Quando o fim é o começo

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AYLA

Tarik arrastou-a violentamente pelo braço até o lugar onde as copas das árvores se juntavam, escondendo o brilho da lua. A mente racional a instigava a fugir, mas o corpo parecia não reagir.

Durante o percurso, ele dissera coisas desconexas sobre fidelidade e respeito. Citara o nome de sua mãe, falando sobre um ritual e garotas. Agora recomeçara a falar, encostando-a contra o tronco largo de uma árvore. O som alto da queda d'água se misturava com o da voz entrecortada, atrapalhando a compreensão das palavras.

Sentindo a pressão do corpo pesado, tentou se esquivar. Ele fez um movimento brusco com a faca. A lâmina oscilante quase tocava a pele de seu rosto.

- Você ...- ele gritava, descontrolado - é minha! Minha, Ece! Só minha! Em todos esses anos eu nunca tive outra mulher na mente! Só você, Ayla...você!

Uma risada alta ecoou. Em instantes ele voltou a ficar sério, os olhos fixos nos seus. Tarik a prensou novamente. Tentou empurrá-lo. Em pânico absoluto, viu quando a lâmina afiada desceu na frente de seu vestido, rasgando parte do tecido até a altura dos seios.

- Você nunca deveria ter se afastado de mim, nunca.- a voz embargada surpreendeu-a. Ele estaria mesmo chorando?

- Sua anne...tudo culpa da sua anne!- a mão com a lâmia tentava apertar seu seio, causando-lhe dor. Chamou-o, na tentativa de que ele recuperasse a razão.

- Tarik, me deixa ir...

- Ir? Eu sou o seu noivo, Ayla! Eu e você vamos nos casar! - ele gritava, ensandecido- Você sabe o que é ser humilhado diante de todo o seu clã porque uma vadia decidiu que você não é bom o bastante? Eu seria o líder e você, a minha Ece...a minha rainha!

Ele usou as mãos para rasgar mais o vestido. Quase nua, espalmou o ventre, protegendo o bebê das investidas daquele monstro. Mas ele conseguiu empurrá-la, fazendo com que se deitasse. Gritou alto quando ele jogou o corpo sobre o seu, forçando-a a abrir as pernas.

- Não, Tarik! Não!

Quanto mais resistia, mais ele a apertava. Diante de suas tentativas de se defender, as mãos grandes envolveram seu pescoço, impedindo-a de respirar.

- Sâmia morreu por essas mãos, sabia? Ela quis tirar você de mim! Naquela noite, eu terminei o que seu baba não conseguiu fazer, só que... sua anne não morre, Ayla! Aquela bruxa sempre volta! Eu a matei, por você minha ece, só por você!

O que Tarik estava dizendo? Ele matara sua mãe? Flashes de luz estouravam diante de seus olhos, enquanto lutava para respirar.

- Elas morreram bem assim...todas elas... - as mãos pressionavam impiedosas, enquanto ele resfolegava.

Vencida, amoleceu o corpo. Pensou em Kemal, tão perto, inconsciente do que lhe acontecia. 

- Minha ece! Você é só minha, ece...- Tarik insistia em chamá-la de 'ece' enquanto a estrangulava.

 O som de um baque seco foi a última coisa que ouviu.

KEMAL

O anjo que o guiara na escuridão até o local exato para onde Tarik levara Ayla o abandonou no instante em que seus olhos se acostumaram às sombras. Aquele desgraçado estava mesmo deitado sobre ela? Guiado por uma fúria cega, precipitou-se em arrancar aquela besta de cima da noiva.

- Desgraçado! Eu vou matar você!

Seu grito não foi o bastante para alertá-lo de sua presença. Investiu, puxando-o furiosamente e arremessando-o de costas contra o chão. O bate forte da cabeça de Tarik ao cair de costas, deixou-o desacordado. Indiferente ao fato, iniciou uma sequência de socos violentos, não parando mesmo quando os nós dos dedos começaram a doer.

O anjo protetor Onde histórias criam vida. Descubra agora