Bela Dimitrescu
Dentre torturas e mutilações causadas por minha mãe, as informações e motivos do porquê estar aqui agora é de nosso conhecimento. Ele tinha motivos para atirar em Heller apenas correspondendo aos seus instintos, cujo o mesmo significava perigo.
Tom de pele, face e postura era o que condizam. Não acreditamos nisso no começo, contudo, Heller realmente está mudando. A pele dele atualmente é tão branca quanto a neve e tão transparente quanto vidro, tal que eu conseguia ver suas veias perfeitamente alí. Pupilas turvas e dilatadas, seus olhos transparecia tanto cansaço que isso seria razão suficiente para acertar um palpite de que os vazos sanguíneos dos olhos estavam estourados.
Porém eis a pergunta: Esse seria mesmo motivo suficiente para ter medo de Heller?
Ter medo de alguém transparecendo estar doente? Frágil? Para mim não passou de uma piada que não deveria ser acompanhado de risada. Tolo seria a forma de pensamento.
As batidas na porta ecoam no meu quarto, meu nome é citado em seguida. Pelo tom de voz, nada disse quando ouço Heller me chamando, porém sua insistência em me deixar longe dos meus pensamentos me deixou mais irritada. Permito sua entrada para pará-lo de fazer barulho de madeira.
Após Heller entrar e fechar a porta que estava rangendo, ele tem minha atenção.
— Você está... — Um breve silêncio para encontrar suas palavras. — ... Triste? — Concluiu Heller com uma de suas sombrancelhas erguida.
— Eu pareço triste? — Perguntei demonstrando nenhuma expressão facial. Neutra até mesmo nos pensamentos.
— Tem algo que a incomoda? — Lentamente, Heller se aproxima e senta-se em uma das poltronas em frente a cama.
— Há varios fatores que me incomodam. — Decretei.
Heller nada disse quando cruzou as pernas e entrelaçou os dedos aguardando talvez uma explicação de cabeça baixa.
— Você Heller, é um grande incomodo. — O próprio ainda permanece na mesma postura e cabisbaixo, nada a dizer. — Quem... é você? O que é você? — Segundos esperando em um silêncio que me deixava mais irritada.
Decido me levantar da beirada da cama e ficar de pé em sua frente. O próprio não muda. Heller se encontra paralisado em sua posição na poltrona.
— Se veio até aqui para ficar sentado sem dizer nada, então qual o propósito de sua presença? — Perguntei fixando meu olhar ao topo de sua cabeça, Heller ergueu a mesma e lás estava aqueles olhos cansados.
— Queria saber como você estava. — Sentenciou seu motivo à mim.
— Como estou...? — Perguntei e o próprio assentiu. Essa pergunta valeu mais para mim tanto quanto foi para ele.
Como realmente estou? Em sentido de posição, decisão, emoção, razão e dentre outros fatores que agora cercam o interior e o exterior deste castelo.
— Você pode reformular a pergunta? — Heller levantou uma de suas sombrancelhas. — Acho que não entendi o sentido.
— Muito bem... — Suspirou forte, e com um breve silêncio pensativo, refez a pergunta. — Que tipo de máscara está usando neste momento?
"Máscaras?"
Isso é um tipo de piada ou uma lição de sermão?
— Você tá brincando comigo? — Ao término da minha fala, Heller se levanta e pousa sua testa contra a minha. Seus olhos arregalados me deixou estagnada e o próprio responde minha pergunta utilizando outra.
— Eu pareço estar brincando? — Com um semblante calmo, mas o tom de voz cortante, nada disse à ele e começei a pensar não importando o quanto durasse minha linha de pensamento.
As personas, os nossos "eu" são divididos por nossas mais variáveis pessoais e públicas comportamentais. Nossa persona pessoal existe por conceito como o autoconhecimento enquanto a persona pública deriva de máscaras.
Neste momento, estou usando qual máscara?
Um momento atrás estava usando uma máscara de filha à frente de minha mãe. Uma máscara de irmã ao lado das mesmas. Porém qual máscara devo classificar em frente à Heller?
Quando falo com ele, meu tom e atitude diferem dos demais. Isso significa que estou usando persona diferente. Nos livros aprendi que pessoas usam incontáveis máscaras em decorrer de suas vidas, tanto que, algumas delas podem impedir que sejamos honestos tanto para as pessoas ao redor, tanto quanto para nós mesmos.
Epictetus, um filósofo grego uma vez disse... "Recorda-te, tu és um ator em uma peça teatral chamada mundo, tu tens apenas um dever: Atuar bem no papel que lhe for dado."
Então...
— ... Sua... amiga? — Nada a expressar na face, Heller recua sua cabeça com postura ereta.
Sua mão aterrissou ao topo de minha cabeça, um sorriso de canto genuíno, mas acompanhado com um olhar de angústia, dor, insegurança, mal-estar e culpa.
— Em todos meus anos de vida, nunca tive uma amiga. — O carinho que Heller fazia na minha cabeça era satisfatório, suas mãos cheias de calo eram acolhedores.
— Não vai chorar? — Perguntei esboçando um sorriso no rosto ironicamente.
— Já chorei tanto que não há mais lágrimas para derramar. — Forçei as bochechas para permanecer o sorriso, pois um buraco se formou no peito.
Porém, volto a pensar no motivo de Heller estar aqui. "Como estou?" Hã...
— Culpada? — Pensei em volz alta. Minha atenção está indo por água abaixo.
— Culpada por não prestar atenção no momento que tivemos um invasor? — Não precisei dizer nada, apenas olhá-lo enquanto o mesmo continua a falar. — Posso estar errado, sei que a decepção não faz parte dos planos, seja seus ou meus. Eu sei que você não tem culpa de nada e se alguém tem a culpa também não sou eu. — Majestoso.
A palavra que define sua linha de pensamento, seu modo e forma de dizer. Majestoso e admirável.
— As vezes me encontro conversando com um velhote sábio. — Dei risadas.
— As vezes sou apenas uma criança brincando de ser um homem. — Deu risadas.
O silêncio prevaleu em longos segundos. O encarar de olhares me deixou em uma zona de constrangimento e vergonha em sua presença. Heller recuou sua mão, e após alguns segundo olhando em meus olhos, o próprio vira suas costas em direção à porta.
O momento ficou lento à minha visão. Como seu eu tivesse todo o tempo do mundo. Uma pergunta ainda se abrigava em minha mente.
— Espera. — Levantei a voz. Heller parou, mas não se direcionou seu rosto à mim. — Eu queria saber mais sobre você então... você pode me dizer algo que... que... — Tento encontrar palavras para dizer enquanto Heller ainda permanece no lugar. — Me diga algo incontestável de ti. — Ordenei querendo muito saber.
Heller virou-se para mim, e com nada a expressar, fez seu comentário.
— Prefiro ser odiado do que odiar, prefiro ser morto do que ter o gosto de matar. — Terminando com um sorriso no rosto, o próprio abre a porta e sai da minha presença.
Suspirei forte e aliviada. Que bela conversa que tive agora... metade dos meus pensamentos foram embora, deixando minha mente mais leve. O sentimento de culpa realmente pesou.
Obrigada, Heller.
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Heller Dimitrescu
AdventureSob neves intermináveis que tocam o solo em todos os anos desde que um enorme castelo fora construído em frente ao nosso vilarejo. Nada e nem ninguém sabe o que aquelas paredes feitas de pedra guardam em seu interior. Luzes de velas sempre eram vist...