Alcina DimitrescuO sangue daquele... daquele garoto...
Nada em séculos havia sentido tal gosto, sensação após bebê-lo. Ainda sinto este sangue correr por entre os vasos sanguíneos, e mesmo sendo uma vampira, consigo sentir isso.
Eu consigo sentir o gosto!
— Mãe... mãe? — Sentada em minha poltrona com as pernas cruzadas bebendo meu chá, pensativa, ouço me chamarem e acordo desses pensamentos.
Sem virar minhas costas, sinto a presença das minhas filhas atrás de mim. Mantenho minha compostura e semblante calma, tentando não deixar nenhum resquício de prazer à amostra.
— Algo errado, queridas? — Perguntei com um tom de voz doce nas palavras.
— Há uma porta no corredor ao lado dos nossos dormitórios. O cheiro forte que está saindo de lá... está nos deixando com fome. — Minha filha Cassandra diz com pouca paciência, esperando desde ontém a autorização para entrar no quarto, e, claro que isso vale para todas.
Creio que seja o corte que está deixando-as atiçadas por conta da fome intensa. Fui um pouco ingênua por conta da minha fome ter feito tal ato sem pensar. Fazem mesês que não bebem uma gota de sangue por conta dos Licanos.
Aquele Heisenberg... idiota! Ele com aqueles jogos colocaram não só a mim em uma situação difícil com o extermínio dos humanos do vilarejo, mas minhas filhas e por conta disso não temos mais sangue!
Não deixarei que minhas filhas tomem sangue daqueles bichos nojentos que agora se residem naquele vilarejo vazio. A Mãe Miranda tá passando muita sua mão na cabeça de Heisenberg, dando autorização para fazer o que bem entender.
Isso é inadmissível!
Espera... espera um pouco...
Além do frio, será que é por isso que aquele garoto veio ao meu castelo em busca de um abrigo seguro? Afinal... tinha quase certeza de que todos os humanos que se residiram lá foram todos mortos e massacrados pelos jogos do meu irmão.
Heller, ele agora é a salvação das minhas filhas. Claro que posso pedir o sangue para a Mãe Miranda, porém minhas filhas não aguentariam beber o sangue dela. São muitos sintomas que desconheço, não posso cometer este erro ao deixá-las beber algo deste tipo de sangue.
O sangue de Heller agora é precioso, além de ser o único humano permanecente ter um gosto tão doce e viciante. Aquele cheiro forte vindo do quarto aos poucos está me atiçando também. Preciso cuidar dele, assim poderemos beber seu sangue sem nos preocupar em matá-lo.
— Temos um visitante, queridas. — A dúvida é o que prevalece no cômodo, assim, continuo a falar. — Um humano. — Concluí e suas felicidades logo se fizeram presentes em suas faces.
As três começaram a me abraçar e agradecendo pelo presente que haviam ganho, porém, interferi me levantando com postura rígida e um semblante nada agradável.
— Minhas queridas filhas, tem algo importante para contar-lhes. — Desfaço da xícara de chá que não senti nem ao menos o gosto dela pelo sangue de Heller ainda estar presente em meu organismo.
Expliquei a todas o de porquê não termos mais sangue. O relato que dei à elas era como uma notícia que, enquanto estava a falar, o desagrado é escrito e expressado em suas faces. Raiva e tristeza por Heisenberg ter nos atingido e assim, acatamos a consequência de seus próprios atos.
Agora pagamos por isso com a fome que nos assola por este castelo. Além disso, posso muito bem beber sangue quando eu quiser vindo da Mãe Miranda, mas seria hipocrisia deixar minhas filhas de lado.
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Heller Dimitrescu
AdventureSob neves intermináveis que tocam o solo em todos os anos desde que um enorme castelo fora construído em frente ao nosso vilarejo. Nada e nem ninguém sabe o que aquelas paredes feitas de pedra guardam em seu interior. Luzes de velas sempre eram vist...