui há quatro noites... esteja pronta para mim, minha Ece.

Empurrou-o, mais uma vez.

- Você não tem o direito de me chamar assim! Eu não sou, nem nunca serei sua! - gritou, enfim deixando escapar toda raiva sentida.

- Não? - interrompeu-a, rindo cinicamente. Ele estava visivelmente descontrolado - sua mãe também dizia isso, sabe? Mas eu fiz com que ela se calasse!

O anjo protetor Onde histórias criam vida. Descubra agora