'ışık melek'

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Então, a inauguração do novo centro cultural vai acontecer amanhã à noite, Zafer?- a notícia o deixou tenso. - Você poderia ter me avisado antes.

A três dias do casamento e totalmente absorto nas investigações, a última coisa que precisava era um evento desse porte, ainda mais na região de Sulukulê.

Zafer justificou:

- Na verdade, estamos funcionando no novo espaço há mais de uma semana, homem. Só estávamos aguardando a liberação da prefeitura para inaugurarmos. Aliás, tudo isso aconteceu tão depressa por influência de Ayla, sabia? Ela articulou o contato entre o maestro e alguns amigos do meio e eles conseguiram o apoio de políticos e empresários para o custeamento permanente do projeto. As partes burocrática e financeira estão indo muito bem! A sua noiva é um legítimo 'ışık melek' nessa comunidade, Kemal.

Ele teve que concordar. Ela era mesmo um 'Anjo da luz' que atraía um sopro de vida maravilhoso por onde passava. Lembrou-se que ela tinha comentado sobre a possível inauguração, só não confirmara a data. Zafer prosseguiu:

- Tem mais uma coisa, Kemal: já que o maestro veio para o casamento, decidimos homenageá-lo. Minha esposa articulou uma apresentação do grupo de dança e  Ayla fará uma amostra dos primeiros resultados da orquestra juvenil! O grupo em que ela toca vai se apresentar depois e outras atrações Rom também confirmaram presença. Um canal de tv local e algumas rádios estão nos ajudando na divulgação.

O maestro era muito respeitado pelo apoio a obras benevolentes em muitas comunidades periféricas de Istanbul. A presença do homem atrairia muita gente.

- Então é isso, Kemal. Amanhã, traremos de volta à vida um pouco da velha Sulukulê. Avise aos seus homens e saiba que os meus rapazes também vão estar atentos.

Seria de fato uma ocasião perfeita para que a equipe investigasse sem chamar a atenção.

- Vou articular o pessoal. Obrigada por nos informar, Zafer.

Tão logo encerrou a ligação, chamou o número de Ayla. A videochamada foi atendida prontamente e ele pôde vê-la. Bendita tecnologia!

- Aşkım, que bom te ver...

- Günaydın,  ışık melek.– viu quando os olhos claros se apertaram na medida que um sorriso lindo enfeitou os lábios rosados de Ayla.  Ele se deliciava apreciando aquela beleza, tão natural.

- Eu estava justamente indo te ligar, amor. Está tudo certo para inaugurarmos o centro amanhã à noite. O grupo aceitou participar e vamos nos apresentar juntos pela primeira vez em Sulukulê! Eu estou tão animada!

 Ela demonstrava uma paixão intensa pelo que fazia.

- Zafer acabou de me informar.

Gostaria de partilhar da mesma empolgação, mas não conseguia evitar a preocupação que a novidade despertava. Seria uma evento com um público considerável. Antes que ela pudesse intuir o que pensava, controlou-se. Não queria interferir negativamente na alegria da noiva.

- Ayla, não consigo sair agora...temos muito trabalho hoje. Eu e os rapazes vamos fazer um lanche rápido aqui mesmo.- ele estava chateado por não se encontrarem. Tinham se visto pessoalmente na véspera,  na casa de Nene, após as compras do enxoval. Logo depois, o chamado de Leyla informando algumas novidades sobre o caso, o obrigara a ficar totalmente envolvido nos detalhes da investigação. 

Haviam combinado de almoçar juntos e recepcionar uma tia que estava chegando naquela tarde, vinda do interior. Após o casamento, Nene a acompanharia para uma temporada no campo, deixando a casa livre para que os recém-casados desfrutassem um pouco de privacidade assim que retornassem da curta viagem de lua-de-mel.  Eles tinham se sentido muito tocados pela sensibilidade da avó. O pouco tempo que conseguira de licença matrimonial certamente não seria o suficiente para saciar o desejo intenso que os consumia. Saber que teriam a casa só pra si por um tempo o deixara realmente empolgado.

Uma expressão decepcionada apareceu no rosto dela.

- Que pena, Kemal. Eu vou avisar a Nene. Ela já estava esperando você.

Agora foi a sua vez de se decepcionar. 

- Então, eu vou perder a oportunidade de saborear o almoço feito por Nene?

Ela achou graça da decepção visível no rosto dele.

- Mas...você ainda pode vir para o jantar, não é?

Ele ficou sério. Com as novidades recentes da equipe de perícia, achava difícil determinar um horário para sair do distrito.

- Não sei, Ayla. Vou me esforçar, mas não prometo nada.

Ela ficou  triste.

- Desculpe, amor...essa é uma parte difícil da minha rotina profissional – com uma piscadinha maliciosa e um sorrisinho descarado, tentou animá-la –  mas, prometo te dar uma boa compensação depois.

Ela cedeu à provocação, retribuindo à altura.

- De que tipo de compensação estamos falando, inspetor?-  o tom provocante deixava a voz mais rouca, de um jeito que o excitava. Acompanhou hipnotizado quando ela deslizou devagar a língua pelo lábio superior,  espalhando uma camada úmida de saliva. A imagem o enlouqueceu. Abaixou o próprio tom, para que ninguém o ouvisse:

- Benim günaha*...assim você não me ajuda...

Ficaram alguns segundos perdidos um no outro, os olhos se devorando intensamente.

O som estridente do telefone dispersou o momento. Em seguida, a voz de Bedir chamando-o na sala ao lado trouxe-o de vez para a realidade.

- Preciso ir agora, Ayla. Prometo que vou até você, assim que for possível.

Ela soprou um beijo.

- Estarei te esperando, meu amor. A qualquer hora.

Com dificuldade, desligou o aparelho. Levando as mão à nuca, alongou o peito e esticou as pernas, buscando aliviar a tensão sexual que sempre sentia nesse tipo de conversa com a noiva.  Faria o possível para passar pela casa de Nene mais tarde, ainda que fosse para um simples beijo.

Voltando a atenção para a lista de contatos sobre a mesa apanhou-a, indo até a sala adjacente conversar com Bedir e os outros parceiros sobre as estratégias de ação. 

Tinham muito trabalho pela frente. Leyla confirmara que o  papel encontrado junto aos corpos era compatível com o material produzido por alguns artesãos da região, incluindo Tarik. Tinham pela frente a tarefa de visitar um por um, levantando a lista de compradores diretos e possíveis revendedores do material. 

Precisavam encontrar, com urgência, alguma pista concreta que os  aproximasse mais do possível assassino. 

Benim günaha: minha tentação

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