Bela Dimitrescu
Enquanto Duque citava as palavras do conto Vilarejo das Sombras, fiquei estagnada, apenas vendo seu maxilar em movimento, as palavras sendo ouvidas em alto e bom som. Minha atenção toda voltada para ele.
— "Mãe Miranda". — Nesse instante, nossa mãe entrou na sala de Duque, seu semblante nada convidativo, mas após olhar para nós, muda rapidamente.
— Perdoem-me a interrupção, filhas. — Declarou nossa mãe com um sorriso no rosto. — Mas preciso ter uma conversa breve com Duque, cê não se importarem. — Retornou seu olhar ao próprio, onde agora está com um cachimbo
Apenas saímos da sala por alguns segundos pensando em quais motivos nossa mãe teria uma conversa com Duque, pois sabemos que os negócios não vão bem. Tanto quanto economia, tanto quanto relação.
Não devemos e nem queremos negligenciar as ordens de nossa mãe. Assim, saímos do cômodo. Cassandra e Daniela foram fazer algo ou voltar para seus quartos, mas sinto um cheiro familiar e ouço passos no segundo andar.
Me transformo em um enchame de insetos e me direciono até a biblioteca. Vejo Heller segurando um livro no andar superior, volto a minha forma original.
— É ótimo vê-lo bem, Heller. Ao menos aparentemente... — Apresento à ele um sorriso de canto.
— Não pude agradecê-la antes pela costura. — Heller fixa seus olhos aos meus. — Mesmo que fosse em vão... obrigado pelo seu tempo se preocupando comigo. — O alívio em sua voz é fraco, talvez ele se sinta culpado por isso.
— Não. — Afirmei. — Foram... foram apenas ordens. — Direciono meu olhar para o andar de baixo escondendo ambas as mãos em minhas costas.
O momento de silêncio toma conta entre nós, Heller vira suas costas e volta para o que estava fazendo. Com passos lentos, parece que um chamou-lhe atenção, o que por entre séculos também sempre fez o mesmo comigo.
Me conforto colocando meu queixo no ombro de Heller e me certificando que sim, é realmente este o livro que me fez querer saber mais sobre um romance, seja ele trágico, seja ele doce. As palavras que usei para com esse livro não foi tão inabalável quanto queria.
Movo minha cabeça para o lado e testa com testa assim como a ponta dos narizes se tocando. Olhei Heller nos olhos.
— Parece que os livros não descrevem tanto as sensações que sinto agora. — Disse formando um sorriso de canto e retornando o olhar e cabeça em direção ao livro em suas mãos. — Esse é um dos meus favoritos. — Concluí minha fala e me afastei lentamente.
Obviamente uma mentira...
Ainda com meus olhos direcionados à ele, o próprio abre o livro um pouco preocupado, deveria ser com as opiniões de minha mãe para poupar um pouco de tempo? Bom, faz sentido, admito mas...
— Por que não largamos os livros e façamos um? — Perguntei virando minhas costas e descendo as escadas até o andar inferior da biblioteca, parando no centro dela.
Um pequeno palco. Minhas irmãs e eu adorávamos usar isto, mas com o tempo nossos gostos foram mudando, assim como a mudança de paladar.
Acho que o livro no qual deveria tirar inspiração seria o que Heller esteja segurando agora.
Ok, vamos lá...
— Venha aqui! — Coloco meu tom cortante na voz e apontando com o braço direto junto com o dedo indicador para o chão e vejo Heller surpreso com aqueles olhos arregalados.
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Heller Dimitrescu
AdventureSob neves intermináveis que tocam o solo em todos os anos desde que um enorme castelo fora construído em frente ao nosso vilarejo. Nada e nem ninguém sabe o que aquelas paredes feitas de pedra guardam em seu interior. Luzes de velas sempre eram vist...